terça-feira, 29 de julho de 2008

Caiu a ficha!!!!Libertango e a antecipada saudade que vai chegando de mansinho estão perto de mim.

Dia chuvoso, céu nublado, tudo propício para pensar...Ouço "Libertango", com Piazzolla e faço reflexões de minha vida, lembrando-me quando fui apresentada, em plena adolescência, ao “ homem” do bandoneon , que me transmitiu tantas emoções e me transportou para outros céus, que não os baianos. E me fiz eterna admiradora dele. Transgredir, modificar, inovar...como Astor Piazzolla fez bem.Criou arestas,pois modificou o tango em suas raízes, dando as mãos à influência do jazz. E foi criticado pelos tradicionalistas. E foi desprezado por tantos,porque pensou e sentiu de forma diferente a música que amava... Argentino, precisou exilar-se em Paris e, lá compôs inúmeras maravilhas, saídas do seu universo anímico e do bandoneon, colado ao coração exausto de sofrimento e saudades de seu país. Fecho os olhos para ouvir melhor "Adios, Nonino", uma homenagem que fez ao avô.E fico emocionada,porque, quem tem afetividades, sabe o que ele quis falar através de ritmo, hamonia,melodia. Retorno aos acordes de "Libertango" e libero minha essência para a divagação e sinto tanta tristeza, que meu coração, assustado, questiona. Por quê?
Por que tanta insanidade no sentimento que fica sem limites, abre as asas e desinibido, exaure-se e entra no estágio de desconstrução?
Por que um sentimento tão profundo exerce o dúbio poder de desarrumar o meu coração?
Como sentir saudade que é triste,mas, ao mesmo tempo, alegre?
Em que momento enfrentei os labirintos do meu ser para enxergar o meu eu diante do espelho borgeano , abrir horizontes e sorrir?
Paro, reflito e descubro o motivo da entristecida vontade, que meu coração tanto induz à saudade e me embaralha na alegria.
Estou sentindo saudades, saudades novas, que antecipam a minha lacuna afetiva,porque Libertango remete-me a uma fresta iluminada, que, daqui a alguns dias, estará numa terra em que uma americana águia branca convida ao voar, voar, voar, voar e faz crescer, ampliar, dimensionar todos os projetos que requeiram lutas, certezas e amor, muito amor, pelo que se faz e se acredita. Percorro um espaço da fibra ótica e certifico o que me angustiava e me certificou da tristeza nova, ao ler uma simples expressão “arrumando as malas!!!”, aconchegando a saudade ao meu coração e expressando tudo que eu me preparava e insistia esquecer,voltando às brincadeiras de infância, de “faz- de –conta”, querendo esquecer que o dia chegaria...A ficha caiu! A saudade chegou,mas, junto com ela, a alegria de ver meu filho indo ao encontro de uma etapa nova, que lhe foi dada por suas crenças e esperanças no sonho que vira real.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

ANIVERSÁRIO DO DIÁRIO DE ILHÉUS

Um abraço especial para a equipe do Diário de Ilhéus, pela perseverança em acreditar num sonho...
Voz diária que luta pela cidade, o querido DI está completando, hoje, 9 anos.
Abraços para toda a equipe!
Um , bem especial ,para Damiana Gomes, a querida Dami !

A FALTA QUE ELE JÁ ESTÁ FAZENDO...


(Para José Augusto Berbert de Castro)

Ele precisava descansar? Ou será que não? Não dava para ficar um pouco mais?Por que sempre “batemos de frente” com a tal certa e indesejada morte? E questionamos e ficamos sem entender?Por quê?
Eu contesto hoje uma despedida doída, o adormecimento de um homem encantador e inteligente que tinha apenas 82 anos...Um homem com toda a vitalidade intelectual que, desde 1956, presenteou os fiéis leitores do jornal A Tarde, com verdadeiras aulas da sétima arte.
Tive uma relação interessante com José Augusto Berbert,porque o admirava desde a adolescência, absorvendo seus artigos como alimentos anímicos sagrados( o que me moldou o gosto e amor pelo cinema), recortando seus artigos, sorrindo com suas polêmicas, aprendendo, aprendendo, aprendendo e aplaudindo a sua escritura como um bem precioso para o meu coração. Sempre distante, sem conhecê-lo pessoalmente, mas, amando o ser que habitava naquela alma cheia de talento para ensinar. Uma adolescente que “sonhava” encontrar pelas ruas em Salvador o guru que lhe ensinou a amar o cinema.
E entendia o médico que passou por cima das teorias para lidar com os monstros sagrados da Meca do cinema.
E fui passando por etapas etárias, absorvendo tudo, embevecida pelo que me chegava. Aprendendo a ver o efeito da iluminação de cada cena, entendendo o papel da música numa película, conhecendo os grandes ícones do cinema que ele, Berbert, me apresentava com tanta sabedoria,o que me deslumbrava.
E fui acompanhando a sua trajetória, evoluindo e criando a famosa polêmica com o Grupo Gay da Bahia, passando por cima de tudo, criando arestas com alguns por isso, porém, fortalecendo a imensa legião de fãs que não deixarão de lhe admirar, agora, que foi descansar.
Anos depois, em plena maturidade, fui agraciada com um presente maior: almoçar com José Augusto Berbert!Vê-lo, conversar sobre a sua importância na minha formação cultural, sorrir com suas encantadoras crônicas e falar da minha admiração por ele.
Um dia, há pouco tempo, veio a Ilhéus lançar o seu livro Cine Maracangalha, uma maravilha para ler. E fui premiada por minha querida amiga Vitória, a um dia especial, almoçando com ele.
E como foi prazeroso estar com José Augusto e presenciar mais uma qualidade linda: o seu amor por Lícia, o entrosamento e a sintonia entre os dois.
Conversamos muito, relembramos de crônicas inesquecíveis( inclusive a que fez para irmã Dulce,falando de sua descrença pelo Ser Divino( e sorriu muito), de idéias afins, do prazer que me dava com a leitura de seus livros e de seus textos.
Dias depois, recebi em minha residência, um presente maior: seus outros livros autografados, com dedicatórias que me emocionaram.
Agora, não mais terei a gratificante oportunidade de lê-lo no Caderno 2...Ele precisava descansar...Será? Precisávamos ficar órfãos de José Augusto Berbert, agora?
Por que será que as pessoas questionam a morte, se ela é tão certeira? Com as perdas que venho presenciando, sei o motivo.
Porque a alma precisa de presenças para amar,aplaudir, admirar.
Porque as pessoas sentem a necessidade de brincar de eternidade, mesmo sabendo que sejam silenciosas mentiras para enganar a realidade e sonhar com o que querem imortalizar...
Porque as pessoas necessitam de outras, seja para amar, viver, conviver, ensinar, aprender ou aplaudir.
Peço licença para tomar emprestada uma frase de um conto de Gabriel Garcia Marquez ao saudar José Augusto Berbert,, responsável por um pilar de minha formação cultural: “A aldeia nunca mais será a mesma” sem ele।
(Em foto by Ramiro Berbert de Castro - Lícia, José Augusto, eu e Vitória Berbert de Castro)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

EDITH PIAF POR JEAN COCTEAU

"Permitam-me dizer que a sra Edith Piaf é um gênio. É inimitável. Nunca houve nem nunca mais haverá outra Edith Piaf. Ela é uma estrela que se devora na solidão noturna do céu da França. É ela que contemplam os casais abraçados que ainda sabem amar, sofrer e morrer. Como será que ela canta? Como se expressa Como tira do peito magro os grandes lamentos da noite? E eis que ela começa a cantar ou, melhor, que, como faz o rouxinol de abril, ela ensaia seu canto de amor. Uma voz que sai das entranhas, voz que a percorre dos pés à cabeça, desencadeia uma enorme onda de veludo negro. Essa onda quente nos submerge, atravessa e invade. A magia está feita. Edith Piaf, como o rouxinol invisível pousado no galho, vai também tornar-se invisível. Dela só restarão o olhar, as mãos pálidas, a testa de cera que concentra a luz, e a voz que infla, sobe, sobe, pouco apouco a substitui e, crescendo como sua sombra na parede, toma gloriosamente o lugar da menina tímida॥ Nesse minuto, o gênio que é a sra. Edith Piaf torna-se visível, e todos o constatam. Ela se supera. Supera suas canções, supera a música e a letra. Ela nos supera. A alma da rua penetra em todos os quartos da cidade. Já não é a sra. Edith Piaf que canta: é a chuva que cai, é o vento que sopra, é o luar que estende seu manto"
Jean Cocteau

SEMPRE CECÍLIA...

VIAGEM
A serviço da vida fui,
a serviço da vida vim;
só meu sofrimento me instrui,
quando me recordo de mim.
(Mas toda mágoa se dilui:
permanece a vida sem fim).

terça-feira, 15 de julho de 2008

Glamurama by Joyce Pascowitch

AGENDA:
19 deJulho de 2008.
Gabriel Santiago lança CD com pocket show na Livraria da Vila da Lorena.(SP)

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O DESESPERO DA FAXINEIRA DE ILUSÕES NUMA MANHÃ SOMBRIA



Frida Khalo - "The Earth Itself - (My Nurse and I)

Ausente de seu labor, por um tempo, a Faxineira retornou à sua rotina diária, como varrer pensamentos negativos, aspirar lembranças que fazem mal, lavar atitudes inexplicáveis, espanar a poeira das indignações.
Por sentir falta de sua função que lhe dá serenidade, ela foi em busca das pessoas que formavam as gentes de seu povoado. Passeou pelas ruas e sorriu com a senhora octogenária que lhe passa tantos ensinamentos, conversou com a mulher forte que já passou por várias provações e sustenta outras vidas com o coração e a vida. Conversou com a balconista que atende como se estivesse num paraíso e entristeceu com a ausência de profissionalismo de quem trabalha com o que não gosta.
Continuou a varrer...varrer...varrer!
Ao juntar os restos anímicos de alguns seres, deixados nos monturos, a Faxineira reencontrou uma Mulher que há tempos não via.
E parou para procurar entender o que a modificou , lhe causando tanto espanto. Por que a Mulher perdeu o brilho do olhar que lhe caracterizava como dinâmica e pessoa ávida de construções? Quem a atingiu de forma profunda que lhe deu a desesperança latente, criando a couraça que lhe fortalece para não sucumbir? Quem magoou aquela Mulher?
A Faxineira preocupada, amparou a angústia daquele ser,porque sempre lhe transmitiu esperança, sonhos concretizados, projetos enriquecidos( mesmo que alguém nunca os tenha procurado ver), manuseio com a inteligência e a criatividade.
E chorou pela tristeza que ela lhe passava, porque quando uma mágoa macera a alma é difícil, muito difícil limpá-la, aspirá-la, dizimá-la.
E as duas conversaram e se ouviram... E o que se falou e se escutou não podia ser varrido, aspergido, limpado, só dividido e doído.
A Mulher que falava lamentou e questionou a incredulidade com a sua vida, perguntando à sua razão como se pode ter a capacidade de alguém conviver com outro, desrespeitando a essência, humilhando a presença num espaço convivido, ignorando as qualidades e acentuando e passando a terceiros os defeitos.
O que faz um ser inteligente criar abismos diante da vida que lhe dá tantas alegrias e insiste nas lembranças enraigadas numa infância, talvez com lacunas afetivas e sente o prazer insano de magoar quem lhe acompanha e nunca é enxergado?
Por que não se supera barreiras anímicas para explodir em emoções e sentimentos que fazem bem?
A Faxineira nada responde,porque sua alma está em silêncio.O que falar para ela? Perplexa, diante da Mulher que confessa seus tormentos, sente que uma despedida está prestes a acontecer.
Ninguém pode suportar tanto desamor, tanta anulação por tanto tempo. A Mulher, amiga que reencontrou, já tem elos afetivos desfeitos pelo desamor e desconsideração, já antecipa um outro chamado saudades, que lhe darão asas para voar em busca de uma solidão una, porque precisa terminar o seu ciclo de vida em plenitude.
A Faxineira descansa sua vida, sentindo um peso maior nas costas, como se estivesse carregando o mundo e suas reflexões.
Triste, tenta sorrir para a Mulher que lhe fala e que perdeu todas as suas referências vitais num passe de mágica ou talvez, numa premeditada atitude de outrem para aniquilar tudo que ela tinha de luz.
Como fazer mudanças na vida de quem lhe fala, se não tem respostas para si mesma diante de tanto desespero?
Como varrer mágoas se estão respaldadas em uma historia que ainda deixa em pé a Mulher que escutou?
De que forma espanar as tristezas dela se palavras e ações estão queimando em seu coração e em seus ouvidos?
Jogar fora a audição, a visão e a emoção daquela Mulher para não sofrer mais e mais, se as partículas de energia que lhe sobram são o alimento para ainda continuar?
A manhã sombria angustia mais ainda a Faxineira de Ilusões.Pela primeira vez ela não sabe falar e teve a nítida sensação de ter deparado com o caos.