sexta-feira, 28 de maio de 2010

MONÓLOGO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES, NA MADRUGADA DA ALDEIA.


A Casa Amarela, de Van Gogh




Olho uma das mulheres que espiava pela janela, se desligou do mundo drummondiano para passear pelas incógnitas do espaço de Lewis Carroll na toca do coelho. Talvez numa tentativa de, encantada, transformar-se em Alice e constatar que existe um outro maravilhoso mundo. E, assim, quem sabe , ser um pouco feliz.

Observo-a e sinto-a triste, num desencanto de alma, numa desencorajada vontade de prosseguir pelo caminho que escolheu em nome de afetos e das gentes que povoam seu mundo vivencial e precisam de sua vida.

O que a faz tão solitária e ausente? O que a macula de forma tão profunda, que seu semblante desnudado agora está sem luz?

Vim da última viagem dos sonhos, agarrando de forma lúdica as lembranças que me energizam e fortalecem a minha tarefa de limpar, limpar, apagar, apagar e deixar limpos lugares e pessoas...
Com a nítida imagem do sentimento que, mesmo pela sétima arte, me inebria de esperanças e crença no bem-querer, esbarro com o antônimo de tudo que usufrui, ultimamente.

A mulher, minha amiga , que antes espiava o mundo pela janela, restrita aos raios solares recebidos pelas frestas iluminadas, aos poucos, foi desamarrando os elos que acorrentavam suas vontades e, acredito, com ânsia de liberdade, foi rápida demais em suas descobertas. E conheceu uma das temidas armas humanas: o desencanto de viver , pela indignidade.

O que a faz tão só e com apenas lampejos de felicidade paridos nos momentos fugidios do amor incondicional e inalterável? Por que não olham aquela mulher que precisa ser vista? Quem cegou a visão de quem convive com ela para nada ver?

Vim da minha última viagem dos sonhos... Alimentei a minha existência de utopias que me ajudam a viver. Olho minha aldeia com tanta dor pelas dores recentes, pelas mortes inevitáveis e inúteis; pelas irresponsabilidades jovens que não entendem a verdadeira função da vida. E sinto necessidade premente de higienizar muitas mentes, muitos seres que antes seriam especiais e que hoje passeiam pela rua da decepção e ,por enquanto, evito pisar, limpar, limpar... Para não poluir nem contaminar a minha alma cheia de alegrias.

A mulher que vagueia triste pela aldeia e deu as mãos à maturidade, ainda fica pasma pela inconsistência de atitudes de alguns. Parece-me que isso é um motivo por deixá-la tão entristecida e questionar como pode anos de convivência ser apagado da memória, desafiando as ações de pares e fixar-se em recente conhecimento por interesses pessoais?
Como dizer à mulher, sem magoá-la, que atitudes humanas normalmente fogem ao entendimento de quem vive em outro patamar? Que as ações escondidas são fortalecidas pelos sub-reptícios botes de messalinas que passeiam por ruas, becos, salas climatizadas, locais profissionais, assembléias específicas ou botequins nem sempre limpos?

O que falar para ela? Que escuto conversas de pessoas que me explicam a inexplicável desculpa das traições? Que se arrependem de atos que lhe usurparam o sossego e a harmonia de escolha antiga e que desmoronou?E que não são poucos?

Despeço-me da mulher e passeio meus olhares para as outras pessoas que vão chegando aos seus pontos de chegada. Quantas daquelas não estão com o pensamento idêntico ao dela,( que, por opção, saiu do mundo de Drummond) e que agora dividiu comigo?

Vou em busca do mar, do encanto bonito das ondas que embalam os pensamentos.
Espero a mudança de passadas erradas em prol do sossego do afeto.
Sinto a necessidade de buscar o alazão que transporta os alados seres com destino a Vênus e Centaurus,numa busca de fortalecimento para o que acredito.
Porque o sol anima os corações e na minha aldeia a luz continua a insistir mudanças...

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