segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

MONÓLOGO DE DESENCANTO DE UMA MULHER QUE ESPIAVA PELA JANELA, NUM MOMENTO DE LEMBRANÇA E DE RENASCIMENTO.

“Cessam os passos de quem caminhou pela vida fazendo o bem”
(Dorival Freitas)
Para meu pai, José Lourenço da Fonsêca Silva

Perto de comemorar uma data que simboliza a reflexão de nossos atos, quando relembramos o nascer de Alguém tão poderoso porque, até hoje representa o Amor, quedo o meu ser tão cansado de espantos para, pasma, constatar que ainda pode acontecer mais e mais.
Temerosa pelos indignos, que desconhecem a condição de igualdade de todo homem, espanto meus medos e minhas angústias, olhando o mar e penso na Faxineira de Ilusões que precisa limpar, desinfetar e neutralizar tanta sujeira... E sinto temor.
Daqui do alto de uma colina, caminho por um espaço em que estão adormecidos tantos amados das gentes do povoado, e, talvez pela saudade ou pela necessidade de conversar, recordo, em silêncio, de um ser especial que precisou descansar.
Era preciso ele adormecer...
Que bom estar dormindo agora, o ser que amava todos e distribuía amor a quem necessitava, porque acreditava no caminhar de pureza e luz, só alcançado com atos de solidariedade e amor ao outro.
Que bom estar num espaço onde inexiste o esquecimento, as dores, magoas e ingratidões!
Que bom estar aquietado na condição de Ser Espiritual que,acima de tudo, tinha misericórdia e sabia estar certo na trajetória de santas ações!
Muitas coisas mudaram desde o dia em que o ser especial se foi.
Como mudaram!

Perto de comemorar um Menino que ser tornou Homem e depois Santificado, reflito sobre “ quem caminhou pela vida fazendo o bem” e busco respostas para assimilar o que ele tanto nos ensinou, não só com palavras, mas, com ações! E aparecem em meu coração muitas perguntas...
O que faz uma pessoa humilhar outras numa função, que deveria ser importante, mas, que acredita ser poderosa?
Só por guardar, de maneira inadequada, sem identificação e sem educação, uma porta, precisa interpelar com puxão de roupa? Desacreditar que se está precisando de socorro?
Só por estar no alto de um lugar, pode-se sentir grandioso?!
O que a faz desconhecer a condição E os humildes que forem assim recebidos? Reagirão? Claro que não. Ficarão humilhados!
Passo diante de uma casa que me lembra saudades e amor. Saudades das passadas que um dia foram jovens e subiam com tanto vigor uma rampa; depois, lentamente,mas inebriadas e amparadas pelo amor e solidariedade.
Paro , observo e amparo a minha saudade nas recordações de que deu passadas fazendo o bem e continuo sem respostas por algumas ausências que já estão constatadas.

Perto de comemorar uma data que simboliza a reflexão de nossos atos, quando relembramos o nascer de Alguém tão poderoso porque, até hoje representa o Amor, calo o meu pranto e observo a Faxineira de Ilusões que, ágil, espana dissabores, enxágua palavras ruins, tenta apagar a tinta que escondeu os sinais de homenagens que saíram do lugar, polindo as marcas de quem as tirou para ficarem eternizadas pelo olvidar.
Mas, como a Luz de quem é relembrado em dezembro amplia seus domínios, vejo que um ato honesto e grato pelas passadas de quem agora adormece,descansando, estará sendo anunciado em dias.
É o que importa.Saber que quem foi amor não será esquecido.Saber que o exercício de cidadania exige memória!.

O VOYEURISMO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES

Após um grande descanso, retorno ao meu trabalho.
varrer...aspirar...limpar...polir... banir...
Sou uma faxineira! Faxino ilusões para transformá-la em vontades realizáveis.
Volto à casa que me dá condições de entender muitas coisas da vida, de enxergar tantos fatos que nem pensava existir...
Quem é essa mulher que reencontro num ambiente tão meu conhecido, que escreve,olha fotos,relembra, chora, sorri, fica triste, fala(escrevendo!!!) com seres invisíveis, consegue colocar vivas, algumas mulheres-poetas que já se foram através de diálogos imaginários e continua com a mesma essência na alma, com o mesmo amor incontido e encantado?
Por que está lendo...lendo...lendo uma única frase: “a bordo de sua vida, me fiz um passageiro eterno” e conversa com uma Menina, que não consigo enxergar?
Que força invisível envolve essa mulher que não consigo ver com quem ela fala?
Escuto...Perscruto...Enterneço o meu coração de mulher sofrida e de mãos calejadas pelo trabalho e espio pela porta de seu canto preferido...
Com quem ela conversa? Por que desabafa tanto para quem não vejo? Quantas interrogações a escondem de mim?
Quem é a menina que a ouça tanto chamar?
Sou faxineira...Mas, preciso saber.
Sou faxineira, mas...
...Como é que posso varrer... aspirar...limpar?
...Como é que eu posso sair varrendo desesperanças, limpando dores anímicas, aspirando saudades insuportáveis que modificaram essa mulher que eu espio?
Quem é essa Menina?Que encanto tem, para “prometer” à lua tantas coisas?
Quantos enigmas preciso decifrar para poder entender essa mulher que agora não conheço mais?
Sou faxineira...
Preciso varrer... Limpar... Enxugar.
Mas, é preciso escutar, escutar, escutar!E ser “voyeur”...



Como ser faxineira, se não posso limpar sentimentos, abrandar a solidão e a saudade que se agigantam no coração dessa mulher?
Como?
Se tudo que a alma abriga, requer cuidados especiais só possíveis, para quem tem permissão e são apenas dois? Se presencio a mulher que fala com uma Menina e sente um amor grandioso, capaz de sobrevoar a capacidade humana e faz do sofrimento a força necessária para prosseguir?
Como ser faxineira, se não posso banir o que aflige tanto essa mulher?
Escuto, ouço o diálogo (imaginário? real?) dessa mulher com a menina que não vejo...
Quem é você, menina, que um dia lhe contou a história da ludicidade do amor e hoje foge de uma verdade tão latente, deixando sinais de saudade, dor e angústia e deixa a mulher no caos?
Em que mundos se situa a sua essência, que teme o descontrole de um sentimento tão grande, que reconstrói e refaz a alma?
O que lhe angustia?
Por que não descansa na perenidade desse querer e deixa as turbulências assentarem, os dias (mesmo que, no momento, esteja com desesperanças) passarem, pois está respaldada na poesia que chegou e, então, aguardar novas fases?
Onde está, que esquece tudo que leu, as promessas feitas sob e sobre a lua e dilacera um coração?
Por que insiste em se esconder de sua vida que lhe pede um pouco de atenção e tem forças para lhe reanimar?
Quem é você, menina? Cadê a branca-de-neve de Gullar, que não escuta o recado dele e de mais alguém? “A vida bate”, como diria o poeta alagoano.
Em que lugar está adormecida, que não escuta as próprias palavras sobre o último momento de entrega absoluta?
Como fecha os olhos para não ver Vênus?
Como esquece da declaração que fez à lua, dela ser a sua esperança de reencontrar o que lhe foi negado durante toda a sua caminhada?
Quem é você, menina?
Por que deixa ficar triste essa mulher que tanto lhe protegeu?
Como ser faxineira, se não posso limpar as dores dela que chora saudades diferentes e sente a lancinante dor da solidão destruindo suas entranhas?
Preciso retornar ao meu trabalho, fechar a porta que me lançou a um mundo de poesia e utopias para não perecer.
Preciso varrer...aspirar...limpar...polir... banir...!

Érico Veríssimo

" Nunca abra mão de seus sonhos - pois se eles morrem, a vida se torna como um pássaro de asa quebrada,que não pode voar "

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Guimarães Rosa:

" Mire e veja: o importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas- mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Para pensar...

" É a imagem na mente que nos une aos tesouros perdidos, mas é a perda que dá forma à imagem"( Colette)

"Nenhuma dor é tão mortal quanto a da luta para sermos nós mesmos" ( Ievguêni Vinokurov)

" Pois o erro gerado nos ossos
de cada mulher e cada homem
deseja o que não pode ter.
Não o amor universal,
mas ser amado sozinho" ( W.H.Auden)

" Envelheço...envelheço
passarei a dobrar para cima a bainha da minha calça" (T.S.Eliot)

"

Para pensar...

Quando o etnólogo e antropólogo estruturalista belga Claude Lévi-Strauss recebeu,aos 97 anos, em 2005, o 17o Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha, declarou :

"Fico emocionado porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".

Ele não gostou da Baía de Guanabara:
“O Pão de Açúcar, o Corcovado, todos esses pontos tão louvados parecem ao viajante que penetra na baía como tocos de dentes perdidos nos quatro cantos de uma boca banguela”.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para pensar...

" Quando o poder da síntese desaparece da vida dos homens e quando as antíteses perdem sua relação vitak e seu poder de interação e conquistam a independência, é então que a filosofia se torna uma necessidade sentida"
( G.W.Hegel)

" O que a Lagarta chama de fim do mundo, o Mestre chama de Borboleta"
(Richard Bach)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


A MANHÃ DE SOL E A MORTE DA BORBOLETA
(Devaneios da Faxineira de Ilusões)
( foto de Rhett A. Butler)

Aqui estou, essência que sou eu e ainda se chama vida, madrugando como a manhã de domingo que já chegou com a sua jornada extasiando a quem ainda respira e sobrevive aos combates interiores que acontecem independente da vontade, pois chegam enluarados, enganam a alma fazendo-a uma só paixão...
Aqui tudo é silêncio. Como silenciosa está a minh’alma que se protege dos turbilhões para não mais acordar um atônito ser que um dia acreditou em tantas coisas e sequer se viu por pura ilusão.
Mas, a madrugada chega dizendo de luz! O céu agonia de tão bonito e manda-me pitadas de estrelas em plena manhã que se iniciará como se dissesse que a esperança não é só aquele pequenino animal, frágil e belo- uma esperança – que numa noite pousou em meu teclado.Pode ser um sentimento revirado pelo avesso, para não ser mais estúpido e inconseqüente.
Os recados vão chegando: raios de sol que invadem o espaço criador inebriam os olhos de quem não tem mais nada para espreitar e constroem minúsculos pontos- réstias iluminadas- que me cegam para a beleza de uma manhã tão bonita, meus outros eus (pessoanos?) que tentam empurrar a melancolia para longe, porém, fragilizados, não podem ir adiante; migalhas de amor em forma de amizade duradoura e que me diz estar viva; presença dos meus cantantes que festejam o ensolarado domingo.
Todos recados chegando até mim...

Um fato inusitado , porém, vem contestar a beleza desta manhã: uma borboleta pequenina entrou por minha janela, acomodou-se na parede branca, destacando-se por ter o vermelho e o negro como domínios de sua existência.E, como num tango de Piazzolla, ela dança tragicamente, esvaindo-se em movimentos silenciosos, dolorosos, sofridos, observados apenas pela espectadora que se espelha em sua dança de extermínio.
Lutar...Tentar...Desistir...Lutar mais uma vez.
Enalteço a vida que já se finda diante de mim, asas fazendo movimentos quietos, lentos, lutados, por uma improvável sobrevivência e recordo outras bailarinas, mulheres que morreram lentamente, alçando vôos inimagináveis em sua arte e sucumbiram de amor, tristeza e paixão.
Eu-espectadora absorvo o sofrimento do pequenino ser negro e rubro que traduz a angústia de não mais ter tempo para viver e me pergunto: por que escolheu o meu espaço para perecer?
De que céus terá vindo e o que aconteceu para que aquela trágica e alada bailarina fizesse os seus últimos gestos diante de mim que me vejo em seu contorcido esforço para continuar voando?

Uma borboleta rubro-negra chegou em minha janela contrastando com o sol, como uma lição de vida.
Lutar...Tentar...Persistir...Descansar.
Uma borboleta que desistiu de ser guerreira executando o seu vôo derradeiro numa lenta queda de asas negras, manchadas de vermelho...
Eu-espectadora, silenciosa como a minh’alma (mesmo que salpicada de estrelas em pleno dia amanhecendo), observo a pequenina bailarina cair, cair, cair e, solenemente, adormecer em paz. Enfim!
E, reverenciando aquele momento, acolho a pequenina borboleta, com as mãos em concha e guardo,numa caixinha de música, como um amuleto, a bailarina que entrou por minha janela, acomodou-se na parede branca, e, como num tango de Piazzolla, dançou tragicamente, esvaindo-se em movimentos silenciosos, dolorosos, sofridos, para eternizar o seu sono.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O mundo dos sonhos


Em que momento a vida parou para você, que quase ninguém percebeu?
Em que mundo estranho, oculto e doloroso você se escondeu e não permitiu que penetrássemos em sua consciência e lhe acordasse?Ou será que a própria natureza ficou encarregada de ser lenitivo para as suas dores e lhe deu asas para ir até ele?
Em que consiste a irrealidade do seu cotidiano que passeia pelo passado, descansa no presente e esquece que o futuro pode existir?
Por que o seu olhar tão aflito e impessoal bate n’alma e ressoa como um grito de socorro e induz outros olhares, na impotência de ações, ficarem baixos?
Em que mundo você está que não nos deixa entrar?
O que a bloqueia em seus pensamentos, nas frases elaboradas e incoerentes que são pura aflição para quem a observa?
Por que não chega até a sua memória as certezas que teve na vida e as suas lembranças e deixa a dor do abandono ir embora?
O que fez o seu mundo particular usar a fantasia da espera que não tem chegada, a dúvida que nunca será sanada, a dor da saudade que fica mais intensa?
Por que a vida parou para você e impediu alguém mudar o ritmo dela e não ver o sofrimento no olhar vago, nas passadas incertas buscando quem não volta mais?
Em que momento você viajou para o mundo que não podemos atingi-lo?
Por que não volta?
Por que acelera seus sonhos confusos para um mundo que só você pode voar?
Por que não volta?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O LAMENTO DA MULHER QUE ESPIAVA PELA JANELA E VIU A LUZ.

Escancarar a janela para ver a vida que passou e que em cegueira total não foi permitido encarar a realidade.
Talvez o que sentiu não foi enxergado e ficou sem sentido, impedindo a visão do mundo e das pessoas e levando a sua alma ao caos.
Talvez por isso será preciso refletir muito (pois tem pouco tempo), pensar no que não teve tempo de construir, no que ainda poderá fazer, acertar no que deixou errar e sentir a alegria de olhar e ser olhada, simplesmente.

Escancarar a janela para respirar a vida em seu amor maior que é o sentimento nascido, ramificado e eterno. E, mesmo que fique não fique mais presente, esse amor ficará nas ausências, porque o que se cria com certezas não se abre crateras para esconder.

Escancarar a janela e ver a vida passar de forma mais ampla e iluminada. E esquecer que a espiava pela janela com medo de aparecer e nunca ter sido vista, apenas olhada.
Escancarar a janela, deixar a luz entrar, fechar caixas, abrir armários e juntar os trapos que restaram do seu cotidiano e refazer a vida. Fazer do patrimônio intelectual que com muito amor cuidou, novas raízes para outros seres que gostam de aprender. E sentir saudade feliz,pois homens e mulheres deixaram idéias para serem divulgadas e serão preservadas.

Escancarar a janela e sair do drummoniano espaço que vivia para conhecer a luz da esperança, da valorização, do sentimento humano, da querência e da afetividade.
Porque ainda existe tempo para abrir portas e janelas das varandas,mesmo que as ações sejam realizadas em total solidão.

Escancarar a janela do mundo que me feriu, respirar a saudade que sentirei do paraíso que me fechei e não abrir o coração para culpas por não ter aprendido a cuidar do mundo inteiro oferecido às vidas que conviver, como o lendário Atlas.
Não temer ao escancarar a janela para ver a luz e se enxergar melhor. Não ferir o sentimento que ainda existe, não criar a alcunha de censores inexistentes que poderiam ser interpretados com chamados de presença.

Escancarar a janela e acordar, mesmo que no meio de uma noite, chorando de saudades do que acreditou e não existiu. Porque o sonho é real para quem o cria.
Escancarar a janela e inebriar de luz todo o ser para não me perder e não ver fugir o encanto.
Escancarar para preservar os cheiros que compõem a vida, para soltar os gritos que me deixaram rouca e encarar os meus anjos entristecidos que querem me colocar no colo.

Escancarar a janela que me oprimia e fechar meus olhos para me acostumar com a luz que entra no espaço que ficou tanto tempo fechado e não me assustar quando a realidade dos dias que passam começar a sangrar.
Ver que a Faxineira de Ilusões poderá me ajudar e aspirar, limpar e aspergir tudo que me angustiou e alertar ao meu coração o que Gullar profetizou, “ essa não é apenas mais uma dor, é meu mundo vazio que tenho que carregar dentro de mim”.
Escancarar a janela e não mais espiar. Não desistir de mim.
24/09/2009.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O VOYEURISMO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES

Após um grande descanso, retorno ao meu trabalho.
varrer...aspirar...limpar...polir... banir...
Sou uma faxineira! Faxino ilusões para transformá-la em vontades realizáveis.
Volto à casa que me dá condições de entender muitas coisas da vida, de enxergar tantos fatos que nem pensava existir...
Quem é essa mulher que reencontro num ambiente tão meu conhecido, que escreve,olha fotos,relembra, chora, sorri, fica triste, fala(escrevendo!!!) com seres invisíveis, consegue colocar vivas, algumas mulheres-poetas que já se foram através de diálogos imaginários e continua com a mesma essência na alma, com o mesmo amor incontido e encantado?
Por que está lendo...lendo...lendo uma única frase: “a bordo de sua vida, me fiz um passageiro eterno” e conversa com uma Menina, que não consigo enxergar?
Que força invisível envolve essa mulher que não consigo ver com quem ela fala?
Escuto...Perscruto...Enterneço o meu coração de mulher sofrida e de mãos calejadas pelo trabalho e espio pela porta de seu canto preferido...
Com quem ela conversa? Por que desabafa tanto para quem não vejo? Quantas interrogações a escondem de mim?
Quem é a menina que a ouça tanto chamar?
Sou faxineira...Mas, preciso saber.
Sou faxineira, mas...
...Como é que posso varrer... aspirar...limpar?
...Como é que eu posso sair varrendo desesperanças, limpando dores anímicas, aspirando saudades insuportáveis que modificaram essa mulher que eu espio?
Quem é essa Menina?Que encanto tem, para “prometer” à lua tantas coisas?
Quantos enigmas preciso decifrar para poder entender essa mulher que agora não conheço mais?
Sou faxineira...
Preciso varrer... Limpar... Enxugar.
Mas, é preciso escutar, escutar, escutar!E ser “voyeur”...
Como ser faxineira, se não posso limpar sentimentos, abrandar a solidão e a saudade que se agigantam no coração dessa mulher?
Como?
Se tudo que a alma abriga, requer cuidados especiais só possíveis, para quem tem permissão e são apenas dois? Se presencio a mulher que fala com uma Menina e sente um amor grandioso, capaz de sobrevoar a capacidade humana e faz do sofrimento a força necessária para prosseguir?
Como ser faxineira, se não posso banir o que aflige tanto essa mulher?
Escuto, ouço o diálogo (imaginário? real?) dessa mulher com a menina que não vejo...
Quem é você, menina, que um dia lhe contou a história da ludicidade do amor e hoje foge de uma verdade tão latente, deixando sinais de saudade, dor e angústia e deixa a mulher no caos?
Em que mundos se situa a sua essência, que teme o descontrole de um sentimento tão grande, que reconstrói e refaz a alma?
O que lhe angustia?
Por que não descansa na perenidade desse querer e deixa as turbulências assentarem, os dias (mesmo que, no momento, esteja com desesperanças) passarem, pois está respaldada na poesia que chegou e, então, aguardar novas fases?
Onde está, que esquece tudo que leu, as promessas feitas sob e sobre a lua e dilacera um coração?
Por que insiste em se esconder de sua vida que lhe pede um pouco de atenção e tem forças para lhe reanimar?
Quem é você, menina? Cadê a branca-de-neve de Gullar, que não escuta o recado dele e de mais alguém? “A vida bate”, como diria o poeta alagoano.
Em que lugar está adormecida, que não escuta as próprias palavras sobre o último momento de entrega absoluta?
Como fecha os olhos para não ver Vênus?
Como esquece da declaração que fez à lua, dela ser a sua esperança de reencontrar o que lhe foi negado durante toda a sua caminhada?
Quem é você, menina?
Por que deixa ficar triste essa mulher que tanto lhe protegeu?
Como ser faxineira, se não posso limpar as dores dela que chora saudades diferentes e sente a lancinante dor da solidão destruindo suas entranhas?
Preciso retornar ao meu trabalho, fechar a porta que me lançou a um mundo de poesia e utopias para não perecer.
Preciso varrer...aspirar...limpar...polir... banir...!
A SAUDADE DA FAXINEIRA DE ILUSÕES

Enchendo a alma de enternecimento, Ela buscou a esperança naquelas nuvens que ensaiavam um dia de paz.
Talvez por ser uma habitante de Vênus, que possui a dualidade simbólica (Estrela da manhã e Estrela da tarde), e, como uma pastora nômade buriata, acredita que esta Luz é “ o pastor celeste guiando o seu rebanho de estrelas”..., Ela buscou a tranqüilidade necessária para alimentar o seu dia e recordou da Menina, que também veio de lá.
Por estar em estado de saudades amadas, lembrou de imagens passadas, de seres infantes que eram diversão, alegria, festa na afinidade e na harmonia da troca, na comunhão afetiva que fazia de todos eles encanto, graça e amor, muito amor.
Lembrou da Menina que não está mais por seu povoado, da eterna enluarada que olhava para os céus e ensinava, a todos, o poder da celestial imagem que encantava e estimulava lendas, até mesmo, abrigando um cavaleiro real dizimando o dragão...
Lembrou tanto... de Vênus que protege todos os seres que se alimentam de poesia e do invisível que existe; daquela Menina que é seu habitante e continua relacionando-se com o Anjo Amael, operando no âmago da alma o amor e suas relações sadias.
Lembrou do mágico sorriso que se estendia para seus olhos e que fez tantos amigos! E, num momento na história de sua vida, se perdeu da Faxineira.
Lembrou da Menina, uma autêntica pastora de Vênus! Uma Menina que agora é proteção e fortaleza para outros afins e que foi tão forte para o espírito da Faxineira!
Porque o dia irradiava luz e calor, a mulher que busca aspirar as desatentas ações desumanas, teve a nítida impressão da presença da Menina, habitante do mensageiro do Sol, para, como antigamente, ser seu amparo de paz.
E chorou as ausências que tanto lhe angustiam, porque seus recados silenciosos, só interpretados pela sintonia afetiva, agora não são mais ouvidos. Estão adormecidos no recanto dos sonhos que lutam com uma realidade que ela não gosta.
Porque o dia está abrindo caminhos claros e perfeitos, a Faxineira iniciou o seu labor, colocando alfazemas e essências nas ruas, nas praças e nos cantos do povoado para ajudar a limpeza que ele precisa.
Visitou ruelas, parou para reverenciar um templo de fé que lhe acompanhou anos e anos e visualizou a mulher que agora é quase infante, porque a vida lhe presenteou com um transtorno que a faz frágil.
E a Faxineira sentiu seu colo ampliar a carinhosa presença do amor para cercar o novo mundo daquele ser que, a cada dia, desenvolve um infantil crescimento nas ações, nas vontades E acolheu aquele dependente ser que busca respostas num olhar vago...
Porque o dia clareou mais ainda sua mente, Ela viu a necessidade de sempre criar estruturas no novo mundo da mulher, que agora é criança, para respaldar a sua alma de encantos e diversões.
O dever de ser magia e segurança para a Mulher-menina criou asas e deu forças para a Faxineira sorrir da saudade da Menina de Vênus que lhe encantou e lhe encanta e ficou em paz.
Na paz que o dia de sol lhe abraçou.

O CORPO FEMININO

( Paulo Coelho)


Não importa o quanto pesa. É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher. Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção.

Não temos a menor idéia de qual seja seu manequim. Nossa avaliação é visual, isso quer dizer, se tem forma de guitarra... está bem. Não nos importa quanto medem em centímetros - é uma questão de proporções, não de medidas.

As proporções ideais do corpo de uma mulher são: curvilíneas, cheinhas, femininas... . Essa classe de corpo que, sem dúvida, se nota numa fração de segundo. As magrinhas que desfilam nas passarelas, seguem a tendência desenhada por estilistas que, diga-se de passagem, são todos gays e odeiam as mulheres e com elas competem. Suas modas são retas e sem formas e agridem o corpo que eles odeiam porque não podem tê-los.

Não há beleza mais irresistível na mulher do que a feminilidade e a doçura. A elegância e o bom trato, são equivalentes a mil viagras.

A maquiagem foi inventada para que as mulheres a usem. Usem! Para andar de cara lavada, basta a nossa. Os cabelos, quanto mais tratados, melhor.

As saias foram inventadas para mostrar suas magníficas pernas... Porque razão as cobrem com calças longas? Para que as confundam conosco? Uma onda é uma onda, as cadeiras são cadeiras e pronto. Se a natureza lhes deu estas formas curvilíneas, foi por alguma razão e eu reitero: nós gostamos assim. Ocultar essas formas, é como ter o melhor sofá embalado no sótão.

É essa a lei da natureza... que todo aquele que se casa com uma modelo magra, anoréxica, bulêmica e nervosa logo procura uma amante cheinha, simpática, tranqüila e cheia de saúde.

Entendam de uma vez! Tratem de agradar a nós e não a vocês. porque, nunca terão uma referência objetiva, do quanto são lindas, dita por uma mulher. Nenhuma mulher vai reconhecer jamais, diante de um homem, com sinceridade, que outra mulher é linda.

As jovens são lindas.. mas as de 40 para cima, são verdadeiros pratos fortes. Por tantas delas somos capazes de atravessar o atlântico a nado. O corpo muda... cresce. Não podem pensar, sem ficarem psicóticas que podem entrar no mesmo vestido que usavam aos 18. Entretanto uma mulher de 45, na qual entre na roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está se auto-destruindo.

Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida com equilíbrio e sabem controlar sua natural tendência a culpas. Ou seja, aquela que quando tem que comer, come com vontade (a dieta virá em setembro, não antes; quando tem que fazer dieta, faz dieta com vontade (sem sabotagem e sem sofrer); quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que goste, compra; quando tem que economizar, economiza.

Algumas linhas no rosto, algumas cicatrizes no ventre, algumas marcas de estrias não lhes tira a beleza. São feridas de guerra, testemunhas de que fizeram algo em suas vidas, não tiveram anos 'em formol' nem em spa... viveram! O corpo da mulher é a prova de que Deus existe. É o sagrado recinto da gestação de todos os homens, onde foram alimentados, ninados e nós, sem querer, as enchemos de estrias, de cesárias e demais coisas que tiveram que acontecer para estarmos vivos.
Cuidem-no! Cuidem-se! Amem-se!

terça-feira, 25 de agosto de 2009


A SAUDADE DA FAXINEIRA DE ILUSÕES

Enchendo a alma de enternecimento, Ela buscou a esperança naquelas nuvens que ensaiavam um dia de paz.
Talvez por ser uma habitante de Vênus, que possui a dualidade simbólica (Estrela da manhã e Estrela da tarde), e, como uma pastora nômade buriata, acredita que esta Luz é “ o pastor celeste guiando o seu rebanho de estrelas”..., Ela buscou a tranqüilidade necessária para alimentar o seu dia e recordou da Menina, que também veio de lá.
Por estar em estado de saudades amadas, lembrou de imagens passadas, de seres infantes que eram diversão, alegria, festa na afinidade e na harmonia da troca, na comunhão afetiva que fazia de todos eles encanto, graça e amor, muito amor.
Lembrou da Menina que não está mais por seu povoado, da eterna enluarada que olhava para os céus e ensinava, a todos, o poder da celestial imagem que encantava e estimulava lendas, até mesmo, abrigando um cavaleiro real dizimando o dragão...
Lembrou tanto... de Vênus que protege todos os seres que se alimentam de poesia e do invisível que existe; daquela Menina que é seu habitante e continua relacionando-se com o Anjo Amael, operando no âmago da alma o amor e suas relações sadias.
Lembrou do mágico sorriso que se estendia para seus olhos e que fez tantos amigos! E, num momento na história de sua vida, se perdeu da Faxineira.
Lembrou da Menina, uma autêntica pastora de Vênus! Uma Menina que agora é proteção e fortaleza para outros afins e que foi tão forte para o espírito da Faxineira!
Porque o dia irradiava luz e calor, a mulher que busca aspirar as desatentas ações desumanas, teve a nítida impressão da presença da Menina, habitante do mensageiro do Sol, para, como antigamente, ser seu amparo de paz.
E chorou as ausências que tanto lhe angustiam, porque seus recados silenciosos, só interpretados pela sintonia afetiva, agora não são mais ouvidos. Estão adormecidos no recanto dos sonhos que lutam com uma realidade que ela não gosta.
Porque o dia está abrindo caminhos claros e perfeitos, a Faxineira iniciou o seu labor, colocando alfazemas e essências nas ruas, nas praças e nos cantos do povoado para ajudar a limpeza que ele precisa.
Visitou ruelas, parou para reverenciar um templo de fé que lhe acompanhou anos e anos e visualizou a mulher que agora é quase infante, porque a vida lhe presenteou com um transtorno que a faz frágil.
E a Faxineira sentiu seu colo ampliar a carinhosa presença do amor para cercar o novo mundo daquele ser que, a cada dia, desenvolve um infantil crescimento nas ações, nas vontades E acolheu aquele dependente ser que busca respostas num olhar vago...
Porque o dia clareou mais ainda sua mente, Ela viu a necessidade de sempre criar estruturas no novo mundo da mulher, que agora é criança, para respaldar a sua alma de encantos e diversões.
O dever de ser magia e segurança para a Mulher-menina criou asas e deu forças para a Faxineira sorrir da saudade da Menina de Vênus que lhe encantou e lhe encanta e ficou em paz.
Na paz que o dia de sol lhe abraçou.

sábado, 15 de agosto de 2009

O TEMPO QUE NÃO PASSA PARA A SAUDADE...


Já são passados quase cinco meses que meu pai foi descansar nas estrelas...O tempo passa? cinco meses? quantas coisas aconteceram! Quantas provas de desamor entre pessoas que deveriam ser afins...
Como Deus é maravilhoso! Escolher a hora certa para que a alma de um anjo protetor que ficou entre nós tanto tempo não ficasse mais macerada, ainda...Escolher a hora de criar o mundo dos sonhos e da irrealidade para minha mãe poder sobreviver...
Como devo agradecer!!!

TEMPO DE PREPARAR O CORAÇÃO

A noite induz o meu coração a refletir sobre o tempo!
É tempo...
De acalentar a alma para adormecê-la, porque o momento em que se precisa sobrevoar outros espaços, alheios à sua realidade, para continuar a viver, é chegado.
É tempo de se guiar pelos próprios pensamentos, olhar o mar e questionar as próprias emoções; parar para saber o destino dos sonhos e as certezas que lhe foram norte na vida,
Indagar porque eles ficaram cegos e não enxergaram uma realidade que lhe chamava atenção (talvez pelas desatenções ampliadas), impedindo a clara visão.
É tempo de saber por que se ouviu apenas a voz que camufla e brinca de esconder com os desavisados de maldade e se deixou os olhos fechados para a vida que passava diante de si.
É tempo de saber...
As formas que poderiam evitar as mágoas que criam elos na essência e maculam a alma, amordaçando as vontades de amor e de querer.
É tempo de parar e de desencantar o macerado ser para refletir melhor, pois nem tudo traduz poesias lidas e amadas que alimentam (alicerces anímicos), mas, respostas do coração.
É tempo de acordar, abrir os braços para a vida que ainda pulsa, olhar para infinito e acolher o que ela ainda lhe poderá dar. É tempo de acordar, pois.
É tempo, ainda há tempo...
De alertar que a vida está estampada nas faces das pessoas, grita para ser ouvida mostrando a transparência que é.
É tempo de acordar, a vida adormece rápido,pois tudo é efêmero...
É tempo de refletir as indiferenças, os atos de esquecimento, as confidências ditas para messalinas que possuem o poder diabólico de aniquilar.
É tempo, ainda há tempo...
É tempo de preparar o coração!
Para as ações que poderão não ser entendidas, mas que significarão sobrevivência, pois até a solidão precisa ser vivenciada em sua essência e também é companhia...
É tempo
Para as reflexões profundas que ainda terão espaço, se feitas com alma descansada.
Ainda há tempo,
Para dizimar a intolerância, para o entendimento ser assentado, para as vozes serem ouvidas.
É tempo...
De aliviar o coração para a alegria da despedida tão desejada,
Para a paz ser, enfim, selada,
Para a ausência ser solidificada.
É tempo de preparar o coração!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Jean Genet

" No interior da minha miséria eu não ignorava a presença da volúpia, de uma ponta de furor" ( Em Diário de um ladrão)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O AUTO RETRATO

No retrato que me faço

traço a traço
às vezes me pinto nuvem,

às vezes me pinto árvore…

às vezes me pinto coisas

de que nem há mais lembrança…

ou coisas que não existem

mas que um dia existirão…

e, desta lida, em que busco

pouco a pouco

minha eterna semelhança,

no final que restará?

um desenho de criança…

corrigido por um louco!

Mario Quintana

quarta-feira, 15 de julho de 2009

REFLETIR...

* " O barulho da água diz o que eu penso"( pensamento Tao)

* " O amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem( e matam) a cada instante de amar"( Carlos Drummond de Andrade)

* Coisas e palavras sangram pela mesma ferida"( Octavio Paz)

* Mas tudo é inutil,porque os teus ouvidos estão como conchas vazias, e a tua narina imóvel não recebe mais notícias do mundo que circula no vento. Tudo é inútil,porque estás enconstado à terra fresca, e os teus olhos não buscam mais lugares nessa paisagem luminosa, e as tuas mãos não se arredondam já para a colheira nem para carícia" (Cecília Meireles)

* O mundo não foi feito para ser pensado , mas para ser visto e para se estar de acordo". (Alberto Caeiro-Fernando Pessoa)

* Um velho é apenas um adolescente que viveu demais" (Marcel Proust)

* Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com o que fizeram com você."(Jean-Paul Sartre)

*" Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava , ignorante, a falta.
Hoje, não a lastimo.
Não há falta na ausênca.
A ausência é um estar em mim
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim!"(Carlos Drummond de Andrade).

*" As obras de arte são de uma solidão infinita"( Rainer Maria Rilke)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Palavras...

" O único sentido da educação é conseguir fazer uma reflexão crítica de si mesmo" Theodor Adorno.

" Sem consciencia não há nada, nem sequer a consciência do nada". Fritz Pearls.

"Uma emoção é uma explosão num espaço, é um fogo em ebulição onde tudo está vivo"Eric baret.

" Não existe um eu separado" Buda.

"Não sabemos o que se passa conosco, isso é o que se passa conosco"( José Ortega Y Gasset.

" O coração tem razões que a razão desconhece" Blaise Pascal.

" Observar sem julgar é a forma mais elevada de intelligência humana" Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Emmanuel

Prece



Senhor, ensina-nos:
A orar sem esquecer o trabalho;
A dar sem olhar a quem;
A servir sem perguntar até quando;
A sofrer sem magoar seja a quem for;
A progredir sem perder a simplicidade;
A semear o bem sem pensar nos resultados;
A desculpar sem condições;
A marchar para a frente sem contar os obstáculos;
A ver sem malícia;
A escutar sem corromper os assuntos;
A falar sem ferir;
A compreender o próximo sem exigir entendimento;
A respeitar os semelhantes, sem reclamar consideração;
A dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxa de reconhecimento;
Senhor, fortalece em nós a paciência para com as dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros para com as nossas dificuldades;
Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será invariavelmente, aquela de cumprir-Te os desígnios onde como queiras, hoje, agora e sempre.

Emmanuel

Eles não sabem


Não pares de trabalhar ou servir porque essa ou aquela desilusão te amargou os sentimentos.
Os ingratos são portadores da moléstia da memória.
Os agressores carregam brasas no pensamento.
Os delinquentes são enfermos dos mais infelizes.
Quando semelhantes companheiros surgirem na vida, perdoa sempre.
Eles não sabem quantas nuvens de dor estão amontoando sobre a própria cabeça.

Emmanuel

O Pirilampo


Nunca te afirmes imprestável.


Num aldeamento de colonização, surgiu um químico dedicado à fabricação de remédios, pesquisando as qualidades de certo arbusto que existia unicamente em cavernas.


Detendo informes de antigos habitantes da região, muniu-se de lâmpada elétrica, vela e fósforos para descer aos escaninhos de grande furna.


O homem começou a distanciar-se da luz do sol e porque as sombra se escondesse, acendeu a lâmpada desdobrando uma corda que, na volta, lhe orientasse o caminho.


A breves instantes, porém, as pilhas se esgotaram. Recorreu aos fósforos e inflamou a vela; entretanto, a vela se derreteu e os fósforos foram gastos inteiramente, sem que ele atingisse o que desejava.


Dispunha-se ao regresso, quando viu em pequeno recôncavo do espaço estreito e escuro, o brilho intermitente de um pirilampo.


Aproximou-se curioso e, à frente dessa luz, achou a planta que buscava, com enorme proveito na tarefa a que se propunha.


Anotemos a conclusão.


Quem não pode ser luz solar, terá possivelmente o clarão da lâmpada. Quem não consegue ser a lâmpada terá consigo o valor de uma vela acesa ou de um fósforo chamejante. E quem não disponha de meios a fim de substituir a vela ou o fósforo, trará sem dúvida, o brilho de um pirilampo.

domingo, 24 de maio de 2009

Quem é essa Mulher?

Quem é essa Mulher que escondeu suas lembranças, verdadeiros tesouros vitais?
Por que tenho a nítida sensação de impotência diante de seu apelo de viver?
Quem é ela que ocupa espaços, antes tão conhecidos, e que agora são caminhos a serem desbravados e ela não vê?
Cadê a Mulher que, desesperadamente, eu busco e está tão distante?
Em que lugar ela adormeceu?
Quem é essa que agora me olha e sorri com os sorrisos mágicos do mundo surreal?
Quem é essa Mulher que me encara e atravessa o olhar opaco e sem direção, com evasivas perguntas que são puro sofrimento para quem a escuta?
Quem é ela, tão desamparada?
Por que foram colocadas asas em sua memória que a faz esquecer quem é e quem teve durante a vida?

Quem é essa Mulher?
Quem é ela?
Cadê a energia que tanto doou, passos que sempre foram em auxílio de inúmeros, ações que acalmaram?
Por que agora tem medo, se sempre ensinou a nada temer com a sua história de vida?
Quem é ela?
Que sonhos embalam a sua vida e a fazem adormecer, esquecendo tudo que construiu e a todos que foram seguindo seus passos e estão desamparados?

Quem é ela?
Em que mundo essa Mulher parou?
Por que voa para lugares distantes e tão reais aniquilando quem sempre a viu como a fortaleza e o porto seguro?
Por que seus pensamentos alados não fazem com que ela se lembre de quem esteve ao seu lado por seis décadas e a amparou até o ultimo momento de lucidez?
Por que procura a sua estrela guia que, agora, está em outros céus?
Por que busca quem não mais voltará?
Quem cessará a sua angústia, o seu chamado triste e enxugará suas lágrimas de saudade incontida, de dúvidas atrozes, na eterna busca de quem não mais está ao seu lado?
Quem a embalará em todos os momentos quando toma conhecimento da perda?

Essa Mulher que, num cansativo e rotineiro percurso busca o nada - porque o caos toma conta de seu mundo - procura o que não lembra e espera quem não mais chegará, mas, persiste no sentimento por uma ausência que sempre foi presença.
Ela busca um elo que se foi, uma voz que não mais ouvirá, passos que não mais estarão ao seu lado e, infante, pede mãos, braços e pés para lhe guiar, porque ouve risos infantis que já são adultos, arruma leitos de quem não mais está perto, luta uma incansável batalha que já é vencida, porém, relembra de alegrias e dores que já passaram.

O que passa em sua mente quando, como um D.Quixote de saias, foge da realidade e sobrevoa os pensamentos embaralhados, deixando seres atônitos cheios de dor e desencanto?
Quem é essa Mulher que foi alicerce para tantas vidas e agora precisa de acalantos?
Que me pede colo,quando eu clamo por atenção e enternecidos gestos?
Que me questiona o que não posso falar,porque também sofro a saudade e a perda?
Cadê a Mulher que preciso encontrar para fazer adormecer essa que viaja por mundos estranhos e não consigo alcançá-la?
E falar, conversar, discordar, sorrir e sorrir?
Cadê?
Cada um tem de mim exatamente o que cativou, e cada um é responsável pelo que cativou, não suporto falsidade e mentira, a verdade pode machucar, mas é sempre mais digna. Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão. Perder com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem mais se atreve e a vida é muito para ser insignificante. Eu faço e abuso da felicidade e não desisto dos meus sonhos. O mundo está nas mãos daqueles que tem coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos.

**Charles Chaplin**

quarta-feira, 13 de maio de 2009

" Quando eu partir não terei regresso, mas ficarei impresso"
Fernando Vignoli( artista plástico mineiro)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo."

Martha Medeiros

segunda-feira, 6 de abril de 2009

MINHAS FRAGMENTADAS EMOÇÕES

I
COMO SORO
Fluindo em gotas
A sua vida
Revitaliza
O ser adormecido
Que fui.

Milagre...

II

Graves olhares
“ verdejam” a praça...
gravetos em cumplicidade
unem a verdade
e desarmam a realidade:
como driblar a saudade?


III

Refrescando a memória
O hálito quente e querente
Da dor que não se segura
Apascenta a visceral necessidade
Que transpõe a realidade.
Vontades? Presença?
Saudades!

IV


Mais
Uma
Vez,
A doce
Realidade,
Sorrindo,
Me diz:
Bis
Bis
Bis!

V


A lua
Suas fases
faces
A vida
A terra
calendário
Movimentos
da lua
Dos ventos
Quem me guia...
A lua?
Crescenteeeeeeeeeeeeeeeeeeee,
Querente...
Eterna em minha mente!


VI


Escoam
Liquefeitas
As emoções que teimam adormecer
Nos labirintos borgeanos de uma alma que atravessa espelhos...

Gota a gota
Cristalizadas
Elas fragmentam um ser
Aberto, apático, raquítico
Sob a forma de lágrimas
Que se tornam vísceras expostas
A uma história
Que se perdeu na proposição
Do caos.

VII


(“ Todo Homem tem dentro de si ,um vazio do tamanho de Deus” Fiodor Dostoievsky)


Transitam
Diante de olhos incrédulos
As imagens que reconstruíram
Uma vida, hoje, perecidas.
Neles
Estão gravados
Vínculos amolados
jorrando as dores
Afiadas pela incapacidade de entender
Perdas, ausências, e silêncios
Imolados por única palavra
Que tem o tamanho do vazio de Dostoievsky:
Adeus!

Ana Virginia Santiago

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Fernando Pessoa ( 19/06/1915)

" O meu tédio não dorme.
Cansado existe em mim
como uma dor informe que não tem causa ou fim"

Desperdicio (Carlos Drummond de Andrade)

" Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
sabendo-te embora o preço,
calco teu ouro no chão."

terça-feira, 31 de março de 2009

Mensagem de DAMIANA GOMES



Publicada em 22/03/2009.Diário de Ilhéus.

coluna de JOSEVANDRO NASCIMENTO-




Publicada em 22/03/2009 - Diário de Ilhéus

segunda-feira, 30 de março de 2009

MEU HERÓI!


Agradeço a Deus a dádiva de ter convivido com meu pai, José Lourenço, até os 86 anos de idade, quando ele, no dia a dia, me dava lições de cidadania e amor ao próximo carente.

REQUIEM PARA O CORDEIRO QUE PRECISA DESCANSAR


É preciso silêncio para a sua passagem, porque ele está cansado.
Com fragilidade de um pássaro, foi o guerreiro na luta pela vida, porque acreditava que ainda tinha muito a fazer...
Era um cordeiro na forma de calar, sofrer em silêncio, esquecer desencantos.
Lutou pelo sopro vital que lhe restava, sob o alicerce de tantas vidas iluminadas que sofriam a perda antecipada e choravam em silêncio, porque sabiam que iria descansar,
porém, lutavam pelo cordeiro que precisava descansar...

Por favor, façamos silêncio!

Ele precisa descansar, ser acalentado nos braços de Deus, ouvir os acalantos dos anjos,sorrir com novas travessuras de novas companhias, buscar apoio de arcanjos para novas lidas, mas, antes, ele precisa descansar e o silêncio é a mais perfeita forma de amar.

Por favor,façamos silêncio!

O cordeiro precisa dormir sem os artifícios encontrados para desaparecerem suas dores, artifícios que podemos chamar de atos de amor.
Ele precisa dormir sossegado, pois está indo a caminho de novos desafios, sonhar com novas construções, agradecer por novas conquistas.

Mas, agora, ele precisa descansar, reencontrar seres especiais, afagos divinos!

Por favor, façamos silêncio por ele!

Deixemos que ele abasteça sua alma, sonhando com tantas mãos iluminadas, tantos olhos marejados de lágrimas, tantas palavras de amor que lhe embalaram em sua purificação pelo grandioso e inesquecível sentimento amoroso,porque, guerreiros, queriam lutar pelo cordeiro que precisava descansar...

Façamos silêncio por ele!

É preciso que fique encantado para agradecer aqueles homens de Deus lutando por sua vida, correspondendo às suas crenças de que naquele ambiente existia competência e dignidade.
É preciso deixá-lo livre para despedir-se de cada um que lhe acompanhou nas décadas que viveu na Casa Beneficente e que era de Misericórdia.
Eram seus elos de amor, suas muletas afetivas e emocionais que lhe ajudavam a andar...
Mas, agora, ele repousa seu cajado ,porque precisa muito descansar, sobrevoar outros céus, tocar em outros lugares e transformar outras construções que não abrigarão maldade, traições, desamores.

Por isso, façamos silêncio por ele!

É preciso cautela. O guerreiro tão frágil fisicamente tem a força inesperada dos homens de bem que acreditam em Deus e embalam o sofrimento como purificados degraus na espiritualidade.

Suas pequeninas chagas precisam desaparecer lentamente,porque nasceram da vontade de homens iluminados que queriam lutar, lutar, lutar por sua vida.

Façamos silêncio!

Em nome deste cordeiro que precisa descansar, com tranqüilidade e desconhecia a dor de dizer “não”,aprendamos com ele e façamos silêncio para aqueles que , menores, num certo momento,deixaram de ouvir sua frágil voz pedindo ajuda e disseram-lhe “‘não!”;
para quem( poucos) sorriu com sua fragilidade nos passos que ficaram cambaleantes num certo momento de sua vida;
para quem negou a ação que lhe acalmaria, “porque respondia por outro espaço”, mesmo que sendo o espaço que foi uma luta daquele guerreiro que precisava de ajuda...;
peçamos misericórdia para quem desprezou a idade e a circunstância do seu último momento de lucidez,porque não se cai porque quer...
Façamos silêncio pelos menores que alimentavam, e continuarão a alimentar, a cultura de corredores,porque não crescerão, jamais.

É preciso silêncio para o homem que calou a voz,mas, pelas ações, deixou legados para cada pessoa que conviveu com sua vida.
Ele vai descansar...

Mas, antes que adormeça e seja acalentado por Deus, aplaudamos, por instantes, o homem que se muda para outros céus.

Aplaudamos a grandiosidade do amor que ele guardava no coração para sua companheira por 61 anos, a quem dedicou suas ultimas palavras num desejo desesperado de proteção e fechou os olhos e calou sua voz para sempre.

Mais uma vez, por favor, façamos silêncio para o cordeiro de Deus ir em paz!

sexta-feira, 20 de março de 2009

CLARICE LISPECTOR

Deus meu eu vos espero, Deus, vinde a mim, Deus, brotai no meu peito. Eu não sou nada, e a desgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas, e eu continuo a sofrer - afinal o fio sobre a parede escura -. Deus, vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e Deus, porque não existes dentro de mim? Porque me fizeste separada de ti? Deus, vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites. Ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento em cada minuto que passa. Sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece, me teme e eu sou pequena e pobre. Não saberei que existi daqui a poucos anos. O que me resta para viver é pouco, e o que me resta para viver, no entanto, continuará intocado e inútil. Porque não te apiedas de mim, que não sou nada? Dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que preciso, e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas. Vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, e a desgraça é sempre. Beijo teus pés e o pó dos teus pés. Quero me dissolver em lágrimas. Das profundezas chamo por vós, vinde em meu auxílio que eu não tenho pecados. Das profundezas chamo por vós. E nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça - eu não sou nada -. Das profundezas chamo por vós. Das profundezas chamo por vós. Das profundezas chamo por vós. Das profundezas chamo por vós.

Não, não, nenhum Deus, eu quero estar só. E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente, seguramente, inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento. Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro. Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante; sempre fundido, porque então viverei, só então serei maior que na infância, serei brutal e mal feita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas. Ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a compreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte sem medo de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.

(* Trecho extraído do “Perto do coração selvagem”)

terça-feira, 17 de março de 2009

Mulheres que correm com os lobos (Clarissa Pinkola Estés )

MULHERES

Passei por duas experiências decisivas quando estava com vinte e poucos anos,experiências que contrariavam tudo que me haviam ensinado sobre o corpo até então.Quando estava num seminário de uma semana de duração para mulheres , á noite junto ao fogo e perto de fontes terminais, vi uma mulher nua com cerca de 35 anos.Seus seios estavam murchos de amamentar;seu ventre estriado de dar a luz. .Eu era muito nova e me lembro de ter sentido pena das agressões pela sua pele fina e clara.Alguém estava tocando tambores e maracas, e ela começou a dançar, com o cabelo, os seios, a pele, os membros todos se movimentando em direções diferentes.Como era linda, como era cheia de vida.Sua graça era de partir o coração.Eu sempre havia ridicularizado a expressão "furacão nos quadris".Naquela noite, porém vi um exemplo.Vi o poder das suas ancas.Presenciei o que me haviam ensinado a ignorar;o poder do corpo de uma mulher quando é animado de dentro pra fora.Quase três décadas mais tarde, ainda posso vê-la dançando no escuro e ainda sinto o impacto da força do corpo.
O segundo despertar envolveu muito mais velha. De acordo com padrões vigentes, seus quadris eram excessivamente parecidos com pêras,seus seios eram ínfimos em comparação,e suas coxas eram totalmente cobertas por finíssimas veias arroxeadas.uma longa cicatriz de alguma cirurgia grave circundava seu corpo,indo desde a coluna vertebral até as costelas, como um corte pra descascar maçãs. Sua cintura devia ter a largura de quatro palmos.
Era, portanto, um mistério o motivo pelo o qual os homens zumbiam a sua volta como se ela fosse um favo de mel. Eles queriam morder suas coxas de pêra, lamber aquela cicatriz, segurar aquele peito,descansar o rosto nas teias da suas
varizes. Seu sorriso era deslumbrante;seu caminhar, extremamente belo.E quando ela olhava, seus olhos realmente absorviam o que estavam vendo. Vi novamente o que me haviam ensinado a ignorar, o poder no corpo.O poder cultural do corpo é a sua beleza, mas o poder no corpo é raro, pois a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou com sua vergonha da própria carne.
Tendo em vista o exposto, a mulher selvagem pode pesquisar a luminosidade do próprio corpo e compreendê-lo, não como um peso morto que estamos condenados a carregar por toda vida, não como uma besta de carne, mimada ou não,que nos carrega por aí pela vida inteira,mas como uma série de portas, sonhos e poemas através dos quais podemos obter todo tipo de aprendizagem e conhecimento.Na psique selvagem,compreende-se o corpo como um ser por seus próprios méritos, que nos ama, que depende de nós, para quem, de vez em quando, somos a mãe e que, de vez em quando, representa a mãe para nós.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Quando a lembrança é bonita...

“ Mas tua imagem, nosso amor, é agora menos dos olhos, mais do coração.
Nossa saudade te sorri: não chora.
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
“parece um sonho que ela tenha vivido !”

Mário Quintana

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mário Quintana

“A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão”

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

ÍTALO CALVINO em "As cidades Invisíveis" :

"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas as respostas que dá às nossas perguntas"

A PERPLEXIDADE QUE ADOECE A ALMA DA FAXINEIRA DE ILUSÕES.



Imagem:(Mother and child- Pablo Picasso)

“Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
- a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida”.
(Ferreira Gullar)

O nascer do sol convida ao abrir janelas, agradecer aos céus e reverenciar as gentes que são especiais.
Porque a vida é primordial ao crescimento que abre fronteiras espirituais, as pessoas precisam saber a obrigação que é velar, acalantar, embalar e vigiar o que lhe faz respirar,sentir, pisar, ver ou pressentir.
Porque a vida é dom especial, ela não pode ser banalizada.
As Mulheres e o Menino andam, calados, em direção ao mar.
O que entristece a Faxineira que, parada diante do templo marmóreo de fé impõe reflexão, observa homens, mulheres e infantes que invadem as calçadas? O que faz dela perguntas que não encontram respostas e buscas perdidas?
Por que o silêncio amordaçou as suas palavras impedindo-a de conversar com a Mulher que sai de sua reclusão e o Menino entristecido que ainda sorri, porque a infância ainda lhe dá as mãos?
A Faxineira que limpa indecisões e faz brilhar os sonhos anímicos, atordoada, chora as dores dos outros, das vítimas da violência e ambição, das traições e sub-reptícias ações,porque a vida está sendo banalizada e sacrificada numa dimensão que amedronta e impressiona.
Por que é tão difícil entender que cédulas e promessas não aplacam o remorso futuro, não apagam a dor, não limpam as mãos sujas de sangue, as mentes que projetam horrores e as dúvidas morais?
Por que a mente humana faz suas opções dando as costas para o livre arbítrio que Deus coloca no caminho de cada um?
O que faz um homem (homem?) dar golpes na vida de seres que guardam nova vida, fazendo calar as inúmeras canções de ninar e as expectativas de crescimento de sua extensão com brincadeiras de roda ou corridas de carrinhos que nunca irão acontecer?
Por que calam vidas que queriam cantar e brincar e foram ceifadas pela violência, por motivos escusos e maléficos?
O que impede a vida de ir, caminhar, sonhar, voar, voar, voar e não poder se defender?
O que bloqueia o sentimento o direito de preservar a sua bondade e ramificar afetividades, respeitos e bem querências?
Por que a vida está tão banalizada?

“Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
- a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida”.
(Ferreira Gullar)

“A vida já ganha e já perdida...”.

O que faz a inveja, o ódio, o mal querer e o desrespeito ampliarem suas ações e cravar punhais com negras e inesquecíveis máculas em tantas vidas que, agora, choram a dor, a saudade e a perplexidade?
O nascer do sol não impede que as duas Mulheres e o Menino sintam tristeza,porque a vida não está sendo tratada dignamente e o futuro de todos está sendo ameaçado pela indignidade.
A vida, ah! A vida! Ela é muito preciosa para ser banalizada.

FIRMINO ROCHA:

DERAM UM FUZIL AO MENINO

Adeus luares de maio.
Adeus tranças de Maria.
Nunca mais a inocência,
nunca mais a alegria,
nunca mais a grande música
no coração do menino.
Agora é o tambor da morte rufando
nos campos negros.
Agora são os pés violentos ferindo a terra bendita.
A cantiga, onde ficou a cantiga?
No caderno de números o verso
ficou sozinho.
Adeus ribeirinhos dourados.
Adeus estrelas tangíveis.
Adeus tudo que é de Deus.
Deram um fuzil ao menino.

PAULO FREIRE:

"Caminhante, o caminho se faz caminhando"

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O QUE A VIDA NOS ENSINA?

NO TEXTO ATRIBUÍDO A CHARLES CHAPLIN HÁ A RESPOSTA...

"A vida me ensinou...
A dizer adeus às pessoas que amo,
Sem tirá-las do meu coração;

Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam;

Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade,
Para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;

Calar-me para ouvir;
Aprender com meus erros .
Afinal eu posso ser sempre melhor.

A lutar contra as injustiças;
Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo,

A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhosa com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;

Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente,
Pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente,
Pois também preciso desse amor;

A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;

A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;

A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;

A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;

Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesma tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher."

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

" Yes, we can "

Olhares do mundo todo estão voltados para o homem que muda a história dos Estados Unidos da América.
Barack Hussein Obama, 44º presidente dos Estados Unidos da América, prova que, com sonhos, perseverança e busca de conhecimento através do estudo ( Universidade de Harvard e pais, com doutorado), apesar de tanta discriminação que sofreu em toda a sua vida, é possível dizer que, “sim,nós podemos” guiado pelo grito de um mártir que disse “ eu tenho um sonho”.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

OBSERVAR...SER EMOÇÃO...GUARDAR...




(Pintura de Claude Monet)
A Mulher sorriu com as evidências. Ouviu comentários, estranhou algumas ações, entendeu outras e aplaudiu as mentes que, antenadas com um momento histórico, enxergavam além mar...
Porque era dia de reflexão no mundo, ela virou personagem monetiana e, debaixo da árvore, viu a aldeia ampliar a sua situação geográfica e, num passe de mágica, voou para outros céus.

Quantos seres num momento do passado acreditaram que o sonho de união e igualdade, marcado com ódio e morte, seria realidade mudando a caminhada de ultrajes e desrespeito humano para ser transformado num histórico divisor de fase e afirmativa de possibilidades e caminhos abertos a uma nova era!

Procurou entender o comportamento de quem ela observava, pertinho, que fechando os olhos e tampando os ouvidos para o que acontecia, desconheciam que era importante o estar atento para o que, através de satélite, estava sendo mostrado. Talvez eles sejam reles seres que desafiam a igualdade entre os homens ou ignorantes, limitados em sua mediocridade...
E sentiu perplexidade!

Desviando seu olhar, a Mulher observa outros momentos, já, voltando para sua aldeia. Porque tem o dom de sonhar e ultrapassar para dimensões diversas, volta-se para um espaço dedicado ao saber,onde pessoas travam batalhas inúteis em nome da vaidade e da ambição, sujando rastros singelos de quem antes pisou com dignidade e desejos diferentes.
E sentiu pena...

Embalada pela sombra que lhe acaricia a alma, a Mulher vê do alto da colina a sua aldeia e suas belezas. Vê o imenso horizonte e sente saudade da história que um dia lhe contaram, com grandes homens embebidos de planos construtivos e idéias arrojadas, dando forma à sua beleza.
Tudo é natural e apenas precisa ter e ser cuidado, ali na aldeia! Bastam apenas vontades e atos probos!
Por aqueles lugares que tantos homens pisaram e elevaram construções, século foi firmando a história que muitas vontades lutam para preservá-la, porque, cada um que ali mora precisa ser o guardião de seus contares.
E respirou esperanças...

A Mulher que saiu de sua prisão voluntária para ver a reação dos homens pela liberdade de idéias, olha para o alto e vê respostas, só possíveis em pessoas que acreditam no que não pode ser tocado,mas, existe.
E exultou!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O RETORNO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES E SEUS ENCONTROS

Apascentadas suas indagações anímicas, com descanso, a Faxineira retornou à sua aldeia.
Iniciante ano provavelmente lhe dará arsenal para que sua função seja realizada, apesar das dificuldades.
Permeiam por sua vida as ações que adormeceram como o ano que se foi, as dores que recolheu na alma, as alegrias que lhe incentivaram a acreditar na vida e nos homens, as certezas que lhe respaldaram uma decisão pensada e consciente e solidificou as suas passadas nas ruas da aldeia que é sua, também.
Encontrou pessoas antes tão pertinho de sua vida que, agora, estão no distante lugar que nunca saíram e sentiu uma profunda decepção pelas falhas humanas, respirando no ar as palavras silenciosas, os olhares que não são ( percebeu que nunca foram) amigos.
Sorriu com a octogenária que tanto admira, lhe faz bem, acompanha seus passos, suas “faxinas”, seus amores, suas dores e sentiu leveza ao despedir-se,porque é do bem.
Abraçou a amiga que está sempre presente, entristeceu com as sujeiras que vestem certas pessoas e impedem que sejam limpas,porque o livre arbítrio é dádiva de Deus...

Andou pelas ruas, constatou diferenças, sorriu com seus pensamentos confirmando que ações públicas podem dar as mãos à probidade. E ficou feliz.
Porque o ano estava iniciante a Faxineira encontrou aparências festivas, planos de crescimento, coloridos na aldeia que dá boas vindas a quem chega.
Porque um ser especial ilumina a sua vida,e é presença amada, Ela está inundada de sentimentos que a amparam na sobrevida que possui.Alimentando-se de atenção e bem-querer, a Faxineira, momentaneamente, esqueceu que uma parte de seu mundo vivencial está ruindo pela ingratidão, pelas traiçoeiras atitudes que, silenciosas, armam desamores, convivem no dia a dia e, como hienas ávidas,sorriem com o sorriso dos indignos e aplaudem quem chegou recentemente na vida,nas ações e em interesses escusos.
Encontrou na praça, apressado,um homem que conhece há tanto tempo, e hoje o vê numa distancia imensa, porque agora anda na contramão de suas vivências e coopera com o maldito empenho de jogar suas frustrações em quem não pode mais perder a auto estima. E a Faxineira entristeceu pelo futuro do Homem, que conhece há tanto tempo e se questiona em que momento houve a perda do respeito de seres que tiveram bênçãos acima do que se vê e ouve e tudo foi esquecido?E sentiu muita pena do que virá.
Mas, porque tem tantos caminhos a percorrer e possui em sua vida tantas pessoas amadas, a Faxineira caminhou para o seu labor,porque não pode ficar contaminada com o mal—querer de uma pessoa que caminha para um poço que não tem cordas de salvamento e nem engole moedas de desejos bons...

Viu uma Amiga tão querida que está sempre presente em sua trajetória, com mimos para entes queridos e confirmação de luz. E sorriu, mais uma vez e sentiu a leveza da amizade em seu coração.
Porque o ano chegou com esperanças e a aldeia está tão diferente em seu aspecto físico, a Faxineira pode descansar na praça que lhe serve de espaço para meditações.
Sentiu falta do Menino que é arte pura e viaja pela educação,mas, apesar de, não perde a sensibilidade,porque continua em sintonia com o que é bom para a alma e a faz sorrir quando fala de interpretações textuais...
E viu o dia-a-dia dos homens trabalhadores, dos fofoqueiros que se esquecem da casa que o acolhem, dos pedintes que necessitam de tanto, dos ambulantes que oferecem maravilhas, das gentes de todos os lugares que vivem ou transitam na aldeia.
E sorriu com tudo que via e preparou a sua viagem para os campos estelares em busca de alimento anímico.Conviver com Centauros, Vênus, Cruzeiro do Sul e respingos divinos...
Voar, voar, voar para mundos que só o pensamento pode levar, esquecer tudo que só seres iluminados e invisíveis podem aplacar, recordar momentos que só o coração e o pensamento, que lhe pertencem, podem operar.
Voar, voar, voar numa incontida, irrefreada e sonhada viagem de mudanças para respaldar a sua vida de faxineira que limpa as ilusões, aspira as maldades, lava as traições, joga tudo nos monturos para que possa sobreviver e agir.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Grandiosa CECÍLIA MEIRELES


( Peço licença ao autor ( que desconheço) da bela foto)

SE TE PERGUNTAREM quem era
essa que às areias e gelos
quis ensinar a primavera;

e que perdeu seus olhos pelos
mares sem deuses desta vida,
sabendo que, de assim perdê-los,

ficaria também perdida;
e que em algas e espumas presa
deixou sua alma agradecida;

essa que sofreu de beleza
e nunca desejou mais nada;
que nunca teve uma surpresa

em sua face iluminada,
dize: "Eu não pude conhecê-la,
sua história está mal contada,

mas seu nome de barca e estrela,
foi: "SERENA DESESPERADA".

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"O QUE AMAMOS está sempre longe de nós:
e longe mesmo do que amamos - que são sabe
de onde vem, aonde vai nosso impulso de amor.

O que amamos está como a flor na semente,
entendido com medo e inquietude, talvez.
só para em nssa morte estar durando sempre.

Como as ervas do chão, como as ondas do mar,
os acasos se vão cumprindo e vão cessando.
Mas, sem acaso, o amor límpido e exato jaz.

Não necessita nada o que em si tudo ordena:
cuja tristeza unicamente pode ser
o equívoco do tempo, os jogos da cegueira

com setas negras na escuridão."

domingo, 4 de janeiro de 2009

MEU OLHAR (Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro )

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...