quarta-feira, 10 de agosto de 2011


A VOLTA À ALDEIA

A “Mulher que em outros tempos espiava pela janela” retornou de sua longa viagem do mundo drummon(d)iano para apascentar suas idéias na aldeia que lhe faz bem e que abriga tantas outras pessoas. Parou num porto que existiu um dia e, tamanho marasmo, sentiu medo que o destino da mulher de Lot petrificasse as vidas que por ali estavam, destituindo-as da alegria que sempre caracterizou a aldeia... .
Num certo lugar que tantas vezes foi feliz sentiu a falta de pessoas que foram de seus afetos e não mais existem no complexo mundo anímico, e, porque “a vida bate à sua porta” (como já anunciava Gullar) Ela tentou expulsar as adversidades passadas e maceradas para encontrar ,mínimo que fosse, um ponto pacificador.
E sofreu as dores do desencanto e do desamor, porque entendeu que muitos ainda adormeciam na imaturidade.

Quanto tempo que não andava por aquelas ruas, que não subia algumas ladeiras, que não via aquelas praças!
Quanto tempo que não via seus afins!

Ela - a mulher que em outros tempos espiava a vida pela janela,caminhou pelas ruas, reconheceu alguns rostos, fechou os olhos para outros e, numa praça tão cheia de histórias, reconheceu a indignidade que toma a forma humana para ludibriar os ingênuos de coração e sentiu piedade.

Quanto tempo que não via os bens públicos, agora, destruídos!
Quanto tempo para voltar à sua aldeia, meu Deus, e reencontrar migalhas afetivas, restos de história, pedaços de concreto que um dia foram referências de administração e bem-querer à aldeia amada...

Ela - a mulher que em outros tempos espiava a vida pela janela,viu de longe, em seu labor, a varrer, varrer, varrer, a Faxineira de Ilusões, que a reconheceu...
E juntas, na praça que foi abrigo de tantos lamentos e conversas entre as duas, reviveram suas vidas, seus contares, seus amores e tantos desamores.
E falaram de amizade, da saudade que corrói a alma quando se ama alguém que se vai para outros céus, são queridos como presença e só podem ser ausência...
E a Faxineira falou de suas angústias em não ter mais tempo para polir e incensar porque a rotina de sua vida é eliminar ações malfazejas, olhares invejosos, incinerar desejos nocivos e limpar, limpar, limpar, colocando nos monturos os lixos que recolhe para não obstruir as ruas, as praças, as casas, os homens e mulheres dali.

A volta à sua aldeia deixou a “Mulher que em outros tempos espiava pela janela” numa tristeza profunda porque,após tanto tempo ausente de sua terra e de suas gentes, não viu mudanças que fazem sorrir, construções que mereçam aplausos nem contares que transmitam orgulho.

Poucos.Poucas. Algumas...

Caminhando com a Faxineira de Ilusões Ela saiu em busca do que ainda restava de bom naquele território tão seu conhecido,porque, tinha certeza, ainda podiam ser encontradas as almas boas, as humildes pessoas que preservam a dignidade como um bem maior e enxergam no outro o reflexo de Deus sob diversas formas. (19/2/2011)


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