segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O VOYEURISMO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES

Após um grande descanso, retorno ao meu trabalho.
varrer...aspirar...limpar...polir... banir...
Sou uma faxineira! Faxino ilusões para transformá-la em vontades realizáveis.
Volto à casa que me dá condições de entender muitas coisas da vida, de enxergar tantos fatos que nem pensava existir...
Quem é essa mulher que reencontro num ambiente tão meu conhecido, que escreve,olha fotos,relembra, chora, sorri, fica triste, fala(escrevendo!!!) com seres invisíveis, consegue colocar vivas, algumas mulheres-poetas que já se foram através de diálogos imaginários e continua com a mesma essência na alma, com o mesmo amor incontido e encantado?
Por que está lendo...lendo...lendo uma única frase: “a bordo de sua vida, me fiz um passageiro eterno” e conversa com uma Menina, que não consigo enxergar?
Que força invisível envolve essa mulher que não consigo ver com quem ela fala?
Escuto...Perscruto...Enterneço o meu coração de mulher sofrida e de mãos calejadas pelo trabalho e espio pela porta de seu canto preferido...
Com quem ela conversa? Por que desabafa tanto para quem não vejo? Quantas interrogações a escondem de mim?
Quem é a menina que a ouça tanto chamar?
Sou faxineira...Mas, preciso saber.
Sou faxineira, mas...
...Como é que posso varrer... aspirar...limpar?
...Como é que eu posso sair varrendo desesperanças, limpando dores anímicas, aspirando saudades insuportáveis que modificaram essa mulher que eu espio?
Quem é essa Menina?Que encanto tem, para “prometer” à lua tantas coisas?
Quantos enigmas preciso decifrar para poder entender essa mulher que agora não conheço mais?
Sou faxineira...
Preciso varrer... Limpar... Enxugar.
Mas, é preciso escutar, escutar, escutar!E ser “voyeur”...
Como ser faxineira, se não posso limpar sentimentos, abrandar a solidão e a saudade que se agigantam no coração dessa mulher?
Como?
Se tudo que a alma abriga, requer cuidados especiais só possíveis, para quem tem permissão e são apenas dois? Se presencio a mulher que fala com uma Menina e sente um amor grandioso, capaz de sobrevoar a capacidade humana e faz do sofrimento a força necessária para prosseguir?
Como ser faxineira, se não posso banir o que aflige tanto essa mulher?
Escuto, ouço o diálogo (imaginário? real?) dessa mulher com a menina que não vejo...
Quem é você, menina, que um dia lhe contou a história da ludicidade do amor e hoje foge de uma verdade tão latente, deixando sinais de saudade, dor e angústia e deixa a mulher no caos?
Em que mundos se situa a sua essência, que teme o descontrole de um sentimento tão grande, que reconstrói e refaz a alma?
O que lhe angustia?
Por que não descansa na perenidade desse querer e deixa as turbulências assentarem, os dias (mesmo que, no momento, esteja com desesperanças) passarem, pois está respaldada na poesia que chegou e, então, aguardar novas fases?
Onde está, que esquece tudo que leu, as promessas feitas sob e sobre a lua e dilacera um coração?
Por que insiste em se esconder de sua vida que lhe pede um pouco de atenção e tem forças para lhe reanimar?
Quem é você, menina? Cadê a branca-de-neve de Gullar, que não escuta o recado dele e de mais alguém? “A vida bate”, como diria o poeta alagoano.
Em que lugar está adormecida, que não escuta as próprias palavras sobre o último momento de entrega absoluta?
Como fecha os olhos para não ver Vênus?
Como esquece da declaração que fez à lua, dela ser a sua esperança de reencontrar o que lhe foi negado durante toda a sua caminhada?
Quem é você, menina?
Por que deixa ficar triste essa mulher que tanto lhe protegeu?
Como ser faxineira, se não posso limpar as dores dela que chora saudades diferentes e sente a lancinante dor da solidão destruindo suas entranhas?
Preciso retornar ao meu trabalho, fechar a porta que me lançou a um mundo de poesia e utopias para não perecer.
Preciso varrer...aspirar...limpar...polir... banir...!

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