domingo, 6 de junho de 2010

UMA MULHER, A SOLIDÃO, O EFÊMERO E A AVENIDA PAULISTA.

O início de uma noite de fim de inverno em São Paulo marcava a sua rotineira função: garoar, garoar, garoar...
Do táxi, a Mulher olhava os transeuntes que percorriam a longa avenida...
Num momento estressante de carros e pessoas, o chuvisco beijava a alma de tantos seres que, passos apressados, tinham compromissos e não podiam parar.
A Avenida, centro nervoso da cidade, já era despedida de final da tarde, iluminando-se em toda a sua extensão, traduzindo a “loucura” de uma cidade que não pára...
Por que tanta pressa?
O que aquela Mulher, enquanto ia para o seu destino, espreitava do táxi, paralisando o seu olhar?
O que a tornou tão pensativa? O transportar pensamentos, abraçar idéias, embalar emoções ou o amparo do seu espírito tão angustiado e extasiado de momentos novos?
O que inibia de tanto silêncio a Mulher, quando a sua alma gritava pelo novo, pelas descobertas feitas e pela vida tentando acordá-la, congelando o seu olhar?
O que ela olhava tanto? O que lhe despertava tanta atenção?Por que as imagens imediatistas daquela longa avenida adormeceram em sua alma aquele momento em que a garoa insistia em permanecer, impedindo-a de andar, andar, andar, lavar o rosto e a alma? O que a fazia estática dentro daquele táxi?
O que a Mulher viu?
Ela viu e conheceu naquele instante único todas as respostas para a sua vida questionadora.
Viu na longa avenida que não pára, numa transversal, uma mulher contrastando com tudo que a Mulher( de dentro do táxi) estava vendo naquele momento e respondia às suas indagações silenciosas: mãos nos bolso do longo sobretudo negro, uma figura feminina iluminava toda a Avenida. Cabelos molhados pela chuva fina, passos lentos, como se a paz estivesse habitada em sua essência, parava, aguardando, no semáforo, o momento de prosseguir.
A Mulher, de dentro do táxi, acompanhou, com o olhar aquele ser sumindo na Avenida, na longa Avenida da cidade que não pára, sozinha, com seus lentos passos (que divergiam dos outros seres apressados), introspectiva figura, numa solidão tão linda e num momento único que, sem saber, havia mostrado à Mulher que espreitava do táxi, o efêmero da vida!
Emocionada, guardou aquela imagem.
Mas, a feminina figura solitária, mãos nos bolsos do longo sobretudo negro, que caminhava com passos lentos, ficou guardada para sempre n’alma da Mulher que, de dentro do táxi, olhava os transeuntes que seguiam seus destinos na grande Avenida da cidade que não pára.

Ana Virgínia Santiago

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