quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A UMA PEQUENA GRANDE MUILHER QUE NÃO ENCONTRO MAIS...



Busco os seus olhos e não encontro a energia que me influencia até hoje e sinto saudades.
Perco-me no seu caos que agora transmite ao meu silencioso tormento, os borgeanos labirintos que, fatalmente, lhe encaminham ao proustiniano mundo perdido de Alzheimer.
Fujo de suas passadas, pequenas e incertas, como se estivessem queimando a minh’alma. E curvo -me diante da minha covardia por não ser forte e alicerce para você.
Pergunto ao meu coração:

Que imã a direciona ao alazão etéreo que sobrevoará as nuvens do esquecimento e lhe puxará mais e mais para longe de todos nós e nos impede de podar as asas dele e trazê-la de volta?
Que são os pensamentos conturbados que bailam em sua mente agora diante da grandeza da vida, que nos embalou por tanto tempo, que nos ensinou o Ser, com palavras e pulso fortes, sendo a Guardiã de todos e de tudo para que o nosso Homem de Bem buscasse subsídios para nossa vida?
Que são as frases repetitivas e incansáveis, os desconhecimentos de tantas rotinas , os rostos esquecidos, os nomes trocados, as imagens destorcidas, diante do sentimento grandioso que lhe apossou de duas gerações e deixou marcas profundas?

Fujo de você, Pequena Grande Mulher que não encontro mais, porque seu cérebro resolveu adormecer para não sofrer e me dá um sofrimento imenso!
A angústia que sinto diante de sua fragilidade me leva para longe, (superficialmente dando a noção de ser ingrata), cravando nos meus pensamentos e no meu sono que não chega,noite a noite, as lembranças, a gratidão de ter abrigado e amado, sem limites,a infância de meus dois filhos para que eu pudesse voar profissionalmente, as ações generosas com todos e as vontades reprimidas de gritar, momentaneamente, a rebeldia de não entender o seu momento atual.

Que sentimento esculpido em aço lhe abraça e lhe embala, Pequena Grande Mulher, que nem o mundo maldito de Alzheimer, a deixou esquecer o companheiro de mais de sessenta anos na caminhada da vida e, sofrida, o aguarda dias e noites, perguntando -se o que o fez fugir, a quem responsabilizar pela ausência do amado, o porquê dele nunca voltar...
Que mãos poderosas lhe levaram para o passado e recriam momentos, pessoas e nomes tão nitidamente que, às vezes, me faz pensar que acordou do sonho que tanto me magoa!
Que seres a protegem e impedem de retornar à realidade que tanto lhe fará mal?

Em eterna busca de respostas ( mas, já sei quais, meu Deus!), agacho meu ser macerado e doido pela saudade de quem tanto lhe amou e tento uma cumplicidade com o tal alazão que lhe leva para longe,porque é preciso sonhar, encontrar afinidades com o seu novo mundo , o mundo particular dos sonhos,para não sofrer tanto.

É preciso sonhar, sonhar, levitar, levitar nos pensamentos, até atingir a plenitude que você, pequena Grande Mulher atingiu.
Só assim reconhecerei o pacificado patamar de minha finitude para entender que você, em breve,não saberá mais quem eu sou,mas, eu, eternamente, saberei quem é você!

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida... ah! se pudessemos ir aos pensamentos alheios e lê-los, traduzi-los e decifrá-los...
Linda sua crônica...
vou voltar para ler o restante.
Beijos,
Cida Flores