quinta-feira, 6 de novembro de 2008

MONÓLOGO DA MULHER QUE ESPIA PELA JANELA

Eu vivi o milagre do amor. Ele veio pelas frestas iluminadas que me direcionaram por muito tempo e respaldaram o meu coração para as dores que agora sinto.
Eu conheci as alegrias de sorrisos iniciantes, passadas incertas, palavras nascidas, olhares inebriando o encantamento que só quem o conhece sabe a dimensão do sentimento.
Eu vi as pessoas ao meu redor mostrando as diversas facetas da capacidade de ser anjos e demônios, alicerçando a minha consciência dos contrários.
Eu andei por terras que me acolheram e confirmaram a existência do respeito e da amizade.
Eu senti a vida nas ações de estranhos e o desamor nas mãos de afins.
Eu vi a insensatez tomando conta de um ser que era tão especial e que me confirmou a presença da morbidez.
Eu vi tantas coisas, amei tantas pessoas, senti tantas dores, levantei tantas vezes do poço que me empurraram!
Eu sobrevivi ao ato da traição, sendo amparada por mãos que agora não mais se abrem, porque sofreu mutações,porém, naqueles momentos era o anjo que o meu coração necessitava.

Eu vivo a alegria da vida pela presença de uma Energia que me dá forças e que me diz que ainda existe o sentimento amoroso. Ele vem sob a forma de olhares, atitudes, bálsamos par as dores anímicas que tanto me atormentam.
Eu conheço o que perdi pelas imagens preservadas e gravadas dos sorrisos que iniciaram a minha maternal alegria, pelas miniaturas coloridas que foram guardadas para( re)lembranças de décadas passadas, pelas palavras escritas e eternizadas, pelo olhares iluminados ainda existentes em que passou por minha existência e habitam em outras terras.
Continuo identificando pessoas que afagam e esbofeteiam, sorriem e fazem chorar, mostrando as faces do livre arbítrio.
Permaneço com o meu mundo vivencial eternizado pelas lembranças de quem me amou e me respeitou, traduzindo a amizade com gestos e ações.
O meu coração fica estarrecido vendo florescer afins que são desumanos, novas passadas que já se mostram íntimas e machucam quem já habitava em passados de história e vida.
Eu choro a dor da perda de quem ainda vive, a ingratidão ampliando a minha solidão.
Eu fujo de uma realidade que está doendo no âmago do meu ser.Resisto à real situação de olhar quem era visto com outros olhares e vive de costas para o meu sentimento.
Eu sou a Mulher que espia pela janela para não perecer. Vivo no mundo drummoniano para despir-me do sofrimento,porque evito que minh’alma fique mais macerada.
Sou a Mulher que espia pela janela numa forma de preservar a minha essência que são muletas para a minha existência.
Vejo uma outra Mulher, que abriu portas, escancarou janelas, cuidou de vidas, agora, transformada em silêncios para ouvidos tapados, olhos cerrados, lábios fechados e ações deturpadas. Ela é o meu espelho borgeano, que me esconde nos labirintos para refletir sobre o meu futuro.
Personifico a decepção ao ver quem não enxerga o que está tão palpável, tão claro, tão explícito e esquece de ouvir e escutar...
Sou as mãos que vivem em conchas para não perder a fé, a Mulher que acredita no que não se vê, mas, existe e encontra colo para os encantos de seres que acalantam minhas esperanças e enxugam minhas lágrimas.
Sou a Mulher que espia pela janela e vê na aldeia que me abriga as constatações das causas e efeitos,verdadeiros ensinamentos vitais.
Eu vivo o que visualizo pelas réstias de luz das janelas da vida, que estruturam a essência do que eu sou hoje.
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