segunda-feira, 21 de julho de 2008

EDITH PIAF POR JEAN COCTEAU

"Permitam-me dizer que a sra Edith Piaf é um gênio. É inimitável. Nunca houve nem nunca mais haverá outra Edith Piaf. Ela é uma estrela que se devora na solidão noturna do céu da França. É ela que contemplam os casais abraçados que ainda sabem amar, sofrer e morrer. Como será que ela canta? Como se expressa Como tira do peito magro os grandes lamentos da noite? E eis que ela começa a cantar ou, melhor, que, como faz o rouxinol de abril, ela ensaia seu canto de amor. Uma voz que sai das entranhas, voz que a percorre dos pés à cabeça, desencadeia uma enorme onda de veludo negro. Essa onda quente nos submerge, atravessa e invade. A magia está feita. Edith Piaf, como o rouxinol invisível pousado no galho, vai também tornar-se invisível. Dela só restarão o olhar, as mãos pálidas, a testa de cera que concentra a luz, e a voz que infla, sobe, sobe, pouco apouco a substitui e, crescendo como sua sombra na parede, toma gloriosamente o lugar da menina tímida॥ Nesse minuto, o gênio que é a sra. Edith Piaf torna-se visível, e todos o constatam. Ela se supera. Supera suas canções, supera a música e a letra. Ela nos supera. A alma da rua penetra em todos os quartos da cidade. Já não é a sra. Edith Piaf que canta: é a chuva que cai, é o vento que sopra, é o luar que estende seu manto"
Jean Cocteau

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