sexta-feira, 27 de junho de 2008

A FORÇA DO SENTIMENTO QUE AMPARA

Parece mágica!Primeiro, a solidão, a angústia de reconhecer-se uno, a procura do que sabe que existe, mas nunca viu nem tocou, porque é sonho. Depois, a incontida reação de ver no âmago do existir aquela luz tomando forma, abrindo janelas para dar vazão às frestas iluminadas que, teimosas, sempre insistem em criar elos, abraçar emoções, aplaudir o que não é visível,mesmo que uma fenda tenha alçado vôo incerto...
Parece encantamento! A música exerce um poder intenso com o sentimento que ampara, faz renascer os mimos afetivos que alicerçam a vida, faz viajar para mundos desconhecidos e fortalecer as quimeras que alimentam a alma.
Ouvir, internalizar e sentir o som afinado do piano acariciado pela genialidade de Jarret faz, relembrar de outro ser que o apresentou ao coração de quem lhe tem amor .
O sentimento que ampara a razão e faz a emoção fluir tem um vasto poder. Chama lágrimas felizes, aplaude saudades antecipadas, porém, realizadas e amplia a mágoa pelas mãos vazias, que não podem mais proteger quem lhe macerou a essência.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

AH! A ALMA...É PRECISO ABSTRAIR, PARA NÃO PERECER.

AH! A ALMA...É PRECISO ABSTRAIR, PARA NÃO PERECER.


Para que a alma não sofra de dores nem de amores e que ela adormeça em sua essência, é preciso que o coração se fortaleça.
Para que as palavras não atuem no espírito fragilizado como garras e farpas que ferem, é preciso que a razão abstraia as fraquezas de quem as pronuncia para não perecer.
Para que a alma, ah! a alma doída, não se perca de seu crescimento, é preciso esquecer o que magoa, corta, queima para não se perder da evolução.
Ah! A alma! Como precisa aquietar para não emitir sussurros entristecidos e expor suas feridas maceradas!
Para que ela não sofra de dores e amores, é preciso silenciar, calar seus gritos e murmurar gemidos, que só os poucos podem ouvir.
Para que a mágoa anímica não interfira nos passos de quem foi atingido, é preciso relembrar frestas iluminadas para prosseguir a caminhada, porque tudo é tão efêmero, algumas imagens passadas refletidas no presente destorcem suas linhas e amedrontam, porque enfeiam a poesia de quem as creditou e ninou a esperança num futuro mundo tão sonhado e, agora, desmoronado.
Ah! A alma que sofre necessita de atenção e não de palavras embebidas em rancores indevidos, rotulando quem não precisa ouvir, infames e torpes termos desafiadores para quem tem fé, tecendo a dual curiosidade: santificar ou satanizar?!
Ah! alma doída, como precisa ter pacientes e aguçados sentidos para, em silêncio,como num ritual, “cobrir de neve o tropical coração” e continuar a enluarar quem acredita em estrelas, a proteger quem luta por quimeras e enternecer quem possui gladiadores afetivos que impedem o desamor.
Para que a alma não sofra de dores e amores é preciso abstrair para não perecer.

Ah! A ALMA...

É preciso aquietar a alma para não perecer de dor...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

SENTIR,OBSERVAR,VER,SILENCIAR E...TEMER.

Quando um dia a minha adolescência leu o que Drummond sentenciou “Agora, a vida é uma ordem”, não poderia imaginar que me inseriria no contexto grandioso da frase, em plena maturidade que abracei com tanta alegria.
Sim, a vida é uma ordem todos os dias,porque, do futuro, nada podemos saber, apenas ansiar. Então, por quê, no presente, hoje, passado, nos enganamos e criamos expectativas?!
Quando sonhamos e construímos castelos para nossa vida e de nossos seres especiais, estamos andando na contramão de todas as teorias,porque, grávidos de amor, fechamos os olhos e não enxergamos que é utopia sonhar com alguém, crescido, no futuro, tendo ações que, agora sei, independem de nosso comando.
A vida é uma ordem...Só o momento agora é comandante de tudo que nos envolve. Ele, o agora, é provedor de nossas ações,de nossas deslizadas, de nossos respingos de luz e ou desamores.
Daqui do alto, visualizando uma imagem linda da natureza, que se responsabiliza pelo nome de Cidade maravilhosa, tenho a límpida certeza que criei para o meu futuro deleite anímico, o que não cabia ao meu coração,pois não dependia apenas de minhas vontades.
Sei agora, que só poderia construir em e para mim, os castelos do meu pensamento enternecido de amores e colocar dentro deles, o príncipe e a princesa para o meu querer pessoal.
“Agora, a vida é uma ordem”,e, incrível!, depois de tanto tempo precisei do agora para entender isso.O “insight” veio ,sob a batuta de linhas toscas e tortas, regidas por quem nunca poderia imaginar. Que pretensão louca,meu Deus,sonharmos o futuro de criaturas,quando somos, apenas, a dádiva da criação...
É isso! Claro, sonhei errado, talvez, por ser de linha humanista e ampliar os meus horizontes de expectativas embalados pelas milhões de horas de leitura e deleite com companhias literárias- que me servem de asas,permiti a invasão de minhas vontades, estimulei-as no encantamento de brincar com bonecas de pano e de negas malucas, numa transferência para aplacar a angústia de não ter uma boneca essencial à minh’alma.
E o que me resta, agora, é que a vida me deu a ordem...sentir, observar, ver, silenciar e ...temer, independentemente do amar!
Rio de Janeiro,11/06/2008

terça-feira, 10 de junho de 2008

É possível sentir solidão numa noite linda no Rio de Janeiro?

Estar no Rio de Janeiro e sentir solidão é possível? Claro que sim!Hoje estou só...não só ausente de companhias, mas, uma solidão quente, querente e impossível de tangê-la.Uma solidão cheia e enriquecedora, porque pensante...
Ouço Modinha com Gabriel (violão) e Joana Queiroz (clarinete),numa intimista interpretação que dá mais nó no coração...
Por mim passam tantas coisas pela mente...
Que lamento bonito, som suave, corda e sopro. Que saudade! Saudade antecipada,porém, encantadora, porque já é falta de presença,mas,felicidade,porque será crescimento de um amor especial;
Saudade de mim, que um dia me perdi de minha essência, porque acreditei que as pessoas não se transformam no sentimento quando crescem,mesmo sendo um outro amor especial.
Solidão para pensar, colocar idéias amestradas...Solidão pelo medo de ter mudado e não aceitar, adiante, braços abertos,mesmo de seres especiais...
Solidão de vozes, risos, encantos e barulhos...
Solidão das certezas de que frestas iluminadas se tornam amplidão de luz e rumam para o espaço onde não há lugar para querências menores e demonstração de amor,porque acreditam ser grandes e esquecem que tudo é essencial...
Solidão de reconhecimento dos lugares afetivos que se esvaem, das ternas ações que criam elos e, pasma, reconheço aqui, numa noite bonita no Rio de Janeiro, que eles são vulneráveis e podem, e como podem!, ser rompidos.Basta-se apenas que se abra a porta para desconhecidas pisadas e invasão nas entranhas de quem, um dia, foi criador e não reconhece mais a criatura...
Saudades, tantas saudades!
É possível sentir solidão numa noite linda no Rio de Janeiro? Sim, como é possível!
Mas, a canção, em corda e sopro, que me encanta e vai crescendo no espaço que me acolhe, me dá a leveza para entender os desamores, mesmo que eles cheguem por quem a gente não espera,mas, os recebe como num abraço,porque são conscientes ,logo,certeiros e direcionados.
09/06/2008.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Um filho rapagão a dormir

De Arthur da Távola:

Lembro-me de repente de um instante no passado: um de meus filhos, então rapaz, a dormir no sofá da sala, o livro caído a seu lado. Em um filho jovem, mesmo um latagão, a dormir, aflora a criança desvalida e fraca. Some a expressão dos olhos, os significados da voz de machinho, descansam os músculos faciais que definem os traços representativos dos disfarces e defesas que inventamos para sobreviver. Um rosto de jovem, deitado e de olhos fechados, faz cessar por instantes as intensidades e discordâncias daquele novo ser pulsátil, cheio de idéias, atitudes, pontos de vista, competições, raiva até da dependência de tantos anos aos pais. Há um breve retorno à desproteção da infância, que renova no pai uma forma poética e emocionada de apego aos filhos. Raras vezes nos é permitido reter a infância dos filhos, esvaída na ânsia de descobertas e justas independências, quando eles ‘ajovecem’. Ao contemplá-los assim, fortes mas vulneráveis, dentro de nós latejam misteriosas intensidades. Somos pedaços de complexidade ganindo ânsias de harmonia e integração. Dentro de nós lavra um afã constante, preparação do vir-a-ser. É a evolução, inevitável. Somos um esforço sem trégua para alcançar um ‘adiante’ que engendrará novas disposições de avanço na direção do não se sabe. Somos pedaços de cansaço feliz por buscar o que, alcançado, transforma-se em plataforma de novos embarques. Somos um lindo e conturbado espetáculo de luta e jardim. Somos a natureza no esforço de existir e propagar a espécie. Somos a expressão dolorosa da ânsia de existir. Assim somos. A/penas. E vemo-nos como tal no filho rapagão a dormir. Por isso, quando de olhos abertos, falando, pregando, querendo, clamando, postulando ou dizendo, somos um cansaço em andamento; somos o nosso doloroso miolo, busca constante de transcendência, transparência e harmonia, ideais da divindade que mora em nós, incompleta, sempre em andamento, em busca da transformação, como o universo. Mas ver o filho a dormir ali, jovem, descuidado, grandalhão, é encontrar a criança que nele mora. E é ser pai de novo. Por certo quem me lê já viveu essa emocionada alegria antecipatória de saudades que se aproximam.
Publicada em 31 de janeiro de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

É hoje !!!!!!!!

Gabriel lançará o seu cd solo, hoje, no Parque Lage, Jardim Botânico, Rio de Janeiro.
Hoje, caminhando pela Rua Laranjeiras (RJ), vi uma cena que me angustiou, vindo à minha mente um mal terrível , que estou aprendendo a lidar...Uma senhora gritando, pedia socorro, para alguém abrir o portão fechado com correntes e cadeado...Uma mulher, aparentemente normal, bem vestida , arrumadíssima! Depois, por causa de
seus gritos,chegou uma enfermeira com a chave nas mãos e falou aos curiosos que ela tinha Alzheimer...que recados Deus quer nos dar com isso?!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Sobre o cd Gabriel Santiago -De Camila Pavanelli -São Paulo

Aos 27 anos e iniciando um doutorado em composição pela Universidade do Texas (EUA), o baiano de Ilhéus Gabriel Santiago lança disco homônimo surpreendente e precioso. Surpreende, em primeiro lugar, porque apesar de este ser seu primeiro disco solo, trata-se do trabalho de um compositor e arranjador maduro, que já processou algumas de suas principais influências - notadamente, Ivan Lins e a dupla Pat Metheny / Lyle Mays - para construir uma linguagem musical própria. Diga-se desde já que esta linguagem prestou-se a ótimas conversas com músicos do porte de Odair Assad, Gilson Peranzzetta, Cliff Korman, Gabriel Grossi e Márcio Bahia, para citar apenas alguns.O disco Gabriel Santiago constitui-se quase que inteiramente por composições do próprio Gabriel. As exceções são a faixa de abertura O Homem e o Cacau, da autoria de seu pai, o compositor Délio Santiago; e a bela Valseana, cedida por Sérgio Assad, que ganha interpretação singular de Odair Assad e Gabriel num duo de violão e guitarra. Cada uma das músicas do disco possui uma formação diferente: há desde o tradicional quarteto com violão e piano (De Clara pra Anna) até formações inusitadas como um trio-base de piano, violão de 12 cordas e contrabaixo acrescido de violoncello, violino e vozes (Clareanna).
Transitando pela música brasileira e pelo jazz, com especial ênfase no samba e na valsa, as composições de Gabriel compartilham de um "senso de inevitabilidade" - aquela sensação tão subjetiva e tão concreta de que a cada nota e a cada acorde só poderiam seguir-se precisamente aquela próxima nota e aquele próximo acorde - e de um delicado entrelace de partes escritas e partes improvisadas, característica tão cara ao Pat Metheny Group. Mas para além do compositor, há também o músico - criativo nos improvisos de violão e guitarra, inteligente na distribuição de acordes ao piano e conhecedor profundo do papel rítmico do violão como instrumento de acompanhamento, especialmente no samba (ouça-se, por exemplo, Considerações a Respeito). Por fim, há o Gabriel arranjador, que escreve para formações orquestrais com ambição e desenvoltura e rege uma orquestra de câmara na valsa Lis Bela e no samba Toma Lá Dá Cá. Este último traz ainda um interlúdio minimalista com ecos de Lyle Mays e a performance simultânea de duas baterias, tocadas por Hernane Castro e Erivelton Silva.Estas são apenas algumas das surpresas que o disco Gabriel Santiago reserva ao ouvinte. Há também vozes e cordas quando menos se espera; um frevo que aos poucos vira marcha-rancho; arranjos de metais de fazer orgulho a Moacir Santos; um violão de 12 cordas e um violino que timbram como uma viola caipira e uma rabeca. Mas, para que este texto não desmanche prazeres nem futuras surpresas, que se diga apenas, então, que o disco de estréia de Gabriel Santiago é impossível de se ouvir uma vez só.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A UM SER QUE ACREDITOU EM SUAS QUIMERAS...


(Para Gabriel, meu filho)


O coração aquieta a profunda ansiedade pelo importante momento de sua vida para desembalar as lembranças que se mantiveram intactas- pois, sadias e iluminadas-,voltadas a um passado tão recente e que formam a sua trajetória profissional.
Como o tempo passa e nos presenteia, Menino!
Dou as mãos a uma imagem, você, ser pequenino, cantando um pássaro que beijava flores, na timidez de um garoto de cinco anos, mas,com a segurança de estar com o pai, referência de vida permanente, mostrando num espaço que nos deu tanta emoção e cultura- o Circo Folias da Gabriela, os cantares e a beleza da música.
Como o tempo é bom, quando se tem lembranças.
Fecho os olhos, acalento a minh’alma e embalo a minha essência materna para seguir seus passos e suas seguras paradas infanto-juvenis para alicerçar o que queria,as firmes ações adultas superando todos os obstáculos, todas as ofensas pela redoma que criou por uma causa iluminada: viver e ser pela escolha certa e coerente, das tendenciosas e maléficas atitudes de certos adultos que lhe atingiam através de nós - seres criadores abençoados pelo Criador Maior - porque vislumbrava um mundo de bemóis, claves,acordes, partituras e inspiração, sob a batuta do estudo e da perseverança.
Como o tempo é bom para quem tem o que aguardar na alma, Menino!
Ouço sons, com o coração de mãe, porém, com o discernimento da maturidade, a sua performance como o músico que sempre quis ser e que nós, do seu mundo vivencial, acreditávamos pelo guerreiro que você sempre foi. E que fantástico, ouvindo, sentir a sintonia de tantas almas sensibilizadas pela proteção de Euterpe, deusa da música e da poesia lírica, unindo tendências, instrumentos e amor, muito amor pela arte escolhida.
Como o tempo passa, Menino!
Como a memória é vasta e rica, quando se guarda momentos, até indignos, para fortalecer o que se acredita!
E ela vem alertar ao meu coração a inutilidade de algumas negações ao presente que você queria e sempre quis dar à sua cidade amada, ao seu templo de nascimento e às suas raízes,porque a tradição atesta que,inúmeras vezes, não se abre braços em abraços aos filhos da terra que lhes brotaram.
Como o tempo passa, Menino que sempre acreditou em suas quimeras!
Agora, elas são realidade e que frutos floresceram!
Menino que cantou os gorjeios dos beija-flores na terra de São Jorge dos Ilhéus,hoje, recebe os aplausos de muitos seres iluminados que vivem sob a proteção do Cristo Redentor, numa despedida maravilhada por você, que voará para o país protegido pela norte-americana águia branca para, com certeza, alçar mais vôos sob a forma de melodia.
Agora, já embalo a saudade sadia e a ausência antecipada para dançar os cantos que você encantará o nosso coração, que sempre acreditamos em você.
Como o tempo passa, Menino!