quinta-feira, 24 de julho de 2008

A FALTA QUE ELE JÁ ESTÁ FAZENDO...


(Para José Augusto Berbert de Castro)

Ele precisava descansar? Ou será que não? Não dava para ficar um pouco mais?Por que sempre “batemos de frente” com a tal certa e indesejada morte? E questionamos e ficamos sem entender?Por quê?
Eu contesto hoje uma despedida doída, o adormecimento de um homem encantador e inteligente que tinha apenas 82 anos...Um homem com toda a vitalidade intelectual que, desde 1956, presenteou os fiéis leitores do jornal A Tarde, com verdadeiras aulas da sétima arte.
Tive uma relação interessante com José Augusto Berbert,porque o admirava desde a adolescência, absorvendo seus artigos como alimentos anímicos sagrados( o que me moldou o gosto e amor pelo cinema), recortando seus artigos, sorrindo com suas polêmicas, aprendendo, aprendendo, aprendendo e aplaudindo a sua escritura como um bem precioso para o meu coração. Sempre distante, sem conhecê-lo pessoalmente, mas, amando o ser que habitava naquela alma cheia de talento para ensinar. Uma adolescente que “sonhava” encontrar pelas ruas em Salvador o guru que lhe ensinou a amar o cinema.
E entendia o médico que passou por cima das teorias para lidar com os monstros sagrados da Meca do cinema.
E fui passando por etapas etárias, absorvendo tudo, embevecida pelo que me chegava. Aprendendo a ver o efeito da iluminação de cada cena, entendendo o papel da música numa película, conhecendo os grandes ícones do cinema que ele, Berbert, me apresentava com tanta sabedoria,o que me deslumbrava.
E fui acompanhando a sua trajetória, evoluindo e criando a famosa polêmica com o Grupo Gay da Bahia, passando por cima de tudo, criando arestas com alguns por isso, porém, fortalecendo a imensa legião de fãs que não deixarão de lhe admirar, agora, que foi descansar.
Anos depois, em plena maturidade, fui agraciada com um presente maior: almoçar com José Augusto Berbert!Vê-lo, conversar sobre a sua importância na minha formação cultural, sorrir com suas encantadoras crônicas e falar da minha admiração por ele.
Um dia, há pouco tempo, veio a Ilhéus lançar o seu livro Cine Maracangalha, uma maravilha para ler. E fui premiada por minha querida amiga Vitória, a um dia especial, almoçando com ele.
E como foi prazeroso estar com José Augusto e presenciar mais uma qualidade linda: o seu amor por Lícia, o entrosamento e a sintonia entre os dois.
Conversamos muito, relembramos de crônicas inesquecíveis( inclusive a que fez para irmã Dulce,falando de sua descrença pelo Ser Divino( e sorriu muito), de idéias afins, do prazer que me dava com a leitura de seus livros e de seus textos.
Dias depois, recebi em minha residência, um presente maior: seus outros livros autografados, com dedicatórias que me emocionaram.
Agora, não mais terei a gratificante oportunidade de lê-lo no Caderno 2...Ele precisava descansar...Será? Precisávamos ficar órfãos de José Augusto Berbert, agora?
Por que será que as pessoas questionam a morte, se ela é tão certeira? Com as perdas que venho presenciando, sei o motivo.
Porque a alma precisa de presenças para amar,aplaudir, admirar.
Porque as pessoas sentem a necessidade de brincar de eternidade, mesmo sabendo que sejam silenciosas mentiras para enganar a realidade e sonhar com o que querem imortalizar...
Porque as pessoas necessitam de outras, seja para amar, viver, conviver, ensinar, aprender ou aplaudir.
Peço licença para tomar emprestada uma frase de um conto de Gabriel Garcia Marquez ao saudar José Augusto Berbert,, responsável por um pilar de minha formação cultural: “A aldeia nunca mais será a mesma” sem ele।
(Em foto by Ramiro Berbert de Castro - Lícia, José Augusto, eu e Vitória Berbert de Castro)

2 comentários:

Faxineira de Ilusões disse...

Vitória Berbert de Castro enviou-me email no dia 02/08:
Ana Virgínia:
Reafirmo o que lhe disse por telefone: sua homenagem a José foi magnifica, me emocionou muito.
Estou mandando sua peça de declaração de amor e admiração , para Ramirinho e Liliane, filhos de José, bem como para o casal Izabel Ceres Araújo Rosa e Emilson Moreira Rosa, pessoas que além de promoverem a publicação do último livro dele,também promoveram aquele lançamento , aludido por vc, aqui em Ilhéus. Em meu nome e nome da família digo: MUITO OBRIGADA!

Vitória

Unknown disse...

Muita bonita a sua homenagem a Jose Augusto.
Fui colega de escola (antiga Escolinha do Parque no Rio Vermelho, depois virou Teresa de Lisieux) de Ramiro Berbert de castro, inclusive ainda tenho foto, e gostaria muito de entrar em contato com ele, voce poderia fazer o favor de repassar o meu e mail para ele?.
Desde já agradeço.