domingo, 30 de maio de 2010

A felicidade de ser mãe de Gabriel e Mariana.




A faceirice de Mariana no dia do Índio, com 3 anos.
No sorriso de Gabriel a pureza da infância.( com 2 meses)

A felicidade de ser mãe...o prazer de ter meus dois filhos Gabriel e Mariana



Agradecer a Deus, sempre, a dádiva de ter sido escolhida para abrigar nesta vida, Gabriel e Mariana como meus filhos.

sábado, 29 de maio de 2010

ANJOS, ARLEQUINS, FADAS E PALHAÇOS NO MUNDO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES.


Apaziguando suas angústias, pela reclusão, a Faxineira retornou ao seu labor, passeou pela aldeia e reencontrou pessoas que lhe faziam ampliar a visão da vida.
Espantada, encontrou uma Mulher que sofria as dores do parto ao contrário, tentando fazer o retorno, ao seu ventre, da menina que se perdeu e está amparada por confusas opiniões e caminha para um labirinto sem fim...
E, diante de um visual magnífico que atesta a presença de Deus, a Mulher contou suas aflições e embalou suas mágoas, questionando o verdadeiro papel de quem acalanta ,por meses, um ser em formação. Para que o sentido aguçado da sensibilidade enternecendo os sonhos, os projetos de bonecas, os desejos de passeios estelares, se o crescimento do serzinho que tanto preencheu suas alegrias, agora, na contra-mão, esquece do papel iluminado da mulher que, sublimada, abriu as fronteiras da maternidade e se transformou em mãe.
Silenciosa, a Faxineira nada conseguiu falar, porque a dor lancinante da ingratidão, marca a alma e faz perecer, e, revigorando o coração , a Faxineira, pela energia da água que tinha à sua frente, caminhou e iniciou a sua missão. Aspirar, varrer, limpar, espanar.
Entrando no surreal e dalístico mundo, viu anjos que descansavam suas energias, fadas que aguardavam seus momentos especiais,arlequins que escondiam, em preto e branco, “o sublime rei de um exército de fantasmas” e palhaços, inúmeros palhaços, que , em profusão, confundiam os transeuntes.
E, como metáfora vidente, falavam, gesticulavam e agiam como tais personagens camufladas.
Por que a amizade é colocada debaixo dos tapetes para dar espaço às cédulas e moedas, que são requisitos maiores de sobrevivência de muitos?
Em que mundo foi criado o encouraçado ser que camufla, esnoba e desfaz o que é dito para o vento?
E a Faxineira começa a aspirar as impressões negativas que estão no ar. E lava as passadas sub-reptícias que enfeiam os passeios de tantas ruas. E, asperge os olhares que congelam, ferem e matam. Olhando ao redor de tantos espantos, ela enxerga um clarão e conversa com uma sábia senhora que, em sua humildade, profetiza verdades. E que, para espanto de muitos, conversa com seres invisíveis, ouve seus lamentos, suas preocupações, seus recados e enxuga lágrimas de quem foi mãe e sempre será maternal proteção...
A aldeia está mudada. A mulher que chora pelo retorno da menina que gosta da lua, sente que o traço vital já está firmado pela inconseqüência e incompreensão. E , triste, encontra o desamparo e a decepção. E dá as mãos à solidão.
Haveria oportunidade de ver uma Fada pairar nos sonhos da Mulher que se perdeu da menina e reconhecer o que ela vê, pressente e não pode ser acreditada?
A aldeia está mudada. Um espaço que antes era direcionado por uma fortaleza, agora está ruindo e um novo conceito de liberdade (?) foi implantado e vedou o que era espontâneo,até mesmo as desavenças, para ceder o lugar, a um arlequim dos labirintos borgeanos que se esqueceu dos espelhos que denunciam.
Há mudança na aldeia e a Faxineira de Ilusões caminha para o seu labor.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

“Jamais considere seus estudos uma obrigação, mas uma oportunidade invejável... para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade a qual seu futuro pertence” Albert Einstein

MONÓLOGO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES, NA MADRUGADA DA ALDEIA.


A Casa Amarela, de Van Gogh




Olho uma das mulheres que espiava pela janela, se desligou do mundo drummondiano para passear pelas incógnitas do espaço de Lewis Carroll na toca do coelho. Talvez numa tentativa de, encantada, transformar-se em Alice e constatar que existe um outro maravilhoso mundo. E, assim, quem sabe , ser um pouco feliz.

Observo-a e sinto-a triste, num desencanto de alma, numa desencorajada vontade de prosseguir pelo caminho que escolheu em nome de afetos e das gentes que povoam seu mundo vivencial e precisam de sua vida.

O que a faz tão solitária e ausente? O que a macula de forma tão profunda, que seu semblante desnudado agora está sem luz?

Vim da última viagem dos sonhos, agarrando de forma lúdica as lembranças que me energizam e fortalecem a minha tarefa de limpar, limpar, apagar, apagar e deixar limpos lugares e pessoas...
Com a nítida imagem do sentimento que, mesmo pela sétima arte, me inebria de esperanças e crença no bem-querer, esbarro com o antônimo de tudo que usufrui, ultimamente.

A mulher, minha amiga , que antes espiava o mundo pela janela, restrita aos raios solares recebidos pelas frestas iluminadas, aos poucos, foi desamarrando os elos que acorrentavam suas vontades e, acredito, com ânsia de liberdade, foi rápida demais em suas descobertas. E conheceu uma das temidas armas humanas: o desencanto de viver , pela indignidade.

O que a faz tão só e com apenas lampejos de felicidade paridos nos momentos fugidios do amor incondicional e inalterável? Por que não olham aquela mulher que precisa ser vista? Quem cegou a visão de quem convive com ela para nada ver?

Vim da minha última viagem dos sonhos... Alimentei a minha existência de utopias que me ajudam a viver. Olho minha aldeia com tanta dor pelas dores recentes, pelas mortes inevitáveis e inúteis; pelas irresponsabilidades jovens que não entendem a verdadeira função da vida. E sinto necessidade premente de higienizar muitas mentes, muitos seres que antes seriam especiais e que hoje passeiam pela rua da decepção e ,por enquanto, evito pisar, limpar, limpar... Para não poluir nem contaminar a minha alma cheia de alegrias.

A mulher que vagueia triste pela aldeia e deu as mãos à maturidade, ainda fica pasma pela inconsistência de atitudes de alguns. Parece-me que isso é um motivo por deixá-la tão entristecida e questionar como pode anos de convivência ser apagado da memória, desafiando as ações de pares e fixar-se em recente conhecimento por interesses pessoais?
Como dizer à mulher, sem magoá-la, que atitudes humanas normalmente fogem ao entendimento de quem vive em outro patamar? Que as ações escondidas são fortalecidas pelos sub-reptícios botes de messalinas que passeiam por ruas, becos, salas climatizadas, locais profissionais, assembléias específicas ou botequins nem sempre limpos?

O que falar para ela? Que escuto conversas de pessoas que me explicam a inexplicável desculpa das traições? Que se arrependem de atos que lhe usurparam o sossego e a harmonia de escolha antiga e que desmoronou?E que não são poucos?

Despeço-me da mulher e passeio meus olhares para as outras pessoas que vão chegando aos seus pontos de chegada. Quantas daquelas não estão com o pensamento idêntico ao dela,( que, por opção, saiu do mundo de Drummond) e que agora dividiu comigo?

Vou em busca do mar, do encanto bonito das ondas que embalam os pensamentos.
Espero a mudança de passadas erradas em prol do sossego do afeto.
Sinto a necessidade de buscar o alazão que transporta os alados seres com destino a Vênus e Centaurus,numa busca de fortalecimento para o que acredito.
Porque o sol anima os corações e na minha aldeia a luz continua a insistir mudanças...
"Que todos no mundo possam ser capazes de dormir sem medo, pelo menos por uma noite. Que todo mundo possa ser capaz de comer até se saciar, pelo menos por um dia. Que haja pelo menos um dia em que os hospitais não tenham pessoas internadas por causa da violência. Fazendo serviço altruísta, pelo menos um dia, que todos possam ajudar aos pobres e necessitados. Esta é a oração da Amma - que pelo menos este pequeno sonho seja realizado."
– Mata Amritanandamayi.

A espiritualidade nos ajuda a esquecer os conflitos externos e a perceber nossa união interna”
O amor não tem limitações de castas, raças, religiões ou nacionalidade."
Mata Amritanandamayi.

Deus é amigo do Silêncio." (M.Teresa de Calcutá).

“ A ARTE AUTÊNTICA NUNCA É REFLEXO. É SUPERAÇÃO. É TRANSCENDÊNCIA”
( ROGER GARANDY)

"SOMENTE DEPOIS DA ÚLTIMA ÁRVORE DERRUBADA, DEPOIS DO ÚLTIMO ANIMAL EXTINTO, E QUANDO PERCEBEREM O ÚLTIMO RIO POLUÍDO, SEM PEIXE, O HOMEM IRÁ VER QUE DINHEIRO NÃO SE COME”. (SÁBIO INDÍGENA).

"ENCHERAM A TERRA DE FRONTEIRAS, CARREGARAM O CÉU DE BANDEIRAS. MAS, SÓ HÁ DUAS NAÇÕES -A DOS VIVOS E A DOS MORTOS" (MIA COUTO)
“Uma poderosa ferramenta para nos ajudar a gerir com habilidade a nossa vida é perguntar antes de cada ato se isso nos trará felicidade. Isso vale desde a hora de decidir se vamos ou não usar drogas até se vamos ou não comer aquele terceiro pedaço de torta de banana com creme” Dalai Lama .

Honoré Balzac :

Essa cintura enche-me os olhos,e a alma torna-se fogo.Não tenho medo dos escolhos,não existem muros, mares, ou sóis, que me detenham.Sou imortal!Sou imortalmente material!Material, por uma paixão abrasadora tomar a forma do meu corpo;ela toma conta de mim, enche-me com tudo;enche-me, como se, em mim, contivesse o mundo.Mas estás sempre de costas para mim.Oh! Porque não te viras?Olha-me nos olhos... uma vez, enfim...pedidos em vão! Tu nunca me miras.Também, porque hás-de mirar um monstro indiferente,quando tens outros à tua frente?Sim. É o ciúme!É o receio de sentir o teu perfume na boca de um outro.Sei que não ouves palavras e sei que não compreendes estas línguas bárbaras,fazes senão bem ouvir a cabeça em vez do coração;ao menos tens saída, enquanto que eu não,em vez de me libertar, o amor aprisionou-me.Deixo-te em paz porque te amo,não te quero ver ao meu lado, na mesma cela,não quero cativar a estrela mais bela,não quero tirar-lhe o brilho que tanto amo:o brilho da liberdade,o brilho da estéril virgindade.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

PENSAR...PENSAR.

" A previsão permite atenuar a catástrofe" Bismark

"O que sei por confissão, sei-o menos do que aquilo que nunca soube" Santo Agostinho.

" A alma reluta em ser privada da verdade" (Epicteto)

domingo, 23 de maio de 2010

PALAVRAS NÃO DITAS


As palavras poderiam ser ditas...
Na simplicidade das ações,
Na transparência do caráter,
Na sinceridade do coração.

As palavras deveriam ser ditas
Amparadas na verdade,
Na lembrança da gratidão,
No socorro dos braços abertos,
Das mãos em doação.

As palavras poderiam ser ditas
Sem o escudo da traição,
Sem o recurso que Grahan Bell criou,
Para esconder as garras da ingratidão.

Mas, também, as palavras não ditas
Podem ficar no âmago da alma,
No aconchego do sentimento temeroso,
No infinito dedicado à essência.

As palavras não ditas
Às vezes, adormecem na vontade de serem faladas,
Mas, bloqueadas pelo temor de não serem entendidas,
Descansam na torturante angústia da solidão.

As palavras não ditas
Podem refletir uma inspiração,
Notas formando melodia,
Pequenas frases falando de imensidão,
Povos em harmonia para falar de amor.

As palavras não ditas
Muitas vezes, por atitude de amadurecimento,
Ficam travadas, impedindo uma explosão,
Que podem traduzir o caos de uma relação...

Ah! as palavras não ditas...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

POR QUE TANTO MEDO?



É madrugada. O silêncio- que deveria ser absorvido pelo descanso de cidadãos dignos que trabalham, cumprem seus deveres, deveriam ter seus direitos respeitados e merecem usufruir do sono para recarregar energias- é violado pelo pânico da possibilidade de estar sendo parte do tão lugar comum na vida brasileira: a violência, o assalto e o desafio grandioso de querer viver diante da insanidade de marginais.
Por que estamos com tanto medo?
Porque vivemos em estado defensivo, sob a tensão da violência, do medo e não podemos dormir em paz!
Porque não podemos deixar nossas janelas abertas para respirar ar puro, quando estamos em casa.
Porque nossas portas possuem trincos, cadeados, alarmes e grades, que aprisionam nossa liberdade de pessoas decentes.
Porque precisamos ficar acordados ,à noite, por causa de invasores que desrespeitam a vida e, vitoriosos( sim, vitoriosos), ficam impunes.
Porque somos impedidos de ficar em segurança em nossas casas, acorrentados ao temor do ser a próxima vítima.

Por que não dormimos boa parte da noite e ficamos à mercê de alarmes, cercas elétricas (dentre outros recursos modernos) e cães que latem num momento em que a tranqüilidade é prioridade?
Porque somos cidadãos que vivem na vulnerabilidade de uma sociedade que vê a impunidade como elemento principal de sobrevivência.

Por que temos tanto medo?
Porque uma pessoa ser ameaçada em sua própria casa, com uma arma apontada na cabeça, por um elemento nocivo, constata que ele está em liberdade porque não "estava com o furto nas mãos"...
E a arma?e o emocional, quem assumirá o pânico de uma família que passa por isso?
Quem conseguirá tirar o medo, eterno companheiro de homens dignos, que se alojou em todos os lugares?
E as horas de sono, perdidas na madrugada pelo temor de ouvir um alarme de carro ser acionado(já preventivamente instalado por causa de roubos) e temer pelas vidas que estão em seu espaço vivencial, como e de que forma poderão ser recuperadas?
E os vizinhos que acordam e, solidários, interrompem o sono para ficar em alerta?
Quem será punido por isso?

É madrugada. O silêncio fica mais angustiante pela espera do desconhecido, porque, prisioneiras do medo, as pessoas aguardam passadas rasteiras, vultos ameaçadores, buscam ruídos, fixam olhares nas fechaduras esperando o pior, vigiam as ruas pelas janelas trancadas e anseiam pela chegada do dia, sonhando com a parcial segurança, porque nada é impossível aqui, nesse duelo de vida e de morte...

É madrugada e, o fato de estarem acordadas, quando deveriam estar dormindo, mexe com as pessoas que estão sendo violentadas em sua privacidade e seu direito de ter paz.
Um grande amor
(Luiz Fernando Veríssimo)
Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança, mas alguém aparece para nos confortar.
Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar, é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.
Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram, descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrantado.
Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes :
a) a relação com a família;
b) as condições econômicas nas quais se desenvolveu (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter);
c) os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento;
d) seus sonhos, ideais e objetivos.
Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam, esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.

Aproveite ao máximo seus momentos de felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.
Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado.

Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.

Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa
certa em seu caminho.
A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna.

A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem, como acontece com muitas pessoas que cruzam nosso caminho.

SOU CATÓLICO, APOSTÓLICO, BAIANO.( Nizan Guanaes)

(Nizan Guanaes, 48, é publicitário e presidente da África Propaganda)
(Especial para a Folha de S.Paulo)


Sou devoto de Santo Antônio e de Nossa Senhora do Carmo. Entrei no candomblé, tardiamente, aos 20 e tantos anos, pelas mãos de Luiza Olivetto e Lícia Fabio, que me pediram para ajudar nas obras de restauração do telhado do Terreiro do Gantois.
Fui consertar o telhado do Gantois e o Gantois consertou minha vida. O candomblé não é uma religião. É um culto. Culto aos antepassados, às forças da natureza.
O candomblé é moderno. Ele já era ecológico antes que a ecologia entrasse em voga. Ele é avançado. Não exclui opções sexuais. Ao contrário, acolhe.
Os deuses do candomblé têm ira, inveja e raiva. Xangô é colérico. Oxum é ciumenta e chorosa. Ogum tem o pavio curto.
A religião católica quer que os homens sejam deuses. No candomblé, são os deuses que baixam nos homens.
Não é muito chique ser do candomblé.
Pelo menos na parte do país em que eu vivo. Como toda cultura vinda dos vencidos, é visto como desvio, coisa de gente desajustada ou de artista.
E confesso que isso, ao contrário de me afastar dele, sempre me instigou a caminhar contra o vento.
Toda sexta-feira, vejo, aqui e ali, o olhar jocoso com que algumas pessoas me olham vestido de branco.
Neste momento, sou judeu. Adoro como os judeus se afirmam pelo mundo usando suas barbas, seus quipás e seus casacos longos, onde convêm e onde não convêm.
Aliás, como estudante bissexto de cabala, vejo constantemente as similaridades entre procedimentos do candomblé e do judaísmo.
Eles também se preocupam com olho gordo, eles também passam frango no corpo, eles também se banham em sal grosso. Enfim, há muitas similaridades entre o candomblé e a cultura judaica.
O candomblé é, e isso precisa ficar bem claro, o culto do bem. Tantas vezes confundido com feitiço. Ele é magia. As grandes mães-de-santo da Bahia se dedicavam sempre ao bem e à luz.
Se, aqui e ali, alguém usou esses poderes santos para o mal, é descaminho. E contra ele a força deve ter se voltado com certeza. O catolicismo não pode ser julgado a partir de padres pedófilos. E o candomblé não pode ser julgado a partir de pais-de-santo picaretas que ficam se exibindo na TV ou fazendo macumbas perversas.
Tenho certeza de que na hora em que o Santo Padre pisar no Brasil, todas as mães-de-santo do país e seus filhos e filhas estarão rezando e saudando sua Santidade.
Ainda que a igreja não tenha sido nem seja tão generosa com o candomblé.
Mas o candomblé não está nem aí. Queira Roma ou não, na Bahia, igrejas e terreiros convivem e se abraçam. E isso é mágico.
E candomblé é magia. Aquela energia que a gente sente na Bahia vem dele. Aquela comida vem dele. Aquela música, aquela batida vem dele.
Aquela sensualidade e aquela pimenta vêm dele.
Sua Santidade, por ser padre e por ser alemão, talvez não tenha o mesmo jogo de cintura para assimilar tudo isso.
Mas meus olhos e meu coração não podem negar o bem que mãe Cleusa me fez. O bem que mãe Stella me faz. Coisas inexplicáveis que eu não entendi. Mas presenciei.
E não se pode negar o bem e as coisas mágicas que elas fazem pelos pobres. O candomblé sempre foi e continua pobre.
Não tem catedrais, nem TVs, nem rádios. Não faz coleta de dinheiro.
Ao contrário, as grandes mães-de-santo doam. Ao invés de lucrarem, vivem modestissimamente. E vivem consumidas dia e noite por todos aqueles que as procuram por um amor, pelo sossego perdido, pela paz nunca encontrada, pela esperança de cura ou de um amanhã melhor.
Vi mãe Cleusa, minha linda mãe do Gantois, morrer muito cedo, estressada por sua luta e sua dedicação à causa de sua mãe. Causa que hoje mãe Carmem, irmã da falecida, conduz com garbo, doçura e carinho.
Vejo mãe Stella, a maior mãe de santo do Brasil e a mãe de santo que eu escolhi, do alto dos seus 80 anos, consumir seus dias a dar ao povo pobre da Bahia, luz e esperança a setores da sociedade onde geralmente a luz e esperança não chegam.
Mãe Stela vive franciscanamente. Nunca fez voto de pobreza. Porque os pobres não precisam desse voto já que já são pobres.
O candomblé foi perseguido no passado pela polícia. Hoje é perseguido pelas igrejas evangélicas. Que escolheram o candomblé como bode expiatório num marketing infame.
E batem dia e noite no candomblé. Diante do silêncio lamentável de todos nós.
Bisneto de preto, neto de pobres, filho da Bahia, de mãe Cleusa e mãe Stella, teimosamente digo não a essa perseguição implacável. E defendo nosso direito democrático de acreditar na força do trovão, dos mares, do vento e da chuva.
Pode ser primário, mas é lindo. Quer coisa mais bonita do que acreditar que os deuses podem baixar entre os homens em lugares tão pobres onde nem a saúde, a educação e polícia se interessam em ir?
Por isso saúdo sua Santidade e peço a Xangô e a Oxum que guiem seus caminhos para que ele possa ser uma grande mãe ao longo de seu papado.
Que, além de encíclicas e regras, ele nos dê colo e carinho, porque o que o mundo mais precisa é de colo e carinho. Que ele seja o carinho da gente, a estrela mais linda. Que ele seja uma espécie de mãe Menininha global.
Porque, ao fazer isso, ele honrará o trono de Pedro e terá cumprido, no fim de seu papado, seu papel no tempo e na história.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

(Clarice Lispector em “Água Viva”)


( foto divulgação)

“... Aquilo que ainda vai ser depois – é agora. Agora é o domínio de agora. E enquanto dura a improvisação eu nasço.
E eis que depois de uma tarde de “quem sou eu” e de acordar á uma hora da madrugada ainda em desespero- eis que às rês horas da madrugada acordei e encontrei.
Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar.
O que te escrevo é “isto”. Não vai parar: continua.
Olha para mim e me ama. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada.”

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Afogado mais bonito do mundo (Rubem Alves)

(De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher… “Essas mãos… Como são grandes! Que será que fizeram?” )

SOU ANTROPÓFAGO. DEVORO livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava…

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando, esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou: “Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao entrar em nossas casas. Ele é muito alto…”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher… “Fico pensando em como teria sido a sua voz… Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher… “Essas mãos… Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: um movimento nas suas carnes, sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, desejos proibidos aparecendo na superfície de sua pele, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Para minha mãe, que vive no mundo do Alzheimer e não nos deixa entrar...


ALTA COSTURA
(As mãos de minha mãe)
(Autor Desconhecido)


No tecido da história familiar,
as mãos de minha mãe, reforçaram
as costuras para nos proteger
de qualquer empurrão da vida...
As mãos de minha mãe,
uniram um alinhavo às partes
do molde, sem esquecer que
cada uma é diferente da outra,
e que juntas formam um todo,
como a família...

As mãos de minha mãe,
fizeram bainhas
para que pudessem crescer, e não
ficassem curtos os ideais...
As mãos de minha mãe, remendaram
os estragos, para voltarmos a usar
o coração...sem os fiapos
do ressentimento...

As mãos de minha mãe, juntaram retalhos
para que tivéssemos uma manta
única para nos cobrir...
As mãos de minha mãe, pregaram
botões e presilhas, para que
não perdêssemos a esperança...

As mãos de minha mãe, aplicaram elásticos
para podermos nos adaptar folgadamente
às mudanças exigidas pelos anos...
As mãos de minha mãe, bordaram maravilhas
para que a vida nos surpreendesse
com suas dádivas de beleza...

As mãos de minha mãe,
coseram bolsos
para neles guardar moedas valiosas
das melhores recordações
e da minha identidade.

As mãos de minha mãe,
quando estavam quietas,
zelavam os meus sonhos
para que alimentassem
os meus ideais com o pó
de suas estrelas...

As mãos de minha mãe seguraram-me
com linhas mágicas, quando entrava na vida
para começar a vestí-la!
As mãos de minha mãe nunca abandonaram
o seu trabalho...
E sei muito bem que hoje, onde estiverem,
fazem orações por mim …
E eu …
Eu beijo-as como se recebesse bênçãos!

quinta-feira, 6 de maio de 2010



Mãe:

Que no mundo tão pessoal que agora sua vida habita
os sonhos sejam bonitos e iluminados
sendo traduzidos apenas por momentos especiais e inesquecíveis
que fizeram de você um ser muito especial para nós, que lhe amamos.