sábado, 6 de dezembro de 2008

OS DEVANEIOS DA MULHER


(Muchacha de Espalda- Salvador Dali)



Ela percorre os seus devaneios, mais uma vez. Tenta buscar o ponto nevrálgico que a levou a um precipício vital, fazendo com que os seus passos, cambaleantes a guiem para o caos.
Porque tinha ternura nas intenções de felicidade e seus sonhos caminhavam de mãos dadas com a alegria e as vontades concretizadas, Ela procurou respostas.
Porém, o silêncio que, impenetrável, marcava a sua irrefreável voracidade em torturá-la,calava as respostas e como uma nevasca torturante,gelava a sua alma,petrificando-a em suas angústias.
Ancorada na maturidade que lhe embala nos braços, Ela vai, como Penélope na espera ulisseana, tecendo uma inacabada esperança como forma de sobrevivência para não perecer.
Aquela resposta ansiada não lhe chega e Ela, enlouquecida pelas saudades do que não teve mas sabe que existe, numa interminável espera, aconchega no coração a Menina que lhe fugiu da vida e de sua história pensando que cresceu, numa utopia estúpida e incoerente, mas,protegida por quem lhe dá colo, braços abertos e mãos em aplausos.
O que ninguém entende é que Ela não quer a Menina sob o seu jugo e sim a alegria compartilhada e o riso solto, que ecoava pelos espaços e por seu coração.
Os devaneios dançam em sua mente e Ela vislumbra uma luz, como no túnel de Kurosawa, que toma uma dimensão magnífica e se materializa em harmoniosa e melódica canção. Então, pela única vez, o sorriso acaricia a face Dela,porque um Menino encantado e que ainda lhe dá esperanças vem ao seu encontro e lhe fala de vida e de renascimento.
A Mulher que alimenta os devaneios anímicos para saciar sua essência, assustada, na manhã que se inicia, vê operários dormindo na calçada pelo labor da noite que os exauriram e fica emocionada. E continua sua rotina de acordar, agradecer, seguir,observar, ver, e, às vezes, chorar pelas indignidades alheias que chocam, por serem inesperadas e inexplicáveis. E Ela pára e reflete sobre as ações humanas que magoam e maceram para sempre. E chora, mais uma vez.
Porque seus devaneios são muletas para a sua vida, Ela recosta o coração no anjo que lhe guia e pede proteção, porque está sem forças.
A vida desmorona para Ela,porque procura entender o que acontece no íntimo das pessoas para serem transformadas em robotizadas lições de improbidade e desrespeitos, sem tomarem consciência de quem é tão simples viver, usufruir do casulo que é criado em nome de amores.
Mas, sempre renascendo pela coragem de enfrentar a vida, Ela caminha sob a orientação do sol,porque o dia estimula ao querer mudanças,ao aceitar reações que estão na contramão de sua essência e de suas idéias e ao respeitar as incontáveis diferenças.
Porque desacreditou em muitas convivências, que lhe viraram as costas, Ela tenta apanhar com as mãos os respingos de luz que vão saindo da fresta da janela. E entende que é chegada a hora da hibernação...
E fecha as portas e cortinas e descansa na solidão do espaço que lhe emprestaram para viver.

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