quinta-feira, 16 de setembro de 2010

94 ANOS DE UM BEM-QUERER


94 anos...
Piso num chão tão familiar... Num alicerce que me transporta para tantas lembranças. Cada quadrado, cada desenho geométrico dos espaços internos levam o meu coração à emoção de ser parte de uma família especial, de ter sido aluna Ursulina e sentir orgulho por isso.
Entro todos os dias, reverenciando, a Mãe Piedade, num espaço dedicado à reflexão, ao crível, ao verdadeiro, para, silenciosamente, falar do meu amor por esta Casa, da gratidão de ter passado à minha infância e adolescência os valores primordiais que fazem do Homem um ser especial.
Alegro-me com a preservação do espaço físico que Madre Thaís tanto amou, porque o marco da educação na região grapiuna não pode ruir.
Uma Casa que teve Maria Garcia a “guardando” a portaria, até seus
Últimos dias e que formou Roquelina Cardoso uma amada defensora da Piedade.
Entristeço-me, também, com a falta de interesse - de alguns que chegam – na história,na bonita memória de quem ainda está conosco para preservar o que deverá ser eterno e na falta de sensibilidade de atentar para isso. Madre Madalena, atenta à memória da sua Casa,está fazendo falta...
Mas, o amor que Madre Thaís e Madre Terezinha do Menino Jesus Decroq implantaram na Piedade e souberam enraizar em ex-alunas fiéis,e mais tarde,em ex-alunos, não perecerá.
94 anos...
Percorro esses pátios imensos e rigorosamente limpos, transportando-me para tempos passados, para as minhas lembranças, ouvindo os passos seguros e silenciosos das religiosas que, de negro, mais tarde de branco e de cinza, enfeitavam as galerias, impunham disciplina e valores de dignidade e a imagem daquelas mulheres, hábitos limpos e bem passados, terço imenso na cintura, parava ou alegrava as alunas, as “meninas” da Piedade e deixavam seus ensinamentos.


Ali, naqueles sapotizeiros, mundos foram descortinados e ou desconstruídos. As conversas, os segredos, os planos e os sonhos, muitos, foram firmados ali, à sombra das frutas doces e saborosas que Irmã Teresa Sodreau, a amada irmã da cantina, ia colhendo e guardando no imenso avental de operária de Cristo.
Irmã Benilda, hábil na arte do crochê e tricô,querida religiosa fazendo falta em nossos pátios...Irmã Celeste, meiga doceira...
E as mangueiras! Quantos sapatos perdidos ali que o fiel Sr. Cândido depois ia recolhendo e entregando às suas donas, que, de meias, continuavam a assistir as aulas, saciadas do mel das frutas tiradas...
Sinto o passado tão presente neste espaço que completou 94 anos no dia 15!
Como esquecer ir. Bernadete, artista nata e dedicada guardiã da Igreja, do Santíssimo e dos seus paramentos e objetos, a pausadamente me falar da vida, a me ensinar costura, “fuxicos” e bordados em ponto cruz e vagonite ( como uso até hoje!!!) e a exemplificar, com suas ações (desconhecendo isso) que tolerância, silêncios e respeito à hierarquia são importantes e que amizade profunda é prova de Deus.
Saudade de Irmã Consolação, outra dedicada religiosa nos cuidados com a sacristia que ocupa outras funções, agora.
Como esquecer D.Lourdes Melo, amiga fiel de ir. Bernadete, Mestra de Ciências, rígida no ensinar e tão amável na rotina de gente que amava e tinha naquela Casa uma ligação afetiva de amor.
Passo pela Escola Santa Ângela e abraço a saudade de duas guerreiras que amaram e construíram tanto naquele espaço beneficente: religiosas e irmãs em Cristo Ana de Jesus e Maria Clara.
Como esquecer a então Madre Maria Clara. Postura elegante,traços bonitos, gestos e voz seguros que acreditava na rigidez de atitudes como respaldo para crescimento,mas, que em minha infância e adolescência foi doce e amiga, passando o mesmo amor que nutria por meus pais e por mim para meus dois filhos. Sempre presente, sempre grata, sempre amiga.Agora, vivendo um mundo só seu...
94 anos de dedicação ao ensinar e ao formar jovens!
Sinto a nostálgica e benfazeja saudade de outras Mestras e Amigas. Santo Ignácio que me mostrou a importância de estudar português, Maria José, a querida “Mamusé”, ensinando religião de forma tão real, que aprendíamos a vivenciar os passos da Sagrada Família como se fosse “in loco”.
94 anos...quanto tempo, quanta presença!

Quantas saudades das festas naqueles pátios cheios de pessoinhas ávidas de vida e alegria! Dos maravilhosos jogos do VIP, sob a proteção de Prof. Hélio , de Frei Paulo, de Sr. Humberto Barbosa e sua fiel escudeira Ami!
Saudades da singela e da contemplativa Ir. Genoveva, espírito de luz que, sem visão, enxergava tudo e todos! Da querida Ir. Josefina que, nos últimos anos foi a companheira e acompanhante de todas as irmãs que já se despediam...E dos chamados ,pelo tocar do sino, da paciente Ir.Úrsula que, “comandante”do recreio, avisava os horários de pararmos a energia para retorno às salas.
Quanta saudade das filas formadas cantando os hinos brasileiros e o Serviam, da disciplina exigida.
E as Mestras inesquecíveis de minha geração?Palmas para D.Alina Benevides, ainda preservando o mesmo amor pela Casa que a acolheu. Aplausos para Sônia Cardoso, Elnita Motta e Cyléa Costa Cardoso, agora em outros céus, junto a Hildete Penalva, ex-aluna e ex-coordenadora e tantos outros seres especiais.
Piso no espaço que continua a me emocionar. E vejo o mesmo amor de ex-alunas em todas que ainda freqüentam ali. E testemunho o mesmo dedicado querer de Irmã Georgina, ex-aluna das Mercês que tem uma trajetória bonita no Instituto Nossa Senhora da Piedade, amando a Casa como se ali estivesse estudado, duas vezes Provincial e mais uma vez Diretora do INSP.
94 anos iniciando uma nova etapa, recebendo novos educadores, novas pessoas na equipe com o mesmo propósito de reverenciar a Casa que agora aniversaria.
São 94 anos de bem-querer.

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