segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O OLHAR DISTANTE DE QUEM ESTÁ TÃO PERTO...



Observo, à distância, aquela Mulher que tanto me ensinou. Busco resquícios da vitalidade que tanto me encantava e vejo , inanimada, a figura feminina que me guiou para a vida dando-me todas as razões para a importância do crescimento intelectual através do saber.

Silenciosa, embalando o pranto que não pode ser ouvido, procuro alguma resposta que me convença sobre o estado real da Mulher que agora está fugindo de todos para seu desencantado mundo de uma fantasia que não dá alegrias.

Por que o olhar distante de Alguém que está perto de mim e já está esquecendo do que somos,do que vivemos e em que momento estamos?
O que me dizem ou querem dizer os olhos da Mulher que sorriem ( ou estão paralisados num passado feliz?!),mas não sabem expressar o que sentem?

Estática na minha dor, procuro as muletas afetivas que não me amparam mais porque foram para outros espaços melhores e sinto que o estado de orfandade está ampliando a minha solidão.
A quem gritar minha incompreensão da dependência de uma Mulher que está desaprendendo os seus próprios passos, esquecendo dos nomes das pessoas especiais à sua vida e que precisa de trilhas vitais para seus rotineiros movimentos, antes tão rápidos e certeiros?

Em que momento a vida parou para a Figura feminina tão forte que foi o esteio de tantas vidas,agora, quase desconhecidas para ela?

Quem é essa Mulher que agora está hipnotizada pelas circunstâncias e que para diante da minha perplexidade e me faz ficar mais fraca porque não posso lhe dar a energia perdida?

Doem no meu corpo as marcas da angústia e da certeza de impotências diante de uma Mulher que sequer se lembrou de sua vida festejada, da felicidade vivenciada pelo bater de palmas, pelos desejos de mais e mais alegrias futuras e de uma data que sempre amou aplaudir: seu aniversário!
O seu olhar distante que duela com a sua presença tão perto de mim, faz com que eu inverta os papéis e sinta a importância de dar mãos, ensinar passadas e ações tão corriqueiras na vida para que a sua vida brinque comigo ,enganando a minha razão e brincando de mentirinha a afirmar que ainda sou a filha momentaneamente perdida em sua memória , sou a filha que não se esquece de sua Mãe!

Ana Virgínia Santiago
16/10/2010

Saudades de Mariá Ramos...





Cala a voz de uma Dama que soube fazer amigos em Ilhéus, mostrou o seu talento na arte da costura perfeita e eternizou a presença bonita e inesquecível nos ambientes que freqüentava e era muito amada.
Mariá Ramos personificou a grande mulher ao lado de um grande homem. Com Osvaldo Ramos, grande orador, formou o par que fazia bem a quem com eles convivia. E mesmo com a tristeza estampada no rosto, como uma deusa grega, manteve a dignidade dos seres especiais que dão mãos à tragédia imposta,mas não perdem a fé em Deus.
Fica aqui a minha última homenagem à minha madrinha de coração, à minha amiga que se foi deixando-nos órfãos daqueles olhos belíssimos que sorriam, falavam de amor e amizade.
Com certeza, Mariá está em lugares iluminado agora. 09/10/2010.
Ana Virgínia Santiago

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. Bertolt Brecht(1898/1956).

Para a coluna do DI do dia 02/10/2010

DIVAGAÇÕES


Enfim, chegado o tempo de ter liberdade para não ouvir lixos, chamadas absurdas, sorrisos com “cheese ou xis” (como queiram), de receber bofetadas a todo instante com a poluição visual e sonora, de conviver com tentativas de apertos de mãos, tapinhas nas costas, discursos frágeis sobre fulano ou sicrano.
Enfim, um tempo para não ficar sufocado em meu próprio espaço de convivência porque não posso impedir a tal liberdade de ação das pessoas que não respeitam o outro.
Enfim, ser apenas com meus pensamentos,minhas idéias formadas, meus gostares livres de influências ou apadrinhamentos.
Enfim, amanhã é dia da consciência( para quem tem...)!

Respeito... Viver em comunidade.

Ânsia de conviver com civilizados, com pessoas que podem ser a vizinha e o filho que não assimilam a educação doméstica com os princípios básicos que existe para os outros hora para dormir, para descansar, para vivenciar a tranqüilidade com a família ou alguns que exercitam suas preferências com queridos bichinhos de estimação que só enxergam outras portas para sujar...
Ânsia de presenciar gerações (que infantes, começam a viver) ouvindo,obedecendo e entendendo os ensinamentos de seus adultos, de vê-las aprendendo a formação do indivíduo, do saber respeitar o espaço com quem convive em suas ruas, em seus bairros, em seus lugares...

Ânsia de ver clarear muitos lares com pais enxergando mais do que querem ver, preocupados com os horários, com as companhias de seus filhos e os fazeres,além dos escolares...

Ânsia de aplaudir mudanças das pessoas que avaliam os bares não como um espaço em momentos de lazer, com papos agradáveis e companhias que valham a pena e sim como extensão ou peça principal de seus lares, porque encaram o místico e folclórico chavão de relaxar com uma geladinha e esquecer que saúde é primordial, é disciplina no comer e beber...

Enfim, espera de tempo para aproveitar a vida, absorver as maravilhas que ela nos dá como amizades que não sugam, seres especiais que dão orgulho, colegas que acrescentam, vizinhos que traduzem prazer.
Tempo para aproveitar a energia e a presença de quem pode, a qualquer momento ir para um outro lugar ou ao encontro de Deus..Para despertar e enxergar, com discernimento, quem é ou quem finge ser...

Respeito...

Ânsia de ouvir apenas a música que gosta, inebria a alma e que eleva o pensamento.
Ânsia de não ter a obrigação de “ tragar” os modismos musicais inexpressivos, verdadeiros insultos ao bom gosto que ecoam dentro de suas casas, independente da vontade.

Enfim, tempo ...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010



Mais momentos...
Hoje, 27/09.

Hoje é dia deles...




Salve, São Cosme , Salve,São Damião!

Para Gabriel, 25/09/2010


(retrato by Megan Elizabeth Provost -Austin-Texas)

O AMOR QUE ME NUTRE
( a um ser especial que aniversaria hoje)


O amor que me nutre é imensidão de sentires.
Chegou deixando o cheiro de alfazema no ar no início da primavera e ficou encantado na chegada do verão para nunca mais me deixar...
É vastidão de quereres...
Acompanha meus dias, meses e anos reconhecendo a mais bonita forma de crescimento num estágio de nunca parar...
É eterno e amplo no meu gostar.

Meu amor ampliou asas sempre em vôos amplos, em céus que me encantam e me amparam,
Em eterno estado de torpor feliz, de alegria hipnotizada para não sofrer mecanismos de mudanças, em olhares ávidos descobrindo construções de quem continua a velar...
É imortal na mais bonita e perfeita forma de amar.

O amor que me nutre sente vontade de presenças, de retorno às etapas que me fazia siamesa no sentimento primeiro e chegado com tantos sonhos e surpresas.
O nutrido afeto que me abriu horizontes firmando a certeza do encantamento eterno cria artifícios para esquecer as ausências que são naturais,mas, doem na síndrome do ninho vazio...
Ele pede a essência perto de mim.

O amor que me nutre é expansão e armazenamento de êxtases em seqüências que não possuem fim e não esgotam o nascimento de novos motivos que me fazem feliz.
É único e duo , pois convive com a pacificadora forma de amar sem limites especiais seres que alimentam e acalantam a minh’alma.

O amor que me nutre ...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Em 21/09/2010.

Setembro ...2010

Momento em setembro 2010


Ainda em agosto...2010


Mais um momento em agosto de 2010

Momento agosto II


Mudanças...ciclos vitais...momentos meus.

Momento III agosto 2010


A FAXINEIRA DE ILUEÕES ,A VIDA BANALIZADA E O DESRESPEITO QUERENDO O TRONO...


Agacho meu ser já tão cansado de espantos para fazer adormecidos os meus pensamentos que são gladiadores ferrenhos do querer paz.Por eles circulam tantas ações que me fazem mal...Por causa deles o sono grita rebeldia e recusa-se a descansar.
Por meus pensamentos as ações passadas tomam a dimensão de um grande “tsunami” e sussurram em meus ouvidos as palavras de ordem de traições e desamores, de ontem e que são refletidas até hoje...

A vida está sendo mercadoria de última categoria, tão banalizada, que o perigo diante de mim, dos meus afins e de quem não conheço, é tão constante que o chamamos de qualquer coisa menos desrespeito ao viver.
Passam por minha incredulidade ações rasteiras, frases e olhares infames, motins particulares, disputas desonestas, palavras lapidadas na mentira e na farsa que são vistas como doces e calorosas atitudes de companheirismo.

A vida estão banalizada... Tanto está esquecida em sua perfeita representação da ação de Deus, que acompanho os rumores de quem age com desamor. Que presencio quem deveria ser companhia na rotina diária passar contares para quem vive na farsa e na sabida arte de dissimular.
Espantada diante de marginais atitudes, vejo meu corpo gritar e sentir o peso da incredulidade e pedir colo e atenção humanos. E olho para todos os lados e não vejo quem eu queria ,porque foi passear nos espaços num corcel de paz e amor, tão longe de mim.

O que se presencia é tão ruim! O que faz uma pessoa odiar tanto outra, que lhe acompanhou, que viu crescer na vida, que lhe dispensou melhores anos e vê fechar, com frieza e indiferença, a porta do caminho a seguir?
O que impede as pessoas de serem adeptas da honestidade, tomarem coragem, fecharem um ciclo que acham tão maldito e dar paz a quem ofendem diariamente?

O que faz do ser humano alguém tão sádico que massacra as passadas de outro? E disfarçam suas frustrações sob a capa da bondade e calmarias de espírito?

A vida estão tão banalizada! Como parar a dor e a impotência do bem-querer, ampliadas pela distância num momento que um ser querido corre risco de vida?
O que fazer num momento em que armas engatilhadas são colocadas em sua fronte e a humilhação de estar rendida presencia seus pertences serem levados em nome da violência urbana e do tráfico numa cidade que sempre foi maravilhosa?

A vida está banalizada. E está sendo pisoteada quando observo nos ambientes pequenos a dimensão dos horrores que por ali são montados e projetados.
Ela está sendo desrespeitada quando vejo pessoas sendo encaradas como objetos de manipulação até quando necessárias e depois esquecidas.
A vida está banalizada quando sei que não são ouvidos as palavras certas, os gritos de alerta, os insistentes avisos de sinuosos labirintos que se transformarão em crateras gigantes.

A vida está sendo desrespeitada...
OMISSÕES... IRRESPONSABILIDADES... PREJUIZO PARA A SOCIEDADE. DE QUEM É A CULPA?


Todos os dias nossos sentidos são expostos a notícias de violência, desamor, desrespeitos, mal-quereres e à fragmentação do núcleo familiar.

Todos os momentos, pela rapidez das informações e inovações da interligação, sofremos, nos rebelamos, choramos e buscamos soluções para o que nos jogam na mente como lixos tirados dos monturos humanos, veiculados pela imprensa, pelos muitos blogs, pelas rádios, pelas conversas de quem conosco convive.

Todos os dias presenciamos deslizes de ações, bem pertinho de nós( não precisamos ir aos grandes centros), a começar por invasão nos semáforos, descumprimento das placas de sinalização, adultos irresponsáveis com crianças soltas pelo que resta de passeios e acostamentos, ciclistas desobedecendo as regras básicas do trânsito.
Todos os dias somos vítimas de “trancadas” ( quando não levam os retrovisores dos carros!)de alguns apressados motoqueiros que não valorizam nem a própria vida...

O que acontece com a nossa sociedade? Por que tantos exemplos diários veiculados em todo o mundo que nos escandalizam e machucam o nosso entendimento, continuam a acontecer muitos ,exatamente, iguais ao que nos chocou?

De quem é a culpa?

Das omissões. Das irresponsabilidades rotineiras que vão macerando a sociedade, a comunidade que vivemos, o nosso direito de ir e vir, de trilhar as linhas coerentes da vida e os nossos direitos e deveres de cidadãos!

De quem é a culpa?

Da família ou do que resta dela em alguns lares...
Das estúpidas observações e atos de mães neuróticas que usam seus pequenos para alimentar desajustes conjugais, como joguetes humanos, em intermináveis partidas de pingue-pongue e esquecem que são responsáveis pelo crescimento dos filhos.
Dos pais ausentes que se esquecem do alicerce necessário dos filhos, mesmo que estejam em casas diferentes, que serão adultos mais adiante,com distorções de caráter e de comportamentos estranhos.

De quem é a culpa?

Dos pais omissos e irresponsáveis que precisam dar exemplos aos filhos pré e adolescentes, impondo-lhes limites, abrindo cortinas da vida, iluminando caminhos pelo ensino e diálogo e não os deixando até tarde da noite em “papos” com os amigos em certas áreas de lazer( muitas transformadas em pontos de outras coisas mais, tirando o direito de moradores descansarem, absorverem ar puro de uma natureza belíssima) onde “rola” tudo...

Quem são esses amigos? Quem é novato ou novata no grupo que chega à noite e depois vai embora e não tem comportamento espontâneo do jovem sem medos, que não esconde seu rosto sob bonés?

Quem são esses filhos lá fora de casa, mesmo que estejam em seu bairro?O que estão fazendo esses meninos, essas garotas, meu Deus, que os pais não procuram saber?
É só abrir a porta da casa, desligar a televisão, esquecer das mazelas novelísticas e buscar a realidade ali pertinho!

De quem é a culpa de tanta transgressão, de tantas passadas marginais de jovens que estão com a vida em florescimento e daqui a pouco podem perecer no auge da existência?

Cadê os pais de tantos jovens que estamos vendo dia a dia, noite a noite, alimentando vícios, comportamentos diferentes, maneira de ser divergindo do que tinham?
Cadê os omissos pais, os irresponsáveis avós que possuem a guarda dos netos, os adultos dos mundo vivencial desses jovens que não estão enxergando o que eu, os vizinhos e os moradores de seus bairros estamos vendo de forma tão clara?

Estamos acompanhando a deterioração de uma faixa etária imensa pela irresponsabilidade dos adultos omissos.
Tudo que está acontecendo é fruto deles.
Que pena!
O DESENCANTO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES



Começa o dia da mulher que sobrevoa o limite do palpável para habitar na surreal paisagem do encantamento.
Porque possui a mágica de lidar com especiais habitantes do mundo de fadas, gnomos, anjos e alados pássaros, ela exerce a poética função de aspergir, limpar, polir e varrer o que não se enxerga,mas, vê, o que não se toca,mas, sente e o que não se escuta,porém pode ser lido pelo olhar.
Porque a realidade que está vivenciando a preocupa a mulher absorve a essência da Faxineira de Ilusões para poder sobreviver e não morrer... de angústia por não ser ouvida, de piedade por nada poder fazer.
Questionando as ações humanas de sua aldeia que , no momento, a entristece, a Faxineira de Ilusões busca respostas para tantos desacordos, frutos de deslizes de formação e vê a cegueira anímica de quem deveria estar em vigília...
Olha o espaço que nasceu de um sonho e de idéias grandes, poderia estar imponente e radiosa e vê a energia esvair-se por tantos desacertos e falta de direcionamentos.
O que fazer ali, com seu labor, para amenizar o que está acontecendo? De que forma aspirar ações maléficas se a raiz permanece intacta alimentada pelos diversos desvios que aniquilam qualquer forma de bem querer?
Como limpar, varrer, escoar tudo que é construído com palavras malvadas e atitudes tortas se não pode ser escutada?
O que aflige a mulher que tem a missão de limpar sujeiras , cortar arestas daninhas, queimar desonestidades e plantar iluminados pensamentos é a solidão!
A solidão de estar acompanhada por tantas vozes que não sabem escutar.
A solidão de não ver comungada a idéia bonita de construção para tantas construções na aldeia.
O que atormenta a Faxineira é a constatação dos passos silenciosos, de mascaradas vozes macias,de ações sub-reptícias, do desconforto de olhar e enxergar muito além, do ouvir e escutar vozes não faladas e da total abstração inconsciente de quem tem o poder e não o exerce de forma coerente e decente.
O que acontece num espaço tão pequeno e que cresce, à velocidade da luz na intrigante política de cultura de corredores,tão comum na infante construção?
O tempo esfria cada vez mais fazendo com que pessoas busquem nos agasalhos o calor necessário ao contato corporal…A umidade que se alastra naquele espaço que poderia estar tão grande, ultrapassa os limites das paredes para atingir as mentes e pensamentos cambaleantes dos humanos tortos que estão entrando pelas portas, infiltrando o mofo por todos os lados e alimentando os bolores tão nocivos à vida e à alma.
Precavida, a Faxineira adota a política do silêncio, do não ouvir, nada falar,nada olhar. Exerce o seu direito de preservar a dignidade, aconchegar a probidade tão importante em sua formação e preparar-se para abrir as portas e fechá-las, com cuidado, silenciosamente para não demolir o que está ruindo.
Fechar, desencantada, as portas depois de ter arrumado um pequenino espaço que existe dentro do espaço maior para não ser transformado na famosa caixa de Pandora e, se for aberta, não permitir que fechem a tampa novamente deixando dentro dela a mais perfeita possibilidade de sobrevivência do Homem: a esperança!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

94 ANOS DE UM BEM-QUERER


94 anos...
Piso num chão tão familiar... Num alicerce que me transporta para tantas lembranças. Cada quadrado, cada desenho geométrico dos espaços internos levam o meu coração à emoção de ser parte de uma família especial, de ter sido aluna Ursulina e sentir orgulho por isso.
Entro todos os dias, reverenciando, a Mãe Piedade, num espaço dedicado à reflexão, ao crível, ao verdadeiro, para, silenciosamente, falar do meu amor por esta Casa, da gratidão de ter passado à minha infância e adolescência os valores primordiais que fazem do Homem um ser especial.
Alegro-me com a preservação do espaço físico que Madre Thaís tanto amou, porque o marco da educação na região grapiuna não pode ruir.
Uma Casa que teve Maria Garcia a “guardando” a portaria, até seus
Últimos dias e que formou Roquelina Cardoso uma amada defensora da Piedade.
Entristeço-me, também, com a falta de interesse - de alguns que chegam – na história,na bonita memória de quem ainda está conosco para preservar o que deverá ser eterno e na falta de sensibilidade de atentar para isso. Madre Madalena, atenta à memória da sua Casa,está fazendo falta...
Mas, o amor que Madre Thaís e Madre Terezinha do Menino Jesus Decroq implantaram na Piedade e souberam enraizar em ex-alunas fiéis,e mais tarde,em ex-alunos, não perecerá.
94 anos...
Percorro esses pátios imensos e rigorosamente limpos, transportando-me para tempos passados, para as minhas lembranças, ouvindo os passos seguros e silenciosos das religiosas que, de negro, mais tarde de branco e de cinza, enfeitavam as galerias, impunham disciplina e valores de dignidade e a imagem daquelas mulheres, hábitos limpos e bem passados, terço imenso na cintura, parava ou alegrava as alunas, as “meninas” da Piedade e deixavam seus ensinamentos.


Ali, naqueles sapotizeiros, mundos foram descortinados e ou desconstruídos. As conversas, os segredos, os planos e os sonhos, muitos, foram firmados ali, à sombra das frutas doces e saborosas que Irmã Teresa Sodreau, a amada irmã da cantina, ia colhendo e guardando no imenso avental de operária de Cristo.
Irmã Benilda, hábil na arte do crochê e tricô,querida religiosa fazendo falta em nossos pátios...Irmã Celeste, meiga doceira...
E as mangueiras! Quantos sapatos perdidos ali que o fiel Sr. Cândido depois ia recolhendo e entregando às suas donas, que, de meias, continuavam a assistir as aulas, saciadas do mel das frutas tiradas...
Sinto o passado tão presente neste espaço que completou 94 anos no dia 15!
Como esquecer ir. Bernadete, artista nata e dedicada guardiã da Igreja, do Santíssimo e dos seus paramentos e objetos, a pausadamente me falar da vida, a me ensinar costura, “fuxicos” e bordados em ponto cruz e vagonite ( como uso até hoje!!!) e a exemplificar, com suas ações (desconhecendo isso) que tolerância, silêncios e respeito à hierarquia são importantes e que amizade profunda é prova de Deus.
Saudade de Irmã Consolação, outra dedicada religiosa nos cuidados com a sacristia que ocupa outras funções, agora.
Como esquecer D.Lourdes Melo, amiga fiel de ir. Bernadete, Mestra de Ciências, rígida no ensinar e tão amável na rotina de gente que amava e tinha naquela Casa uma ligação afetiva de amor.
Passo pela Escola Santa Ângela e abraço a saudade de duas guerreiras que amaram e construíram tanto naquele espaço beneficente: religiosas e irmãs em Cristo Ana de Jesus e Maria Clara.
Como esquecer a então Madre Maria Clara. Postura elegante,traços bonitos, gestos e voz seguros que acreditava na rigidez de atitudes como respaldo para crescimento,mas, que em minha infância e adolescência foi doce e amiga, passando o mesmo amor que nutria por meus pais e por mim para meus dois filhos. Sempre presente, sempre grata, sempre amiga.Agora, vivendo um mundo só seu...
94 anos de dedicação ao ensinar e ao formar jovens!
Sinto a nostálgica e benfazeja saudade de outras Mestras e Amigas. Santo Ignácio que me mostrou a importância de estudar português, Maria José, a querida “Mamusé”, ensinando religião de forma tão real, que aprendíamos a vivenciar os passos da Sagrada Família como se fosse “in loco”.
94 anos...quanto tempo, quanta presença!

Quantas saudades das festas naqueles pátios cheios de pessoinhas ávidas de vida e alegria! Dos maravilhosos jogos do VIP, sob a proteção de Prof. Hélio , de Frei Paulo, de Sr. Humberto Barbosa e sua fiel escudeira Ami!
Saudades da singela e da contemplativa Ir. Genoveva, espírito de luz que, sem visão, enxergava tudo e todos! Da querida Ir. Josefina que, nos últimos anos foi a companheira e acompanhante de todas as irmãs que já se despediam...E dos chamados ,pelo tocar do sino, da paciente Ir.Úrsula que, “comandante”do recreio, avisava os horários de pararmos a energia para retorno às salas.
Quanta saudade das filas formadas cantando os hinos brasileiros e o Serviam, da disciplina exigida.
E as Mestras inesquecíveis de minha geração?Palmas para D.Alina Benevides, ainda preservando o mesmo amor pela Casa que a acolheu. Aplausos para Sônia Cardoso, Elnita Motta e Cyléa Costa Cardoso, agora em outros céus, junto a Hildete Penalva, ex-aluna e ex-coordenadora e tantos outros seres especiais.
Piso no espaço que continua a me emocionar. E vejo o mesmo amor de ex-alunas em todas que ainda freqüentam ali. E testemunho o mesmo dedicado querer de Irmã Georgina, ex-aluna das Mercês que tem uma trajetória bonita no Instituto Nossa Senhora da Piedade, amando a Casa como se ali estivesse estudado, duas vezes Provincial e mais uma vez Diretora do INSP.
94 anos iniciando uma nova etapa, recebendo novos educadores, novas pessoas na equipe com o mesmo propósito de reverenciar a Casa que agora aniversaria.
São 94 anos de bem-querer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

SAUL BARBOSA

Grande compositor e músico SAUL BARBOSA viajou para as estrelas...Com certeza, seu espírito abrirá asas e ampliará seus vôos.
Saudades do talento e da garra do guerreiro menino que saiu de Ilhéus e firmou seu nome numa dimensão maior.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A UMA PEQUENA GRANDE MUILHER QUE NÃO ENCONTRO MAIS...



Busco os seus olhos e não encontro a energia que me influencia até hoje e sinto saudades.
Perco-me no seu caos que agora transmite ao meu silencioso tormento, os borgeanos labirintos que, fatalmente, lhe encaminham ao proustiniano mundo perdido de Alzheimer.
Fujo de suas passadas, pequenas e incertas, como se estivessem queimando a minh’alma. E curvo -me diante da minha covardia por não ser forte e alicerce para você.
Pergunto ao meu coração:

Que imã a direciona ao alazão etéreo que sobrevoará as nuvens do esquecimento e lhe puxará mais e mais para longe de todos nós e nos impede de podar as asas dele e trazê-la de volta?
Que são os pensamentos conturbados que bailam em sua mente agora diante da grandeza da vida, que nos embalou por tanto tempo, que nos ensinou o Ser, com palavras e pulso fortes, sendo a Guardiã de todos e de tudo para que o nosso Homem de Bem buscasse subsídios para nossa vida?
Que são as frases repetitivas e incansáveis, os desconhecimentos de tantas rotinas , os rostos esquecidos, os nomes trocados, as imagens destorcidas, diante do sentimento grandioso que lhe apossou de duas gerações e deixou marcas profundas?

Fujo de você, Pequena Grande Mulher que não encontro mais, porque seu cérebro resolveu adormecer para não sofrer e me dá um sofrimento imenso!
A angústia que sinto diante de sua fragilidade me leva para longe, (superficialmente dando a noção de ser ingrata), cravando nos meus pensamentos e no meu sono que não chega,noite a noite, as lembranças, a gratidão de ter abrigado e amado, sem limites,a infância de meus dois filhos para que eu pudesse voar profissionalmente, as ações generosas com todos e as vontades reprimidas de gritar, momentaneamente, a rebeldia de não entender o seu momento atual.

Que sentimento esculpido em aço lhe abraça e lhe embala, Pequena Grande Mulher, que nem o mundo maldito de Alzheimer, a deixou esquecer o companheiro de mais de sessenta anos na caminhada da vida e, sofrida, o aguarda dias e noites, perguntando -se o que o fez fugir, a quem responsabilizar pela ausência do amado, o porquê dele nunca voltar...
Que mãos poderosas lhe levaram para o passado e recriam momentos, pessoas e nomes tão nitidamente que, às vezes, me faz pensar que acordou do sonho que tanto me magoa!
Que seres a protegem e impedem de retornar à realidade que tanto lhe fará mal?

Em eterna busca de respostas ( mas, já sei quais, meu Deus!), agacho meu ser macerado e doido pela saudade de quem tanto lhe amou e tento uma cumplicidade com o tal alazão que lhe leva para longe,porque é preciso sonhar, encontrar afinidades com o seu novo mundo , o mundo particular dos sonhos,para não sofrer tanto.

É preciso sonhar, sonhar, levitar, levitar nos pensamentos, até atingir a plenitude que você, pequena Grande Mulher atingiu.
Só assim reconhecerei o pacificado patamar de minha finitude para entender que você, em breve,não saberá mais quem eu sou,mas, eu, eternamente, saberei quem é você!
MUDANÇAS E MUDANÇAS

Mudanças vão acontecendo...
Mudam opiniões, olhares, passadas pesadas que ainda percorrem certos corredores e dizimam ações anteriores.
Mudam os homens e seus pensamentos que são distorcidos e perambulam na corda bamba dos falsos equilibristas da vida.

Como acontecem mudanças!
Mudam as fachadas das casas que recebem novas cores e fazem das ruas alegria e luz.
Mudam as casas que comerciam seus produtos, umas fecham suas portas e dão espaço para novas serem abertas.

Mudanças vão acontecendo...
Imagens são estampadas em ocasiões e ao lado jamais imaginadas, fruto das mudanças sutis( ou não) dos pensamentos que fraquejam ...

Como acontecem mudanças!
Mudam os homens que trocam suas fêmeas, as mulheres que trocam de homens e, aos pares, mudam de cadeiras.
Mudam as pessoas e seus cargos, de forma irracional porque os sentidos são mais aguçados pela audição
E as mudanças são formalizadas, porque são necessários novos postos, novos ocupantes, novas filosofias.

Mudanças vão acontecendo...
Como mudam divisórias para aplacarem as vaidades humanas!
Como tiram do lugar as homenagens para serem esquecidas!
Como mudam as pessoas pelas pessoas que chegaram depois!
Mudam tudo, mudam todos e ficam no mesmo lugar.

Como acontecem mudanças!
Como sofrem quem gosta de boas transformações!
Como são inibidas as palavras de quem não crê em pseudo-mudanças!

Mudanças vão acontecendo...
A Mulher vê a cada dia o seu mundo desmoronar, com tudo para modificar, para melhor,mas olha para trás e vê pessoas que sofrerão sua partida. E entra em seu casulo e sofre pelo sonho desfeito, mais uma vez.
O Homem, sozinho, encontra (?) alento no mutismo e na metódica forma de construção de seu mundo particular. Talvez a sua escolha o deixe em plenitude...
A Menina precisa de cuidados, de afetuosa atenção porque cresceu antes do tempo.Sua vida mudou e roubaram-lhe os brinquedos infantis, dando-lhe farpas perigosas para brincar.
O Menino cauteloso que já está Homem aguça seus olhares e sua percepção de vida, escolhendo quem quer amar.

Como acontecem mudanças, meu Deus!

terça-feira, 6 de julho de 2010



O QUE OS SEUS OLHOS QUEREM FALAR?
Para minha mãe, a quem eu queria perguntar...

Pergunto baixinho ao meu coração o que tanto me intriga:
o que seus olhos querem falar?
O que eles procuram dizer ao meu atônito estado de desespero que busca forças maiores para não quedar diante de sua imagem parada e que me faz tanto mal?
O que seus olhos querem falar a mim, ser impotente e angustiado por nada poder fazer?
O que seus olhos querem falar, sorrindo de forma apática, acompanhados de palavras compassadas,mas, compreensíveis pela força do amor?
Por que não esquece de mim e joga no esquecimentos algumas outras imagens que tanto amou?
O que seus olhos querem falar? Do que sorriem, sem o brilho que lhe deixava tão guerreira?

Falo com meu pensamento diante de um momento de introspecção e temor pelo conhecimento que, ávida, busco nas literaturas específicas, mas, que ainda faço resistência?
Por que a sua cognição adormeceu e pediu acalantos quando deveria gritar para continuar latente?
Por que convivo tanto com um vocabulário antes desconhecido e que cada vez mais me deixa de mãos e voz atadas e me coloca em posição fetal, tentando ser, eu, a dependente de sua vida?

O que seus olhos querem falar?

Por que mobilidade ausente, degeneração, linguagem verbal que silencia estão martelando na minha mente e me faz questionamentos grandiosos e temerosos diante de passadas lentas, dificuldade de movimentos, esquecimento de ações básicas que nos ensinou e a outra geração?

O que seus olhos querem falar?


Voltam à memória as lembranças de nossas vidas num processo decrescente, brincando de esconde-esconde com a realidade que me atormenta para enganar um pouco o que me deixa triste, porque minhas passadas foram guiadas por suas mãos( agora, trêmulas e sem direção), minha essência foi crescendo com suas ações, o que tenho e possuo me foi dado , dia a dia, ano a ano, por seus sacrifícios de mulher que sempre possuiu a varinha de condão de mãe a fazer maravilhosas mágicas,a abdicar de tantos sonhos para incensar os nossos sonhos.
Porque a vida esqueceu-se de bater à minha porta, avisando-me que haveria o momento de romper elos afetivos desligando-se da realidade, sonho acordada, poderosa no que quero colocar nele para amenizar a minha saudade antecipada de um ser tão forte, tão presente na vida de todos nós que presenciamos sua trajetória atual.

O que seus olhos querem falar, por favor, me diga!

Não deixe que meu coração fique em fuga constante na luta entre o conhecimento e o desespero, na certeza de fases malditas que me beliscam todos os dias e vão chegando uma a uma sem nada temer.
Não permita, mesmo já estando tão ausente de nós, que nos desgarremos de seu domínio, da natureza forte que norteava nossos corações.

Que sua presença fique em silêncio,mas, por favor, deixe que eu decifre o que seus olhos querem me falar!

sábado, 12 de junho de 2010

Deus e a natureza...

Edição do dia 11/06/2010

11/06/2010 22h29 - Atualizado em 11/06/2010 23h48
Menino sobrevive na selva por oito meses com ajuda de macaco
Esse pequeno Tarzan foi encontrado por um pescador. Para sobreviver, Fernando bebia a água e comia a polpa do coco verde. Ele se alimentava também de um caramujo grande.
Beatriz Thielmann
Ilha de Príncipe, África

Duas ilhas formam um país inteiro: São Tomé e Príncipe. Para onde quer que a gente olhe percebe-se que os deuses da criação deixaram no local uma assinatura definitiva, a de que não há limite para o belo.
Mal se vê o país no mapa. Ele é tão pequeno e tão fascinante, encravado na costa da África Ocidental, cercado por todos os lados pelo Oceano Atlântico.
Todo o território de São Tomé e Príncipe mede pouco mais de 1.000 km2 que hospedam um santuário no continente africano: uma floresta equatorial. É a mistura perfeita de tons que contrastam com as rochas vulcânicas. As praias estão entre as mais bonitas do mundo.
E as matas, intocadas desde que os portugueses descobriam essas ilhas em 1470, guardam um tesouro. O país africano, de 160 mil habitantes que falam a língua portuguesa, é cheio de encantos e mistérios.
Agora, contaremos uma estória incrível. Até parece ficção, saída de um livro de aventuras infantis. Quem nunca ouviu falar no menino Mogli - o garoto criado pelos bichos em uma das florestas mais fascinantes do mundo? E o Tarzan? São lendas que encantaram gerações e mexeram com a nossa imaginação, mas a aventura que descobrimos nessas ilhas é pura realidade.
O cenário é uma floresta africana. O personagem é uma criança, um menino que com apenas 8 anos teve que enfrentar desafios quase impossíveis de serrem vencidos para sobreviver: mata fechada, medo, bichos que ele nem conhecia, escuro da noite, gritos que ninguém escutava. Durante oito meses, Fernando ficou perdido na floresta.
Pela primeira vez, depois de três anos, o garoto concordou em voltar ao lugar de tantos pesadelos. O acesso requer coragem. A estrada vira caminho, vira atalho, vira desafio. Duas horas e meia depois, chegamos ao ponto onde tudo começou.
O menino nunca tinha visto um boi: animal raro na Ilha de Príncipe. “O boi começou a ir para a mata e comecei a acompanhar boi”, lembra Fernando Neves Umbelino, hoje com 11 anos.
E a curiosidade dele se transformou em um desespero. “Ele foi com o boi a uma longa distância e não conseguiu regressar. Passamos dia e noite à procura dele”, conta Frederico Neves Umbelino, irmão de Fernando.
E nada. Os moradores da cidade, a equipe de resgate: todos foram ajudar nas buscas. “Procuramos durante duas, três semanas, e não o encontramos”, revela Frederico.
Fernando conta que, no princípio, quando viu que estava perdido, ele gritou pelos irmãos e que ninguém escutava. “Sentia vontade de ver meu pai, minha mãe, meus irmãos. Chorei muito. Eu pedi a Deus, ao anjo da guarda para estar com a minha mãe”, diz o menino.
E assim foram os 240 dias e noites que ele passou isolado. “Eu procurei bastante o caminho, mas não consegui ver”, afirma Fernando.
Ele ainda revela que, na hora de dormir, se escondia debaixo de uma pedra. O irmão Frederico conta que a família sofreu muito com o desaparecimento de Fernando: “foi muito difícil. Não comia, passava a vida a chorar”.
Fernanda Neves Umbelino, a mãe do menino, conta os momentos em que mais se lembrava de que o seu filho estava na floresta: “no momento em que eu ia para cama, não via ele ir para cama, e no momento de refeição, em que colocava a mesa e sentia falta dele”.
Mas Gervásio Umbelino, o pai de Fernando, nunca perdeu a esperança: “eu nunca tirei a chave da porta da minha casa, principalmente à noite. A chave estava sempre na porta. A qualquer momento, ele podia aparecer e podia calhar de não estar ninguém em casa, mas, com chave na porta, ele conhece a casa muito bem, ele podia chegar e entrar”.
Na floresta, as lembranças do menino vêm à tona. Fernando faz questão de mostrar como se acomodava quando escurecia. Ele se encaixa com facilidade entre as pedras cheias de limo. Como sempre estava à procura do caminho de casa, trocava de pedras com frequência.
E como nas revistas em quadrinho ou nos desenhos animados, Fernando encontrou na floresta um amigo inseparável: um macaco.
O menino conta que o animal não saía de perto dele, ficava por perto o dia inteiro e a noite toda. O macaco trepava no coqueiro, pegava coco, quebrava o coco e dava para o menino.
Fernando bebia a água e comia a polpa do coco verde. Ele se alimentava também de um caramujo grande, que nasce nos troncos das árvores. Hoje, na vizinhança, ele é conhecido como o pequeno Tarzan. Não faltou valentia para honrar o título.
Quanto mais Fernando tentava achar o caminho de volta, mais ele se distanciava de casa. Um dia, chegou a uma praia selvagem, totalmente deserta, até que avistou um pescador e levou um susto. “Senti medo de ele fazer qualquer coisa má”, revela o menino.
Medo e espanto também foram as sensações do pescador Inocêncio dos Prazeres, quando viu de longe o garoto: achou que era assombração.
Eu rezei um ‘Pai Nosso’. Comecei a pedir Deus, pedir Jesus Cristo para me ajudar, me dar coragem para chegar perto do menino. Ele saltou de uma ponta a outra e fez um pulo igual a um macaco. Ele não queria que eu chegasse perto dele. Quando segurei ele , ele estava só limo”,
Quando foi encontrado, as roupas de Fernando estavam só trapos. “Ele estava com muito medo. Eu também tive medo”, afirma Inocêncio.
Fernando teria virado o menino da selva? O primeiro a receber a notícia de que ele tinha aparecido foi o pai. A mãe precisou de calmante. Os pais lembram a volta do menino à cidade: “quando chegamos, a praça estava uma multidão. Ele olhou e começou a rir. Mas foi lá que lágrimas começaram”.
Lembrar o reencontro com o filho, naquele dia, traz de volta momentos de dor e de alegria.
A estória de Fernando não termina aí. A aventura revelou o que para muita gente deste lugar ainda era desconhecido: o poder da comida de cada dia dessa população. Quando voltou para casa, nem desnutrido o menino estava. A mãe não tem dúvida. A razão da resistência física ela nos mostra no terreiro de casa.
“Eu faço comida com folha de maquequê, folha de matabaleria. Dou fruta, dou banana”, afirma Fernanda Umbelino, a mãe do menino.
Seria este o segredo da força de Fernando? A aventura do menino na selva pode criar um novo capítulo na história da medicina. Cientistas não conseguem entender por que o garoto não contraiu malária.
Uma hipótese: o maquequê que ele comia todos os dias, em casa, pode ser uma espécie de vacina natural contra a doença. Será que este povo terá descoberto, sem saber, o princípio da comida medicinal?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cecília Meireles - poema publicado na Revista Festa de 1927 (com ortografia vigente na época)

Volvi os olhos para dentro
Extendi os braços sobre o mundo,
- E o meu coração fluia sobre as creaturas
Como um rio perenne...
E eu era uma fonte serena, a perder-se...

Em todas as coisas que havia,
Não havia mais nada de mim:
Nem lembrança da minha figura!
Nem notícia da minha passagem!

E eu me sentia tão longe...

Mas ru ainda eras muito mais para lá,
O' terra das victorias perfeitas!
E o esforço de te alcançar me levantava
Tão firme, tão alto, tão em dôr
Como uma grande montanha barbara,
De pedras asperas,
Muda,
Amarga,
Sem ninguém...

quinta-feira, 10 de junho de 2010


(Madona com Menino Jesus, de Cândido Portinari)


A MULHER E O SER AMADO QUE ESTÁ LONGE.


Como impulsionada por um desejo interior e incontrolável Ela para na tarde para vencer seus instigantes pesadelos momentâneos. Como gladiadora utópica, que precisa vencer suas lutas interiores, sente a fome dos poetas que precisam do invisível para alimentar a sua alma,porque precisa ser forte.
Conseguindo fixar o pensamento inebria-se com a cor dos céus e com a hipnótica imagem que a natureza joga em sua totalidade para quem quiser.
Veemente na vontade de mudar os ares, situações e pessoas, porque o tempo é curto, Ela busca a tão aguardada resposta que só poderá chegar dos céus. E acredita! E busca ajuda num ser que também acredita na luz para fortalecer o seu amado que está tão longe.
Chora todos os prantos contidos no coração porque não tem com quem dividir a angústia do ser amado tão longe, que estende as mãos pedindo ajuda e grita gritos silenciosos e doídos,porque precisa soltar os grilhões repentinamente aparecidos.

Na tarde fria, numa solidão pela dor aguda, que lhe completa, a Mulher, em pensamento e na crença da atração pelo campo magnético apascenta as dores e o desespero do amado ser que, de longe, pede ajuda estendendo as mãos...
E sofre as mesmas dores, sente o peso do desespero,chora as mesmas lágrimas, porque o ser que lhe é ligado espiritualmente precisa voar pelo dom, vencer os feios olhares e voar para pousar em chão firmado pelo talento pisando em terras longínquas, que já lhe abre portas, escancara janelas e lhe aponta o infinito como boas vindas.

Na fria tarde que embaralha seus pensamentos, Ela segura na firme sintonia com os deuses e heróis invisíveis que tentam lhe afogar.
Busca forças na voz sofrida e trêmula do amado ser que está longe e, segurando sua dor, recebe energia para dizer ,como Kurosawa, que a luz existe para clarear o túnel...e que as águas limpam tudo...

A tarde fria que fica propicia à alternância térmica do ser e da alma, impulsiona ao contrario, a Mulher que sente as mesmas dores de anos atrás,porque é preciso parir tantas vezes forem necessárias, para acalmar o ser amado que está tão longe... E sente prazer na dor para parir a calmaria que ele precisa.

Na tarde fria que inebria e acalanta seu desespero, a Mulher ouve o que acreditava que escutaria e escuta o que queria ouvir.
E chora um pranto novo porque feito de paz.
E, de longe, abraça como pela primeira vez foi feita, o ser amado que permanece perto de seu coração.
E agradece aos céus e retoma a caminhada bruscamente interrompida, porque precisava parar para fortalecer a sua fé.

quarta-feira, 9 de junho de 2010


ORAÇÃO A SANTANA


Virgem Maria, Nossa Senhora do SS. Sacramento, "belo Sacrário de Deus entre os homens", Mãe de Cristo e nossa Mãe, rogai por nós. Dai-nos um ardente amor pela Eucaristia, "belo sol da Igreja".

Renovai, sem cessar, em nossos corações o espírito de ação de graças, de adoração e de louvor.

Vós, que sois o Modelo de fidelidade no amor, ajudai-nos a nos tornar, pelo Espírito Santo, uma oferenda viva para a glória do Pai e para a salvação do mundo. Fazei de nós testemunhas alegres e apaixonadas de Jesus Cristo.

Atraí, para Ele, numerosos adoradores para amá-Lo e fazer que O amem em sua Eucaristia, fruto da árvore da Cruz.

Conosco, rogai ao Mestre da seara, enviar-nos operários para que seu Reino venha, e todos os homens possam comungar, um dia, o Pão que dá a vida eterna.
Amém.


PRECE A NANÃ
Mãe protetora de todos nós. Senhora das águas opulentas. Deusa das chuvas benévolas. Deixa cair sobre nós a chuva divina da tua bondade fecunda e infinita. Salubá Nanã Buruquê! Purifica com tuas forças nossa atmosfera para que possamos ser envolvidos pelos teus olhos maravilhosos. Salubá Nanã Buruquê! Salubá!

Oração ao Pai Oxossi

Meu pai Oxóssi!
Vós que recebestes de Oxalá o domínio das matas, de onde tiramos o oxigênio necessário á manutenção de nossas vidas durante a passagem terrena, inundai os nossos organismos coma vossas energia, para curar de nossos males!
Vós que sois o protetor dos caboclos, dai-lhes a vossa força, para que possam nos transmitir toda a pujança, a coragem necessária pra suportarmos as dificuldades a serem superadas!
Dai-nos paz de espírito, a sabedoria para que possamos compreender a perdoar aqueles que procuram nossos Centros, nosso guias, nossos protetores, apenas por simples curiosidade, sem trazerem dentro de si um mínimo da fé.
Dai-nos paciências para suportarmos aqueles que se julgam os únicos com problemas e desejam merecer das entidades todo o tempo e atenção possível, esquecendo-se de outros irmãos mais necessitados!
Dai-nos tranqüilidade para superarmos todas as ingratidões, todas as calúnias!
Dai-nos coragem para transmitir uma palavra de alento e conforto aqueles que sofrem de enfermidades para quais, na matéria, não há cura!
Dai-nos força para repelir aqueles que desejam vinganças e querem a todo custo magoar seus semelhantes!
Dai-nos, enfim, a vossa proteção e a certeza de que quando um caboclo, num gesto de humildade, baixar até nós, ali estará a vossa vibração! (http://povodearuanda.wordpress.com )

ORAÇÃO A SÃO JORGE

Chagas abertas, Sagrado Coração todo amor e bondade, o sangue do meu Senhor Jesus Cristo, no corpo meu se derrame hoje e sempre.
Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal.
Armas de fogo o meu corpo não o alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem.
Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder de sua Santa e Divina Graça, a Virgem Maria de Nazaré, me cubra com o seu Sagrado e divino manto, me protegendo em todas minhas dores e aflições, e Deus com a sua Divina Misericórdia e grande poder, seja meu defensor, contra as maldades de perseguições dos meus inimigos, e o glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria de Nazaré, e em nome da falange do Divino Espírito Santo, me estenda o seu escudo e as suas poderosas anulas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, do poder dos meus inimigos carnais e espirituais e de todas sua más influências, e que debaixo das patas de seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer que me possa prejudicar.
Assim seja com o poder de Deus e de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
Amém.

segunda-feira, 7 de junho de 2010



"Ó gloriosa Mãe guerreira, dona das tempestades,

Protegei-me eu e minha família contra os maus espíritos,

Para que eles não tenham forças de atrapalhar minha caminhada,

E que não se apossem da minha luz.

Ajudai-me para que as pessoas más intencionadas

Não destruam minha paz de espírito.

Mãe Iansã, cubra-me com seu manto sagrado,

E leve com a força dos seus ventos tudo que não presta para bem longe.

Ajudai-me na união da minha família, para que a inveja

Não destrua o amor que há em nossos corações.

Mãe Iansã, em vós eu creio , espero e confio!

Que Assim seja e Assim será ! "

Oração a Nossa Senhora da Conceição

Virgem Santíssima,
que fostes concebida sem o pecado original
e por isto merecestes o título
de Nossa Senhora da Imaculada Conceição
e por terdes evitado todos os outros pecados,
o Anjo Gabriel vos saudou com as belas palavras:
"Ave Maria, cheia de graça";
nós vos pedimos que nos alcanceis
do vosso divino Filho o auxílio necessário
para vencermos as tentações
e evitarmos os pecados e,
já que vós chamamos de Mãe,
atendei-nos com carinho maternal
e ajudai-nos a viver como dignos filhos vossos.
Nossa Senhora da Conceição, rogai por nós.


"Quando a tristeza invade meu peito eu clamo:OXUM
Quando as lagrimas invadem meu rosto eu clamo:OXUM
Minha poderosa mãe do espelho e das águas Minha rainha soberana da doçura e do amor Tenha piedade dos que sofrem e choram
Que o tempo do seu rio se apresse em trazer a esperança e a alegria.
Minha senhora dona dos céus azuis das pedras,dos seixos,da beleza e das águas límpidas como a paz.
Que o seu espelho revele a sorte nos meu passos errantes.
Que suas mãos frágeis e delicadas sejam o conforto em minha caminhada.
Que eu seja bendito no seu coração de mãe!"

PAUL BRUNTON:

PAUL BRUNTON:
“Pensemos num ponto colocado sobre uma folha de papel em branco. A geometria define ponto como sendo uma posição sem grandeza, portanto não tendo qualquer dimensão. Vale dizer que o ponto não contém nada no seu interior e que não há lugar para ser colocado alguma coisa dentro dele”. “Nessa análise ver-se-á que o ponto não é um absoluto espacial e por isso o espaço, tal como o exposto, ele ao mesmo tempo existe e não existe”.
"Aceitemos o convite, sempre aberto, da quietude. Experimentemos sua singular doçura e atendamos à sua instrução silenciosa."
"No ritmo intenso da vida moderna, a conquista da paz interior torna-se uma necessidade"

domingo, 6 de junho de 2010

RELER O QUE SE ESCREVEU ONTEM...E SENTIR SOLIDÃO, NOVAMENTE...

É POSSIVEL SENTIR SOLIDÃO NUMA NOITE LINDA NO RIO DE JANEIRO?

Estar no Rio de Janeiro e sentir solidão é possível? Claro que sim!Hoje estou só...não só ausente de companhias, mas, uma solidão quente, querente e impossível de tangê-la.Uma solidão cheia e enriquecedora, porque pensante...
Ouço Modinha com Gabriel (violão) e Joana Queiroz (clarinete),numa intimista interpretação que dá mais nó no coração...
Por mim passam tantas coisas pela mente...
Que lamento bonito, som suave, corda e sopro. Que saudade! Saudade antecipada,porém, encantadora, porque já é falta de presença,mas,felicidade,porque será crescimento de um amor especial.
Saudade de mim, que um dia me perdi de minha essência, porque acreditei que as pessoas não se transformam no sentimento quando crescem,mesmo sendo um outro amor especial.
Solidão para pensar, colocar idéias amestradas...Solidão pelo medo de ter mudado e não aceitar, adiante, braços abertos,mesmo de seres especiais...
Solidão de vozes, risos, encantos e barulhos...
Solidão das certezas de que frestas iluminadas se tornam amplidão de luz e rumam para o espaço onde não há lugar para querências menores e demonstração de amor,porque acreditam ser grandes e esquecem que tudo é essencial...
Solidão de reconhecimento dos lugares afetivos que se esvaem, das ternas ações que criam elos e, pasma, reconheço aqui, numa noite bonita no Rio de Janeiro, que eles são vulneráveis e podem, e como podem!, ser rompidos.Basta-se apenas que se abra a porta para desconhecidas pisadas e invasão nas entranhas de quem, um dia, foi criador e não reconhece mais a criatura...
Saudades, tantas saudades!
É possível sentir solidão numa noite linda no Rio de Janeiro? Sim, como é possível!
Mas, a canção, em corda e sopro, que me encanta e vai crescendo no espaço que me acolhe, me dá a leveza para entender os desamores, mesmo que eles cheguem por quem a gente não espera,mas, os recebe como num abraço,porque são conscientes, logo,certeiros e direcionados.

Ana Virgínia Santiago
Rio de Janeiro, terça-feira, 10 de Junho de 2008.
AS OBSERVAÇÕES DA MULHER QUE CAMINHA NA MADRUGADA.

A Mulher que caminha pelas manhãs tem o que contar de suas andanças pelos campos, ruas, jardins e calçadas...
É só querer ouvi-la.
Observa a primavera em sua grandeza colorindo a estrada, com tons e nuances diversos e reverencia a Presença de Deus pelo caminho. E questiona ao seu coração, por que nem todos as pessoas que passam pela estrada, observam a beleza de cada árvore, das casas humildes que iniciam o dia com seus moradores abrindo os braços para os céus, indo ao trabalho, crianças buscando o saber, nativos em suas diversas características e a estação encantada apresentando suas obras:flores, árvores, cores e cheiros.
A cada manhã, o milagre da vida impõe a sua grandeza!

A Mulher que caminha para o labor,na manhã iniciada, sente a alegria contagiante dos agraciados com a beleza, porque tem a oportunidade de ver a vida pulsando cedinho, muitas vezes,a neblina estimulando a precaução,em outras, a história de vidas e famílias andando pelos acostamentos com suas mães protegendo os filhos em direção às creches e às escolas rurais,para não serem continuação com suas heranças de desinformação e vendas no cognitivo.

A Mulher que anda pela manhã, às vezes, passa pelo espaço urbano e vê pessoas cuidando da saúde, grupos formados que preservam o roteiro ano após ano, jovens entendendo o valor da vida saudável e inúmeros cumprindo as metas orientadas pelos homens da saúde.
Tudo reporta ao viver!

A Mulher que caminha na manhã que surge tem as suas conversas interiores, pede proteção a quem acredita e ninguém vê, conversa com seu coração todas as mágoas que lhe deixaram marcas, numa forma de exorcizar as dores que não querem ir embora e aplacar as ausências que lhe afetam e lhe fazem tantos males.
Ela tem um ser encantado dentro de si que lhe conta mistérios, lhe faz afagos com doces versos, canta as canções que esqueceram de lhe ensinar e direciona seus pensamentos sempre para a linha da serenidade.Ele habita em sua essência e brinca de esconder para que ela sorria, quando as lágrimas estão intensas.

A Mulher que caminha na manhã que lhe guia para o labor, observa...observa...observa e se cala.
Receber São João e Copa do Mundo de look novo!!!!! rs



UMA MULHER, A SOLIDÃO, O EFÊMERO E A AVENIDA PAULISTA.

O início de uma noite de fim de inverno em São Paulo marcava a sua rotineira função: garoar, garoar, garoar...
Do táxi, a Mulher olhava os transeuntes que percorriam a longa avenida...
Num momento estressante de carros e pessoas, o chuvisco beijava a alma de tantos seres que, passos apressados, tinham compromissos e não podiam parar.
A Avenida, centro nervoso da cidade, já era despedida de final da tarde, iluminando-se em toda a sua extensão, traduzindo a “loucura” de uma cidade que não pára...
Por que tanta pressa?
O que aquela Mulher, enquanto ia para o seu destino, espreitava do táxi, paralisando o seu olhar?
O que a tornou tão pensativa? O transportar pensamentos, abraçar idéias, embalar emoções ou o amparo do seu espírito tão angustiado e extasiado de momentos novos?
O que inibia de tanto silêncio a Mulher, quando a sua alma gritava pelo novo, pelas descobertas feitas e pela vida tentando acordá-la, congelando o seu olhar?
O que ela olhava tanto? O que lhe despertava tanta atenção?Por que as imagens imediatistas daquela longa avenida adormeceram em sua alma aquele momento em que a garoa insistia em permanecer, impedindo-a de andar, andar, andar, lavar o rosto e a alma? O que a fazia estática dentro daquele táxi?
O que a Mulher viu?
Ela viu e conheceu naquele instante único todas as respostas para a sua vida questionadora.
Viu na longa avenida que não pára, numa transversal, uma mulher contrastando com tudo que a Mulher( de dentro do táxi) estava vendo naquele momento e respondia às suas indagações silenciosas: mãos nos bolso do longo sobretudo negro, uma figura feminina iluminava toda a Avenida. Cabelos molhados pela chuva fina, passos lentos, como se a paz estivesse habitada em sua essência, parava, aguardando, no semáforo, o momento de prosseguir.
A Mulher, de dentro do táxi, acompanhou, com o olhar aquele ser sumindo na Avenida, na longa Avenida da cidade que não pára, sozinha, com seus lentos passos (que divergiam dos outros seres apressados), introspectiva figura, numa solidão tão linda e num momento único que, sem saber, havia mostrado à Mulher que espreitava do táxi, o efêmero da vida!
Emocionada, guardou aquela imagem.
Mas, a feminina figura solitária, mãos nos bolsos do longo sobretudo negro, que caminhava com passos lentos, ficou guardada para sempre n’alma da Mulher que, de dentro do táxi, olhava os transeuntes que seguiam seus destinos na grande Avenida da cidade que não pára.

Ana Virgínia Santiago

Existe presente maior? Bárbara foi à minha sala no trabalho e deixou recados no quadro. Maravilha total!!!!



DAR UM TEMPO PARA O TEMPO...
Ana Virgínia Santiago



Dar um tempo,
para o tempo de pensar,
rever atitudes,
abrir gavetas emocionais
e acariciar lembranças que fizeram bem.

Dar um tempo para o tempo de recomeçar!

Dar um tempo,
para o tempo de olhar para trás,
apagar passadas incertas,
Abrir as mãos em conchas para abrigar energias tão ansiadas e
Espiar nas “janelas drummondianas” as esperanças que foram esquecidas.

Dar um tempo,
para o tempo ser modificado em fênix
e ressuscitar os sonhos que foram pisados,
transformar as pessoas que foram escolhidas de forma errada, em estátuas de sal,adormecê-las...
e voltar a ver outros seres que foram esquecidos por conta de utopias.

Dar um tempo,
para o tempo de retroceder,
avaliar atitudes que poderiam ser certas,ficaram impossíveis de sobreviver, mas, abrigaram a insensatez de raciocínios frios e insensíveis.

Dar um tempo,
para o tempo buscar a menina que foi enganada,
traída em seus sentimentos e em seus ideais e
Fazê-la (re)encontrar outros olhares, que habitam em outros céus, em outros mundos e foram vedados para seu entendimento.


Dar um tempo,
para o tempo de abrir janelas para que as frestas de luz ganhem o mundo,
Dar um tempo
Par ao tempo de voltar ao enternecimento das emoções bloqueadas pelo desamor,
De Interpretar as inúmeras palavras que não são esquecidas...
Dar um tempo
Para o tempo de conjugar verbos malditos e inaceitáveis
E aprender as lições rudes e traiçoeiras.

Dar um tempo,
para o tempo de frear as angústias,
Conter as tristezas,
Dar cores às saudades
Florescer as recordações, fazendo-as brotarem no coração entristecido.

Dar um tempo,
para o tempo amenizar as ausências de caráter,
Amparar as ações malévolas,
Fortalecer o campo que magnetiza e produz energia,
Para enfrentar quaisquer males que possam surgir.

Dar um tempo,
para o tempo de questionar por que tantas atitudes vãs,
tantas máscaras inúteis e inexpressivas
se quem as usam já são autênticos vilãos
e suas passadas já mostram os vãos dos absurdos?

Dar um tempo
Para o tempo de mudar de vida
Pisar novo chão
Enriquecer outras paredes
Satisfazer sonhos antigos
Poder criar, enfeitar, colorir
sem cárceres, sem impedimentos, sem recados destorcidos.




Dar um tempo
Para o tempo das despedidas
Do eternizar passadas frágeis, olhares perscrutadores, pedidos mudos pelos encanecidos contares de vida...
Para o tempo de colher, como caçadores de borboletas,
Os vôos do absurdo proustiano mundo perdido de quem sempre abriu caminhos, dizimou obstáculos e alçou velas brancas...

Dar um tempo
Para o tempo de esquecer
Tudo que faz mal
Tudo que foi doído
Tudo que machuca
Tudo que macerou a alma

Dar um tempo!

domingo, 30 de maio de 2010

A felicidade de ser mãe de Gabriel e Mariana.




A faceirice de Mariana no dia do Índio, com 3 anos.
No sorriso de Gabriel a pureza da infância.( com 2 meses)

A felicidade de ser mãe...o prazer de ter meus dois filhos Gabriel e Mariana



Agradecer a Deus, sempre, a dádiva de ter sido escolhida para abrigar nesta vida, Gabriel e Mariana como meus filhos.

sábado, 29 de maio de 2010

ANJOS, ARLEQUINS, FADAS E PALHAÇOS NO MUNDO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES.


Apaziguando suas angústias, pela reclusão, a Faxineira retornou ao seu labor, passeou pela aldeia e reencontrou pessoas que lhe faziam ampliar a visão da vida.
Espantada, encontrou uma Mulher que sofria as dores do parto ao contrário, tentando fazer o retorno, ao seu ventre, da menina que se perdeu e está amparada por confusas opiniões e caminha para um labirinto sem fim...
E, diante de um visual magnífico que atesta a presença de Deus, a Mulher contou suas aflições e embalou suas mágoas, questionando o verdadeiro papel de quem acalanta ,por meses, um ser em formação. Para que o sentido aguçado da sensibilidade enternecendo os sonhos, os projetos de bonecas, os desejos de passeios estelares, se o crescimento do serzinho que tanto preencheu suas alegrias, agora, na contra-mão, esquece do papel iluminado da mulher que, sublimada, abriu as fronteiras da maternidade e se transformou em mãe.
Silenciosa, a Faxineira nada conseguiu falar, porque a dor lancinante da ingratidão, marca a alma e faz perecer, e, revigorando o coração , a Faxineira, pela energia da água que tinha à sua frente, caminhou e iniciou a sua missão. Aspirar, varrer, limpar, espanar.
Entrando no surreal e dalístico mundo, viu anjos que descansavam suas energias, fadas que aguardavam seus momentos especiais,arlequins que escondiam, em preto e branco, “o sublime rei de um exército de fantasmas” e palhaços, inúmeros palhaços, que , em profusão, confundiam os transeuntes.
E, como metáfora vidente, falavam, gesticulavam e agiam como tais personagens camufladas.
Por que a amizade é colocada debaixo dos tapetes para dar espaço às cédulas e moedas, que são requisitos maiores de sobrevivência de muitos?
Em que mundo foi criado o encouraçado ser que camufla, esnoba e desfaz o que é dito para o vento?
E a Faxineira começa a aspirar as impressões negativas que estão no ar. E lava as passadas sub-reptícias que enfeiam os passeios de tantas ruas. E, asperge os olhares que congelam, ferem e matam. Olhando ao redor de tantos espantos, ela enxerga um clarão e conversa com uma sábia senhora que, em sua humildade, profetiza verdades. E que, para espanto de muitos, conversa com seres invisíveis, ouve seus lamentos, suas preocupações, seus recados e enxuga lágrimas de quem foi mãe e sempre será maternal proteção...
A aldeia está mudada. A mulher que chora pelo retorno da menina que gosta da lua, sente que o traço vital já está firmado pela inconseqüência e incompreensão. E , triste, encontra o desamparo e a decepção. E dá as mãos à solidão.
Haveria oportunidade de ver uma Fada pairar nos sonhos da Mulher que se perdeu da menina e reconhecer o que ela vê, pressente e não pode ser acreditada?
A aldeia está mudada. Um espaço que antes era direcionado por uma fortaleza, agora está ruindo e um novo conceito de liberdade (?) foi implantado e vedou o que era espontâneo,até mesmo as desavenças, para ceder o lugar, a um arlequim dos labirintos borgeanos que se esqueceu dos espelhos que denunciam.
Há mudança na aldeia e a Faxineira de Ilusões caminha para o seu labor.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

“Jamais considere seus estudos uma obrigação, mas uma oportunidade invejável... para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade a qual seu futuro pertence” Albert Einstein

MONÓLOGO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES, NA MADRUGADA DA ALDEIA.


A Casa Amarela, de Van Gogh




Olho uma das mulheres que espiava pela janela, se desligou do mundo drummondiano para passear pelas incógnitas do espaço de Lewis Carroll na toca do coelho. Talvez numa tentativa de, encantada, transformar-se em Alice e constatar que existe um outro maravilhoso mundo. E, assim, quem sabe , ser um pouco feliz.

Observo-a e sinto-a triste, num desencanto de alma, numa desencorajada vontade de prosseguir pelo caminho que escolheu em nome de afetos e das gentes que povoam seu mundo vivencial e precisam de sua vida.

O que a faz tão solitária e ausente? O que a macula de forma tão profunda, que seu semblante desnudado agora está sem luz?

Vim da última viagem dos sonhos, agarrando de forma lúdica as lembranças que me energizam e fortalecem a minha tarefa de limpar, limpar, apagar, apagar e deixar limpos lugares e pessoas...
Com a nítida imagem do sentimento que, mesmo pela sétima arte, me inebria de esperanças e crença no bem-querer, esbarro com o antônimo de tudo que usufrui, ultimamente.

A mulher, minha amiga , que antes espiava o mundo pela janela, restrita aos raios solares recebidos pelas frestas iluminadas, aos poucos, foi desamarrando os elos que acorrentavam suas vontades e, acredito, com ânsia de liberdade, foi rápida demais em suas descobertas. E conheceu uma das temidas armas humanas: o desencanto de viver , pela indignidade.

O que a faz tão só e com apenas lampejos de felicidade paridos nos momentos fugidios do amor incondicional e inalterável? Por que não olham aquela mulher que precisa ser vista? Quem cegou a visão de quem convive com ela para nada ver?

Vim da minha última viagem dos sonhos... Alimentei a minha existência de utopias que me ajudam a viver. Olho minha aldeia com tanta dor pelas dores recentes, pelas mortes inevitáveis e inúteis; pelas irresponsabilidades jovens que não entendem a verdadeira função da vida. E sinto necessidade premente de higienizar muitas mentes, muitos seres que antes seriam especiais e que hoje passeiam pela rua da decepção e ,por enquanto, evito pisar, limpar, limpar... Para não poluir nem contaminar a minha alma cheia de alegrias.

A mulher que vagueia triste pela aldeia e deu as mãos à maturidade, ainda fica pasma pela inconsistência de atitudes de alguns. Parece-me que isso é um motivo por deixá-la tão entristecida e questionar como pode anos de convivência ser apagado da memória, desafiando as ações de pares e fixar-se em recente conhecimento por interesses pessoais?
Como dizer à mulher, sem magoá-la, que atitudes humanas normalmente fogem ao entendimento de quem vive em outro patamar? Que as ações escondidas são fortalecidas pelos sub-reptícios botes de messalinas que passeiam por ruas, becos, salas climatizadas, locais profissionais, assembléias específicas ou botequins nem sempre limpos?

O que falar para ela? Que escuto conversas de pessoas que me explicam a inexplicável desculpa das traições? Que se arrependem de atos que lhe usurparam o sossego e a harmonia de escolha antiga e que desmoronou?E que não são poucos?

Despeço-me da mulher e passeio meus olhares para as outras pessoas que vão chegando aos seus pontos de chegada. Quantas daquelas não estão com o pensamento idêntico ao dela,( que, por opção, saiu do mundo de Drummond) e que agora dividiu comigo?

Vou em busca do mar, do encanto bonito das ondas que embalam os pensamentos.
Espero a mudança de passadas erradas em prol do sossego do afeto.
Sinto a necessidade de buscar o alazão que transporta os alados seres com destino a Vênus e Centaurus,numa busca de fortalecimento para o que acredito.
Porque o sol anima os corações e na minha aldeia a luz continua a insistir mudanças...
"Que todos no mundo possam ser capazes de dormir sem medo, pelo menos por uma noite. Que todo mundo possa ser capaz de comer até se saciar, pelo menos por um dia. Que haja pelo menos um dia em que os hospitais não tenham pessoas internadas por causa da violência. Fazendo serviço altruísta, pelo menos um dia, que todos possam ajudar aos pobres e necessitados. Esta é a oração da Amma - que pelo menos este pequeno sonho seja realizado."
– Mata Amritanandamayi.

A espiritualidade nos ajuda a esquecer os conflitos externos e a perceber nossa união interna”
O amor não tem limitações de castas, raças, religiões ou nacionalidade."
Mata Amritanandamayi.

Deus é amigo do Silêncio." (M.Teresa de Calcutá).

“ A ARTE AUTÊNTICA NUNCA É REFLEXO. É SUPERAÇÃO. É TRANSCENDÊNCIA”
( ROGER GARANDY)

"SOMENTE DEPOIS DA ÚLTIMA ÁRVORE DERRUBADA, DEPOIS DO ÚLTIMO ANIMAL EXTINTO, E QUANDO PERCEBEREM O ÚLTIMO RIO POLUÍDO, SEM PEIXE, O HOMEM IRÁ VER QUE DINHEIRO NÃO SE COME”. (SÁBIO INDÍGENA).

"ENCHERAM A TERRA DE FRONTEIRAS, CARREGARAM O CÉU DE BANDEIRAS. MAS, SÓ HÁ DUAS NAÇÕES -A DOS VIVOS E A DOS MORTOS" (MIA COUTO)
“Uma poderosa ferramenta para nos ajudar a gerir com habilidade a nossa vida é perguntar antes de cada ato se isso nos trará felicidade. Isso vale desde a hora de decidir se vamos ou não usar drogas até se vamos ou não comer aquele terceiro pedaço de torta de banana com creme” Dalai Lama .

Honoré Balzac :

Essa cintura enche-me os olhos,e a alma torna-se fogo.Não tenho medo dos escolhos,não existem muros, mares, ou sóis, que me detenham.Sou imortal!Sou imortalmente material!Material, por uma paixão abrasadora tomar a forma do meu corpo;ela toma conta de mim, enche-me com tudo;enche-me, como se, em mim, contivesse o mundo.Mas estás sempre de costas para mim.Oh! Porque não te viras?Olha-me nos olhos... uma vez, enfim...pedidos em vão! Tu nunca me miras.Também, porque hás-de mirar um monstro indiferente,quando tens outros à tua frente?Sim. É o ciúme!É o receio de sentir o teu perfume na boca de um outro.Sei que não ouves palavras e sei que não compreendes estas línguas bárbaras,fazes senão bem ouvir a cabeça em vez do coração;ao menos tens saída, enquanto que eu não,em vez de me libertar, o amor aprisionou-me.Deixo-te em paz porque te amo,não te quero ver ao meu lado, na mesma cela,não quero cativar a estrela mais bela,não quero tirar-lhe o brilho que tanto amo:o brilho da liberdade,o brilho da estéril virgindade.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

PENSAR...PENSAR.

" A previsão permite atenuar a catástrofe" Bismark

"O que sei por confissão, sei-o menos do que aquilo que nunca soube" Santo Agostinho.

" A alma reluta em ser privada da verdade" (Epicteto)

domingo, 23 de maio de 2010

PALAVRAS NÃO DITAS


As palavras poderiam ser ditas...
Na simplicidade das ações,
Na transparência do caráter,
Na sinceridade do coração.

As palavras deveriam ser ditas
Amparadas na verdade,
Na lembrança da gratidão,
No socorro dos braços abertos,
Das mãos em doação.

As palavras poderiam ser ditas
Sem o escudo da traição,
Sem o recurso que Grahan Bell criou,
Para esconder as garras da ingratidão.

Mas, também, as palavras não ditas
Podem ficar no âmago da alma,
No aconchego do sentimento temeroso,
No infinito dedicado à essência.

As palavras não ditas
Às vezes, adormecem na vontade de serem faladas,
Mas, bloqueadas pelo temor de não serem entendidas,
Descansam na torturante angústia da solidão.

As palavras não ditas
Podem refletir uma inspiração,
Notas formando melodia,
Pequenas frases falando de imensidão,
Povos em harmonia para falar de amor.

As palavras não ditas
Muitas vezes, por atitude de amadurecimento,
Ficam travadas, impedindo uma explosão,
Que podem traduzir o caos de uma relação...

Ah! as palavras não ditas...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

POR QUE TANTO MEDO?



É madrugada. O silêncio- que deveria ser absorvido pelo descanso de cidadãos dignos que trabalham, cumprem seus deveres, deveriam ter seus direitos respeitados e merecem usufruir do sono para recarregar energias- é violado pelo pânico da possibilidade de estar sendo parte do tão lugar comum na vida brasileira: a violência, o assalto e o desafio grandioso de querer viver diante da insanidade de marginais.
Por que estamos com tanto medo?
Porque vivemos em estado defensivo, sob a tensão da violência, do medo e não podemos dormir em paz!
Porque não podemos deixar nossas janelas abertas para respirar ar puro, quando estamos em casa.
Porque nossas portas possuem trincos, cadeados, alarmes e grades, que aprisionam nossa liberdade de pessoas decentes.
Porque precisamos ficar acordados ,à noite, por causa de invasores que desrespeitam a vida e, vitoriosos( sim, vitoriosos), ficam impunes.
Porque somos impedidos de ficar em segurança em nossas casas, acorrentados ao temor do ser a próxima vítima.

Por que não dormimos boa parte da noite e ficamos à mercê de alarmes, cercas elétricas (dentre outros recursos modernos) e cães que latem num momento em que a tranqüilidade é prioridade?
Porque somos cidadãos que vivem na vulnerabilidade de uma sociedade que vê a impunidade como elemento principal de sobrevivência.

Por que temos tanto medo?
Porque uma pessoa ser ameaçada em sua própria casa, com uma arma apontada na cabeça, por um elemento nocivo, constata que ele está em liberdade porque não "estava com o furto nas mãos"...
E a arma?e o emocional, quem assumirá o pânico de uma família que passa por isso?
Quem conseguirá tirar o medo, eterno companheiro de homens dignos, que se alojou em todos os lugares?
E as horas de sono, perdidas na madrugada pelo temor de ouvir um alarme de carro ser acionado(já preventivamente instalado por causa de roubos) e temer pelas vidas que estão em seu espaço vivencial, como e de que forma poderão ser recuperadas?
E os vizinhos que acordam e, solidários, interrompem o sono para ficar em alerta?
Quem será punido por isso?

É madrugada. O silêncio fica mais angustiante pela espera do desconhecido, porque, prisioneiras do medo, as pessoas aguardam passadas rasteiras, vultos ameaçadores, buscam ruídos, fixam olhares nas fechaduras esperando o pior, vigiam as ruas pelas janelas trancadas e anseiam pela chegada do dia, sonhando com a parcial segurança, porque nada é impossível aqui, nesse duelo de vida e de morte...

É madrugada e, o fato de estarem acordadas, quando deveriam estar dormindo, mexe com as pessoas que estão sendo violentadas em sua privacidade e seu direito de ter paz.
Um grande amor
(Luiz Fernando Veríssimo)
Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança, mas alguém aparece para nos confortar.
Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar, é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.
Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram, descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrantado.
Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes :
a) a relação com a família;
b) as condições econômicas nas quais se desenvolveu (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter);
c) os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento;
d) seus sonhos, ideais e objetivos.
Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam, esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.

Aproveite ao máximo seus momentos de felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.
Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado.

Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.

Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa
certa em seu caminho.
A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna.

A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem, como acontece com muitas pessoas que cruzam nosso caminho.

SOU CATÓLICO, APOSTÓLICO, BAIANO.( Nizan Guanaes)

(Nizan Guanaes, 48, é publicitário e presidente da África Propaganda)
(Especial para a Folha de S.Paulo)


Sou devoto de Santo Antônio e de Nossa Senhora do Carmo. Entrei no candomblé, tardiamente, aos 20 e tantos anos, pelas mãos de Luiza Olivetto e Lícia Fabio, que me pediram para ajudar nas obras de restauração do telhado do Terreiro do Gantois.
Fui consertar o telhado do Gantois e o Gantois consertou minha vida. O candomblé não é uma religião. É um culto. Culto aos antepassados, às forças da natureza.
O candomblé é moderno. Ele já era ecológico antes que a ecologia entrasse em voga. Ele é avançado. Não exclui opções sexuais. Ao contrário, acolhe.
Os deuses do candomblé têm ira, inveja e raiva. Xangô é colérico. Oxum é ciumenta e chorosa. Ogum tem o pavio curto.
A religião católica quer que os homens sejam deuses. No candomblé, são os deuses que baixam nos homens.
Não é muito chique ser do candomblé.
Pelo menos na parte do país em que eu vivo. Como toda cultura vinda dos vencidos, é visto como desvio, coisa de gente desajustada ou de artista.
E confesso que isso, ao contrário de me afastar dele, sempre me instigou a caminhar contra o vento.
Toda sexta-feira, vejo, aqui e ali, o olhar jocoso com que algumas pessoas me olham vestido de branco.
Neste momento, sou judeu. Adoro como os judeus se afirmam pelo mundo usando suas barbas, seus quipás e seus casacos longos, onde convêm e onde não convêm.
Aliás, como estudante bissexto de cabala, vejo constantemente as similaridades entre procedimentos do candomblé e do judaísmo.
Eles também se preocupam com olho gordo, eles também passam frango no corpo, eles também se banham em sal grosso. Enfim, há muitas similaridades entre o candomblé e a cultura judaica.
O candomblé é, e isso precisa ficar bem claro, o culto do bem. Tantas vezes confundido com feitiço. Ele é magia. As grandes mães-de-santo da Bahia se dedicavam sempre ao bem e à luz.
Se, aqui e ali, alguém usou esses poderes santos para o mal, é descaminho. E contra ele a força deve ter se voltado com certeza. O catolicismo não pode ser julgado a partir de padres pedófilos. E o candomblé não pode ser julgado a partir de pais-de-santo picaretas que ficam se exibindo na TV ou fazendo macumbas perversas.
Tenho certeza de que na hora em que o Santo Padre pisar no Brasil, todas as mães-de-santo do país e seus filhos e filhas estarão rezando e saudando sua Santidade.
Ainda que a igreja não tenha sido nem seja tão generosa com o candomblé.
Mas o candomblé não está nem aí. Queira Roma ou não, na Bahia, igrejas e terreiros convivem e se abraçam. E isso é mágico.
E candomblé é magia. Aquela energia que a gente sente na Bahia vem dele. Aquela comida vem dele. Aquela música, aquela batida vem dele.
Aquela sensualidade e aquela pimenta vêm dele.
Sua Santidade, por ser padre e por ser alemão, talvez não tenha o mesmo jogo de cintura para assimilar tudo isso.
Mas meus olhos e meu coração não podem negar o bem que mãe Cleusa me fez. O bem que mãe Stella me faz. Coisas inexplicáveis que eu não entendi. Mas presenciei.
E não se pode negar o bem e as coisas mágicas que elas fazem pelos pobres. O candomblé sempre foi e continua pobre.
Não tem catedrais, nem TVs, nem rádios. Não faz coleta de dinheiro.
Ao contrário, as grandes mães-de-santo doam. Ao invés de lucrarem, vivem modestissimamente. E vivem consumidas dia e noite por todos aqueles que as procuram por um amor, pelo sossego perdido, pela paz nunca encontrada, pela esperança de cura ou de um amanhã melhor.
Vi mãe Cleusa, minha linda mãe do Gantois, morrer muito cedo, estressada por sua luta e sua dedicação à causa de sua mãe. Causa que hoje mãe Carmem, irmã da falecida, conduz com garbo, doçura e carinho.
Vejo mãe Stella, a maior mãe de santo do Brasil e a mãe de santo que eu escolhi, do alto dos seus 80 anos, consumir seus dias a dar ao povo pobre da Bahia, luz e esperança a setores da sociedade onde geralmente a luz e esperança não chegam.
Mãe Stela vive franciscanamente. Nunca fez voto de pobreza. Porque os pobres não precisam desse voto já que já são pobres.
O candomblé foi perseguido no passado pela polícia. Hoje é perseguido pelas igrejas evangélicas. Que escolheram o candomblé como bode expiatório num marketing infame.
E batem dia e noite no candomblé. Diante do silêncio lamentável de todos nós.
Bisneto de preto, neto de pobres, filho da Bahia, de mãe Cleusa e mãe Stella, teimosamente digo não a essa perseguição implacável. E defendo nosso direito democrático de acreditar na força do trovão, dos mares, do vento e da chuva.
Pode ser primário, mas é lindo. Quer coisa mais bonita do que acreditar que os deuses podem baixar entre os homens em lugares tão pobres onde nem a saúde, a educação e polícia se interessam em ir?
Por isso saúdo sua Santidade e peço a Xangô e a Oxum que guiem seus caminhos para que ele possa ser uma grande mãe ao longo de seu papado.
Que, além de encíclicas e regras, ele nos dê colo e carinho, porque o que o mundo mais precisa é de colo e carinho. Que ele seja o carinho da gente, a estrela mais linda. Que ele seja uma espécie de mãe Menininha global.
Porque, ao fazer isso, ele honrará o trono de Pedro e terá cumprido, no fim de seu papado, seu papel no tempo e na história.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

(Clarice Lispector em “Água Viva”)


( foto divulgação)

“... Aquilo que ainda vai ser depois – é agora. Agora é o domínio de agora. E enquanto dura a improvisação eu nasço.
E eis que depois de uma tarde de “quem sou eu” e de acordar á uma hora da madrugada ainda em desespero- eis que às rês horas da madrugada acordei e encontrei.
Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é “isto”. Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada.”

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Afogado mais bonito do mundo (Rubem Alves)

(De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher… “Essas mãos… Como são grandes! Que será que fizeram?” )

SOU ANTROPÓFAGO. DEVORO livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava…

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando, esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou: “Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao entrar em nossas casas. Ele é muito alto…”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher… “Fico pensando em como teria sido a sua voz… Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher… “Essas mãos… Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: um movimento nas suas carnes, sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, desejos proibidos aparecendo na superfície de sua pele, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.