terça-feira, 31 de março de 2009

Mensagem de DAMIANA GOMES



Publicada em 22/03/2009.Diário de Ilhéus.

coluna de JOSEVANDRO NASCIMENTO-




Publicada em 22/03/2009 - Diário de Ilhéus

segunda-feira, 30 de março de 2009

MEU HERÓI!


Agradeço a Deus a dádiva de ter convivido com meu pai, José Lourenço, até os 86 anos de idade, quando ele, no dia a dia, me dava lições de cidadania e amor ao próximo carente.

REQUIEM PARA O CORDEIRO QUE PRECISA DESCANSAR


É preciso silêncio para a sua passagem, porque ele está cansado.
Com fragilidade de um pássaro, foi o guerreiro na luta pela vida, porque acreditava que ainda tinha muito a fazer...
Era um cordeiro na forma de calar, sofrer em silêncio, esquecer desencantos.
Lutou pelo sopro vital que lhe restava, sob o alicerce de tantas vidas iluminadas que sofriam a perda antecipada e choravam em silêncio, porque sabiam que iria descansar,
porém, lutavam pelo cordeiro que precisava descansar...

Por favor, façamos silêncio!

Ele precisa descansar, ser acalentado nos braços de Deus, ouvir os acalantos dos anjos,sorrir com novas travessuras de novas companhias, buscar apoio de arcanjos para novas lidas, mas, antes, ele precisa descansar e o silêncio é a mais perfeita forma de amar.

Por favor,façamos silêncio!

O cordeiro precisa dormir sem os artifícios encontrados para desaparecerem suas dores, artifícios que podemos chamar de atos de amor.
Ele precisa dormir sossegado, pois está indo a caminho de novos desafios, sonhar com novas construções, agradecer por novas conquistas.

Mas, agora, ele precisa descansar, reencontrar seres especiais, afagos divinos!

Por favor, façamos silêncio por ele!

Deixemos que ele abasteça sua alma, sonhando com tantas mãos iluminadas, tantos olhos marejados de lágrimas, tantas palavras de amor que lhe embalaram em sua purificação pelo grandioso e inesquecível sentimento amoroso,porque, guerreiros, queriam lutar pelo cordeiro que precisava descansar...

Façamos silêncio por ele!

É preciso que fique encantado para agradecer aqueles homens de Deus lutando por sua vida, correspondendo às suas crenças de que naquele ambiente existia competência e dignidade.
É preciso deixá-lo livre para despedir-se de cada um que lhe acompanhou nas décadas que viveu na Casa Beneficente e que era de Misericórdia.
Eram seus elos de amor, suas muletas afetivas e emocionais que lhe ajudavam a andar...
Mas, agora, ele repousa seu cajado ,porque precisa muito descansar, sobrevoar outros céus, tocar em outros lugares e transformar outras construções que não abrigarão maldade, traições, desamores.

Por isso, façamos silêncio por ele!

É preciso cautela. O guerreiro tão frágil fisicamente tem a força inesperada dos homens de bem que acreditam em Deus e embalam o sofrimento como purificados degraus na espiritualidade.

Suas pequeninas chagas precisam desaparecer lentamente,porque nasceram da vontade de homens iluminados que queriam lutar, lutar, lutar por sua vida.

Façamos silêncio!

Em nome deste cordeiro que precisa descansar, com tranqüilidade e desconhecia a dor de dizer “não”,aprendamos com ele e façamos silêncio para aqueles que , menores, num certo momento,deixaram de ouvir sua frágil voz pedindo ajuda e disseram-lhe “‘não!”;
para quem( poucos) sorriu com sua fragilidade nos passos que ficaram cambaleantes num certo momento de sua vida;
para quem negou a ação que lhe acalmaria, “porque respondia por outro espaço”, mesmo que sendo o espaço que foi uma luta daquele guerreiro que precisava de ajuda...;
peçamos misericórdia para quem desprezou a idade e a circunstância do seu último momento de lucidez,porque não se cai porque quer...
Façamos silêncio pelos menores que alimentavam, e continuarão a alimentar, a cultura de corredores,porque não crescerão, jamais.

É preciso silêncio para o homem que calou a voz,mas, pelas ações, deixou legados para cada pessoa que conviveu com sua vida.
Ele vai descansar...

Mas, antes que adormeça e seja acalentado por Deus, aplaudamos, por instantes, o homem que se muda para outros céus.

Aplaudamos a grandiosidade do amor que ele guardava no coração para sua companheira por 61 anos, a quem dedicou suas ultimas palavras num desejo desesperado de proteção e fechou os olhos e calou sua voz para sempre.

Mais uma vez, por favor, façamos silêncio para o cordeiro de Deus ir em paz!

sexta-feira, 20 de março de 2009

CLARICE LISPECTOR

Deus meu eu vos espero, Deus, vinde a mim, Deus, brotai no meu peito. Eu não sou nada, e a desgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas, e eu continuo a sofrer - afinal o fio sobre a parede escura -. Deus, vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e Deus, porque não existes dentro de mim? Porque me fizeste separada de ti? Deus, vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites. Ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento em cada minuto que passa. Sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece, me teme e eu sou pequena e pobre. Não saberei que existi daqui a poucos anos. O que me resta para viver é pouco, e o que me resta para viver, no entanto, continuará intocado e inútil. Porque não te apiedas de mim, que não sou nada? Dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que preciso, e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas. Vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, e a desgraça é sempre. Beijo teus pés e o pó dos teus pés. Quero me dissolver em lágrimas. Das profundezas chamo por vós, vinde em meu auxílio que eu não tenho pecados. Das profundezas chamo por vós. E nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça - eu não sou nada -. Das profundezas chamo por vós. Das profundezas chamo por vós. Das profundezas chamo por vós. Das profundezas chamo por vós.

Não, não, nenhum Deus, eu quero estar só. E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente, seguramente, inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento. Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro. Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante; sempre fundido, porque então viverei, só então serei maior que na infância, serei brutal e mal feita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas. Ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a compreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte sem medo de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.

(* Trecho extraído do “Perto do coração selvagem”)

terça-feira, 17 de março de 2009

Mulheres que correm com os lobos (Clarissa Pinkola Estés )

MULHERES

Passei por duas experiências decisivas quando estava com vinte e poucos anos,experiências que contrariavam tudo que me haviam ensinado sobre o corpo até então.Quando estava num seminário de uma semana de duração para mulheres , á noite junto ao fogo e perto de fontes terminais, vi uma mulher nua com cerca de 35 anos.Seus seios estavam murchos de amamentar;seu ventre estriado de dar a luz. .Eu era muito nova e me lembro de ter sentido pena das agressões pela sua pele fina e clara.Alguém estava tocando tambores e maracas, e ela começou a dançar, com o cabelo, os seios, a pele, os membros todos se movimentando em direções diferentes.Como era linda, como era cheia de vida.Sua graça era de partir o coração.Eu sempre havia ridicularizado a expressão "furacão nos quadris".Naquela noite, porém vi um exemplo.Vi o poder das suas ancas.Presenciei o que me haviam ensinado a ignorar;o poder do corpo de uma mulher quando é animado de dentro pra fora.Quase três décadas mais tarde, ainda posso vê-la dançando no escuro e ainda sinto o impacto da força do corpo.
O segundo despertar envolveu muito mais velha. De acordo com padrões vigentes, seus quadris eram excessivamente parecidos com pêras,seus seios eram ínfimos em comparação,e suas coxas eram totalmente cobertas por finíssimas veias arroxeadas.uma longa cicatriz de alguma cirurgia grave circundava seu corpo,indo desde a coluna vertebral até as costelas, como um corte pra descascar maçãs. Sua cintura devia ter a largura de quatro palmos.
Era, portanto, um mistério o motivo pelo o qual os homens zumbiam a sua volta como se ela fosse um favo de mel. Eles queriam morder suas coxas de pêra, lamber aquela cicatriz, segurar aquele peito,descansar o rosto nas teias da suas
varizes. Seu sorriso era deslumbrante;seu caminhar, extremamente belo.E quando ela olhava, seus olhos realmente absorviam o que estavam vendo. Vi novamente o que me haviam ensinado a ignorar, o poder no corpo.O poder cultural do corpo é a sua beleza, mas o poder no corpo é raro, pois a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou com sua vergonha da própria carne.
Tendo em vista o exposto, a mulher selvagem pode pesquisar a luminosidade do próprio corpo e compreendê-lo, não como um peso morto que estamos condenados a carregar por toda vida, não como uma besta de carne, mimada ou não,que nos carrega por aí pela vida inteira,mas como uma série de portas, sonhos e poemas através dos quais podemos obter todo tipo de aprendizagem e conhecimento.Na psique selvagem,compreende-se o corpo como um ser por seus próprios méritos, que nos ama, que depende de nós, para quem, de vez em quando, somos a mãe e que, de vez em quando, representa a mãe para nós.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Quando a lembrança é bonita...

“ Mas tua imagem, nosso amor, é agora menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora.
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
“parece um sonho que ela tenha vivido !”

Mário Quintana