sábado, 17 de maio de 2008

OS OLHARES DA FAXINEIRA DE ILUSÕES, A MULHER E O MUNDO DOS SONHOS.


Eu e minha mãe,Ilhéus, natal de 2007.

Descanso o corpo para observar e dedicar-me aos olhares...
Vejo, distante,aproximando-se, a Mulher que acompanhei pela vida, sendo referência de vida e de existência pacífica com os angustiantes momentos que intercalaram a sua essência,mas, que nunca foi vencida.
Lembro-me do amor que lhe dediquei, em silêncio, porque a ela não caberia saber entender o sentimento tão desconhecido na infância...Amava pela espontaneidade e pela nata afeição que tinha contida n’alma.
Olho para ela, e, diante de mim, reaparece uma outra pessoa!
Agora estamos aqui.Frente a frente, olhando-me sem enxergar e nem lembrar da fascinação que inspirava a todas as pessoas que, com ela conviviam,porque,agora, está ausente.
Em que lugar ficou escondido o ser que me surpreendia pela força, vitalidade e coragem incansáveis?
Para que direção a levaram, se não a encontro, mesmo estando à minha frente?
Por que apagaram o brilho daqueles olhos irrequietos, que traduziam a pessoa que lhes abrigavam?
O que norteia o olhar que agora encaro?
Por que a sensação de um animal acuado, indefeso, diante de gladiadores que anseiam sacrifícios, usufruindo de sua inércia diante de ações, antes, tão certeiras e que, às vezes,ela mesma se reconhece perdida?
O que fez assim?Muitas dores? As perdas inesquecíveis? As ausências conscientes ou as palavras certeiras que magoam?
Diante dela abaixo o meu olhar,porque a realidade está aqui, diante de mim,sob a forma de um ser frágil que está prestes a viajar para o mundo dos sonhos.

Um mundo paradoxal,porque inibe,mas libera...
Um mundo onde, inicialmente, só se escuta o que se quer e só se fala o que tem como lembranças boas, para depois, virar silêncios abismais...
Um mundo onde a personalidade faz cambalhotas, fica de cabeça para baixo, baila num espaço imaginário e libera os pensamentos escondidos, os desejos amordaçados e as vontades liberadas.
Diante da Mulher abaixo o meu olhar,porque reverencio a sua vida que preparou caminhos para tantas outras, que viu em cada uma delas a transferência de seus projetos implodidos pelas incompreensões de quem poderia abrir portas, escancarar janelas e ensinar a olhar as estrelas sem temores e nada fizeram.
Desviando o olhar, porque não suporto enxergar o que está latente, sinto vontade de chegar primeiro no mundo que lhe está sendo preparado (numa calada gratidão pelos ninhos que construiu para todos),para acolhê-la como merece, conduzindo os seus passos, às vezes inseguros, para um firme caminhar; abrindo braços para atender as suas vontades infantis que não conheceu, entregando-lhe todos os brinquedos que nunca ganhou, construindo o espaço que sempre sonhou e não conheceu.
Sinto-me impotente diante da certeza que é presenciar a força se transformar em fragilidade, porque é muito dolorido se ver adiante numa situação em que as palavras não serão ouvidas, os sorrisos não serão retribuídos, sequer as mãos serão estendidas,porque se habita no mundo dos sonhos, que é paradoxal: iniibe, libera e faz sofrer quem não está inserido nele.

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