sexta-feira, 2 de setembro de 2011



A CHUVA E A FAXINEIRA DE ILUSÕES QUE CONVERSA CONSIGO MESMA.

A noite adormeceu com o canto da chuva e acordou na manhã com chuva fina, insistente,benfazeja para uns, preocupante para muitos,mas, água que banha, que limpa, que leva e que pode destruir o que não foi alicerçado de forma correta.
Aguardando o momento de ir à labuta,observo e penso...
A chuva continua sua trajetória da noite...Leve, quieta , inalterável.
Chuva que anuncia tantas coisas... Pode desencantar a alegria d’alma, desarmonizar o estado de espírito,mas, arauto de novas realizações.
A vida continua a sua trajetória. Amanhece como o dia com suas sucessivas formas nas vinte e quatro horas que traduzem mutações; anoitece como a noite que nos acolhe, que abriga tantas histórias e desencantos, tantos contares de encontros e desencontros das perguntas sem respostas e ainda dos recados silenciosos que choram e sorriem...

A vida dá as mãos ao pensamento que voa, ultrapassa a velocidade da luz e descansa na etapa consciente de que sonhos nunca são reais, nunca foram e jamais serão!
Ou não?! O País do Nunca não foi recanto eterno de Peter Pan o menino que não queria nascer?Michael Jackson não viveu entre a imensidão da Neverland, a Terra do Nunca?
O nunca faz parte de todos nós que, ousados, acreditamos no antônimo do sempre.
Ver a chuva induz o pensamento aos questionamentos, ao querer respostas para o que intriga e faz perecer. Ela inclusive, a depender do estado de espírito, faz o ser ficar encantado e com vontade de cantar e dançar as alegrias que lhe chegam como realizações.E como são boas as realizações!
A chuva e a vida são siamesas...O sempre e o nunca, também.
Tomo para mim neste instante o significado da dualidade.
A manhã e eu, reflexões sobrevoando o meu coração, desafiando as Leis Maiores a favor dos desencontrados desejos que permeiam a minha vida.

Sou Faxineira,limpo sonhos inadequados, dou brilho aos que podem ser reais e aspiro recordações nefastas... Varro todos os sentimentos que magoam, transformando-os em sublimes companheiros, que darão sentido aos fragmentados corações.
E dentro de minha função preservo os pensamentos, dando-lhes brilho e vigor.
Daqui a pouco a chuva pode aumentar ou permitir que o sol saia do seu sono e abra os seus raios luminosos para aquecer e, de dentro da espaço que me abriga, permaneço fazendo comparações.

A vida é isso... Água que abençoa,que limpa e faz bem. Torrentes que podem destruir, ensinar e ou fortalecer quem precisa aprender.
Pode ser a tarde chuvosa que se prepara para o anoitecer com abrigos para não dar guarida ao frio.Mas, também o anoitecer que recebe o seu leito de amor preparado pela tarde que precisa descansar.
A chuva e a vida. A chuva é a vida!
Observo os pingos d’água que caem do telhado e como eles se transformam em círculos renascidos sob outras formas. A vida é isso.Mutações e busca de formas que possam ser adaptadas ao seu momento.
A vida é a chuva que vejo caindo, agora, levinha,mas persistente chamando a atenção para a sua presença , para não ser esquecida, para ser respeitada...

Ergo os olhos e estampado diante de minha admiração o céu mostra o seu poder e a sua importância.mesmo acinzentado em sua roupa de frio, ele continua poderoso desafiando a ânsia humana que precisa de limites...Nem sempre o homem pode ser ícaro moderno com asas metálicas realizando sonhos de tantos...A chuva e os céus sabem o momento de impor barreiras para ele. A vida é isso...chuva e espaço celeste impedindo os vôos arriscados, a invasão das nuvens pesadas que anunciam riscos e tragédias.

Voando, sonhando e duelando entre o sempre e o nunca, eu, Faxineira de Ilusões, embalo minhas querências e deixo a alma descansar, atentando para a vida que está passando como a chuva que observo e cai baixinho, deixando a temperatura amena.

A chuva segue o seu percurso. Numa sucessão natural como a vida tem a sua no dia a dia e sua regularidade: nascer, crescer, ser plenitude e declínio( adormecimento) em preparação ao renascer e viajar para as estrelas.
A chuva continua... Leve, quieta , inalterável, até o seu ciclo terminar.
Ana Virgínia
3/9/2011
Ilhéus-Bahia

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