terça-feira, 23 de agosto de 2011

A FAXINEIRA DE ILUSÕES E A SAUDADE.

Porque retornou à sua terra e a queria reconstruída em seus bens e homens públicos, a Faxineira andava pelas ruas, reencontrando pessoas, revivendo lembranças, ouvindo opiniões, refazendo emoções, embalando memórias...
Queria amenizar suas dores causadas pelos erros que cometeu e pelas esperanças enxergadas em alguns seres que não existiam, buscando sonhos que deixou adormecidos para não perecer.
Porque acreditava em quimeras, apesar de pisarem em sua crença, a Faxineira reestruturava seus castelos anímicos, porque ainda precisava ver algumas construções.
O que a deixou tão pensativa e tão triste, pois olhava para o infinito com a nítida sensação de melancolia?
Por que algumas palavras pronunciadas,voavam, voavam para outras nuvens e pousavam traduzidas de forma diferente?
Porque sentia falta do alimento que conduz as ações da alma, ela buscou lugares queridos, que lembravam das gentes do seu lugar.
E sentiu saudades...
Saudades intensas e imensas.
Saudades de momentos que lhe deram respaldo para os sonhos.
Saudades de tantas ausências permanentes.
Saudades de suas gentes, mesmo presentes, inspirando saudades.
E como sente saudades!

Porque retornou à sua terra, a Faxineira procurou sua memória, suas lembranças de infante, suas amizades. E sentiu saudades...
E, mais adiante, encontrou a drumoniana “Mulher que Espia pela Janela” e depositou a sua tristeza ao canto, para ouvir os lamentos da feminina presença, que sempre lhe acolheu como conselheira.
Por que tanta dor, meu Deus? Por que tantas lacunas na alma daquele ser encantado que sempre acreditou no sentimento que dignifica e, décadas depois, ouviu um verbo que, conjugado no passado, traduziu tudo que nunca pensou ouvir?
Por que se leva tanto tempo para a descoberta de que o que “não existe, a-c-a-b-o-u”?
Quanto paradoxo, meu Deus!

Porque retornou à sua terra, a Faxineira buscou respostas... A “Mulher que Espia pela janela” explicou suas maceradas angústias e seus desejos de, também voar, ampliar seus horizontes de visão, atravessar nuvens, sobrevoar céus distantes, pousar em montanhas apaziguadoras, exercendo a poderosa função de uma águia e renascer como a vitoriosa Fênix. Simplesmente para esquecer o que lhe aperta o coração e lhe faz morrer a cada dia...
E, silente, a Faxineira ouve e sente a dimensão daquela dor.
Por que tanta saudade escancarada na expressão daquela Mulher que, calada, espia a vida pela janela, sem vontades, sem poder de ação, sem ação para falar o que quer e gosta, tolhida na mais bonita opção de ser, depreciada em sua prisão áurea, que a acorrenta com elos , supostamente afetivos, alicerçados na traição?
Por que ela sente saudades de um ser tão especial à sua vida , que à sua frente, já se despe do lúcido para voar para o etéreo?
Por que tantas lágrimas pela saudade de outro ser, tão forte em sua história, tão grandioso em seu chão, que não pode mais lhe ouvir, lhe ser muletas, atender às suas mãos em eterna forma de concha e amparo em sua solidão?

A Faxineira quer limpar tantas sujeiras das ruas e de ações que deturpam! Aspirar tantos desenganos, aspergir água ns desgostos para aplacar a dor daquela Mulher que guarda, em silêncio, suas palavras que poderiam ser ditas, seus projetos que são desacreditados, sua vida que em cantões distantes é tão aplaudida.

Porque retornou à sua terra, ela precisa alimentar a alma tão cheia de memórias, tão acalentada por lembranças que lhe fizeram o dúbio ser- ave-mulher, que lhe transforma em momentos de alegria e cansaço, leveza e torpor, paz e a leve sensação de vôos.

Ana Virgínia Santiago

Obs: Texto de 13.09.2007 ...

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