quinta-feira, 22 de maio de 2008

POR QUE ESCREVER?

Por que escrever?
Sinto em mim infinitas formas de querer que provocam evoluções em minh’alma. Evoluções que podem significar motivos, estímulos ou momentos marcantes e doídos. Umas, querendo ser transformadas simplesmente em palavras, outras, apenas ditadas e confidenciadas somente ao meu coração. Algumas, porém, dando vontade de pedir emprestado ao anjo de Drummond, um lugarzinho no país de quem, é “gauche” e ser, algumas vezes, andarilha de caminhos desafiadores e de mágicos labirintos borgeanos até encontrar espelhos, ultrapassar a minha própria imagem parta ver mundos abertos e o encontro comigo mesma, no mesmo espaço que deu à Alice do país de Lewis Caroll, a certeza de sua essência.
Mas, por que escrever?
Sinto que há em mim, muitas causas para traduzir os desejos em palavras. Pode ser uma maneira de exorcizar algumas mágoas e frases que teimam em caminhar junto comigo, de esquecer as dores físicas que impulsionam o duelo do anímico com o físico, de descrever as sensações que explicam a vida, recordar palavras que podem transportar a ala para o enigmático mundo dos poetas, eternos sonhadores ou para o desencantado espaço criando por Dante num desesperado contar à sua amada Beatriz...
Por que escrever?
Para expor dores ou prazeres, tirar a agonia que impede a respiração e aperta o coração?para anestesiar lembranças que insistem em permanecer reais na mente ou pedir aos deuses uma pausa de sobrevivência?
Por que escrever?
O que estimula esse desejo de criar pensamentos, esclarecer dúvidas, atestar verdades que sobrevoam o espírito e afetam o corpo?
Serão as vozes, companhia constante de solidão, que chegam silenciosas aos ouvidos estimulando até atitudes, antes nunca tidas, numa espécie de gritos de alerta para não permanecerem enganadas? Ou a mágica da inspiração cedida pelos anjos ou mestres?
O que faz a vontade de escrever?
A vida e suas descobertas, a consciência do crescimento, a infância e a adolescência adormecidas e a maturidade iluminada? Ou a velhice sábia?
Sinto que em mim habitam muitas vontades, querências, decepções, alegrias, dores e desesperanças impulsionando o ato de escrever.
Descrever o quê? A minha vontade de escrever?! A visão de mitos sendo derrubados? O pranto provocado pelas atitudes de certos ícones desfalecidos e desnudos?O o desespero de ver fragmentos de projetos jogados aos pés?
Escrever sobre o quê?
Sobre o riso que impõe parâmetros para a incredulidade de certos deslizes humanos? Sobre a dor de embalar nos braços os sonhos de construção destruídos, a busca do fim do túnel de Kurosawa, que é desejo natural de quem não acredita mais nas três moedas jogadas ao poço? Ou sobre a beleza de pequeninos momentos naturais e divinos que podem ser esperança para quem ainda a procura?
Para que escrever?
Para jogar ao alto as ilusões, que são varridas pela realidade que a Faxineira tanto questiona? Ou para mumificar a dor que a felicidade efêmera, em certos momentos, nos presenteia ( às vezes, provocando espasmos de dor...), enganando o coração e brincando de faz-de-conta?
Para que escrever? Por tantas razões...

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